Os bons e os maus regressos de treinadores do Benfica
Bruno Lage, treinador (Foto: Imago)
Foto: IMAGO

Os bons e os maus regressos de treinadores do Benfica

NACIONAL14.09.202408:46

Riera, Glória, Mortimore, Eriksson e Toni de um lado, Guttman, Wilson e Jesus do outro

Bruno Lage tem este sábado a sua segunda estreia, digamos assim, como treinador do Benfica. A primeira aconteceu a 6 de janeiro de 2019, no Estádio da Luz, para a jornada 16 da Liga: 4-2 ao Rio Ave (treinado por Daniel Ramos, igualmente em estreia, com Matheus Reis, Galeno e Carlos Vinícius no onze), com reviravolta a partir do 0-2, logo ao minuto 20, com bis de Seferovic (27 e 70) e João Félix (31 e 64).

Bruno Lage no banco da Luz no jogo de estreia frente ao Rio Ave (A BOLA)

A partir daí, nos 37 jogos seguintes para a Liga, entre final de 2018/2019 e início de 2019/2020,  nada menos de 35 vitórias, um empate (2-2 na Luz com a B SAD orientada por Silas) e uma derrota (0-2 na Luz com o FC Porto de Sérgio Conceição).  Ou seja, nos primeiros 38 jogos da Liga, nada menos de 109 pontos, média de 2,87 pontos/jogo. Esta média dava para vencer todos os campeonatos da história do futebol português.

A pior fase de Bruno Lage ocorreu entre fevereiro e junho de 2020, com sequência de dez jogos da Liga partida ao meio pela pandemia: sete pontos de avanço sobre o FC Porto à jornada 19, igualdade à 25.ª e apenas dez pontos somados nas últimas nove, com derrotas com FC Porto (2-3), SC Braga (0-1), Santa Clara (3-4) e Marítimo (0-2), empates com Moreirense (1-1), V. Setúbal (1-1), Tondela (0-0) e Portimonense (2-2) e apenas duas vitórias (1-0 ao Gil Vicente e 2-1 ao Rio Ave).

Bruno Lage orientando a equipa na derrota com o Santa Clara em junho de 2020 (A BOLA)

Agora, 20 meses e 8 dias depois desse jogo com o Rio Ave, Bruno Lage terá a segunda estreia, desta vez frente ao Santa Clara (atual 4.º classificado, com mais dois pontos que o Benfica e com o segundo ataque de 2024/2025).

Recordarão os benfiquistas mais pessimistas que o atual treinador perdeu com os açorianos no penúltimo jogo em que orientou a equipa: 3-4 na Luz, a 23 de junho de 2020, com João Henriques no banco do Santa Clara e Fábio Cardoso e Zaidu no onze.

Os mais otimistas, porém, deixando de lado essa derrota com o Santa Clara, pensarão em Otto Glória, Fernando Riera, John Mortimore, Sven-Goran Eriksson e Toni, os cinco treinadores do Benfica que venceram campeonatos na primeira e na segunda passagem.

Estes são gloriosos técnicos do Benfica que foram campeões em mais de uma passagem pela equipa encarnada. Há mais nove, interinos ou não, que saíram e voltaram a entrar, mas sem nada ganhar após o regresso. Vejamos, um a um, os 15 homens que treinaram o Benfica e, mais tarde, o voltaram a fazer.

Eriksson e Toni, dois dos que foram campeões em dois períodos (A BOLA)

O primeiro foi o húngaro Lipo Herczka. Entre 1927 e 1939, ganhou dois Campeonatos Nacionais (1936/1937 e 1937/1938) e no segundo, em 1947/1948, nada venceu.

O segundo na lista foi Ribeiro dos Reis entre 1927 a 1934 e, mais tarde, em 1953. Ganhou um Campeonato de Portugal na primeira passagem e uma Taça de Portugal na segunda (5-0 ao FC Porto treinado por Cândido de Oliveira).

Seguiu-se outro húngaro, Béla Guttmann. Chegou ao Benfica depois de ter sido campeão nacional pelo FC Porto em 1958/1959 e ficou na Luz nas três épocas seguintes (1959 a 1962), vencendo dois campeonatos, uma taça e, sobretudo, duas Taças dos Campeões Europeus (1961 e 1962). Voltaria para a atacar a época 1965/1966, com o Benfica a perder o campeonato para o Sporting por um ponto de diferença (42/41) e a ser eliminado pelo SC Braga da Taça de Portugal (3-1 e 1-4).

Fernando Riera e Otto Glória foram os primeiros a ganhar campeonatos em dois períodos. O chileno (1962/1963 e depois 1966/1967 e os primeiros sete jogos de 1967/1968) ganhou um campeonato na primeira passagem e dois na segunda (o segundo a meias com Fernando Cabrita). O brasileiro (1954 a 1959; os últimos cinco jogos de 1967/1968, toda a época de 1968/1969 e os primeiros 18 jogos de 1969/1970) venceu dois campeonatos e três taças na primeira passagem e dois campeonatos (o primeiro a meias com Fernando Cabrita) e uma taça na segunda.

Otto Glória e Béla Guttmann (A BOLA)

O já referido Fernando Cabrita foi, no final dos anos 60 e no princípio dos 70, o treinador interino por excelência. Orientou o Benfica entre as jornadas 8 e 21 da época 1967/1968, ou seja, substituiu Fernando Riera e foi substituído por Otto Glória. Título a dividir por três, portanto. Na parte final de 1973/1974, substituindo Jimmy Hagan, nada ganhou.

Seguiu-se um nome histórico: Mário Wilson. Primeiro período: 1975/1976. Segundo: 1979/1980. Duas épocas completas. Terceiro período: 1995/1996 (excluindo as primeiras três jornadas, sob comando de Artur Jorge). Quarto período: um jogo apenas em 1996/1997 (entre a saída de Paulo Autuori e a entrada de Manuel José). Quinto período: 1997/1998 (entre Manuel José e Graeme Souness). Venceu um campeonato na primeira passagem, uma taça na segunda e na terceira e nada na quarta e na quinta.

John Mortimore (1977 a 1979 e 1985 a 1987), Sven-Goran Eriksson (1982 a 1984 e 1989 a 1992) e Toni (1987 a 1989, entrando para o lugar de Ebbe Skovdahl; 1992 a 1994, substituindo Tomislav Ivic; em dezembro de 2000 a dezembro de 2001, primeiro no lugar de José Mourinho e depois sendo trocado por Jesualdo Ferreira). O inglês ganhou um campeonato na primeira passagem, um campeonato, duas taças e uma supertaça na segunda; o sueco ganhou dois campeonatos e uma taça no primeiro período e um campeonato e uma supertaça no segundo; finalmente, o português venceu um campeonato na primeira passagem, um campeonato e uma taça na segunda e nada na terceira.

John Mortimore: dois títulos de campeão nacional (A BOLA)

O espanhol José Antonio Camacho teve duas passagens pelo Benfica: dezembro de 2002 a maio de 2004 (entrou para o lugar de Fernando Chalana) e agosto de 2007 (entrou para o lugar de Fernando Santos) a março de 2008 (substituído por Chalana). Ganhou uma taça na primeira passagem, nada na segunda.

Fernando Chalana fez um jogo em 2002/2003 (3-0 ao SC Braga) e dez em 2007/2008, substituindo José Antonio Camacho nos últimos dois meses da época. Nada ganhou. Entraria Quique Flores para 2008/2009.

Quase a terminar, Jorge Jesus. Três campeonatos seis taças (uma de Portugal e cinco da Liga e uma supertaça entre 2009 e 2015 e depois, entre setembro de 2020 e dezembro de 2021, com a pandemia pelo meio, zero troféus.

O último, até ao aparecimento de Bruno Lage, era Nélson Veríssimo: parte final de 2019/2020 (julho e agosto), após a saída de Lage; parte final de 2020/2021(dezembro de 2021 a maio de 2022). Sem troféus.

Jorge Jesus no dia da apresentação no Benfica, em 2009, ao lado de Luís Filipe Vieira e Rui Costa (A BOLA)

Bruno Lage regressa este sábado à competição. Voltará a vencer como Otto Glória, Fernando Riera, John Mortimore, Sven-Goran Eriksson ou Toni ou perderá, como Guttmann, Camacho e Jesus, na segunda passagem pelo Benfica?