Obesidade do desperdício explica anorexia da vitória (crónica)
Samu festeja golo da vitória do FC Porto frente ao Farense (Foto: Grafislab)

FC Porto-Farense, 2-1 Obesidade do desperdício explica anorexia da vitória (crónica)

NACIONAL15.09.202419:04

Entre remates aos ferros, enormes defesas de Ricardo Velho, e perdidas escandalosas, o FC Porto ficou a dever-se uma dezena de golos. Depois da fífia de Otávio, coração nas mãos…

Faltava um quarto de hora para acabar o FC Porto-Farense quando o espanhol Samu, por quem os dragões pagaram uma pequena fortuna e em quem depositam muitas esperanças, entrado 11 minutos antes, marcou aquele que viria a ser o golo da magra vitória portista sobre os leões algarvios. Foi de facto uma espécie de assistência do SAMU (Serviço de Assistência Médica de Urgência), o correspondente espanhol ao nosso INEM, a um FC Porto que já estava a entrar na fase de desespero, tão mal lhe estava a correr o jogo, sem que estivesse, sequer, a jogar mal. Simplesmente, a bola teimava em não querer entrar mais vezes na baliza algarvia. Mas expliquemos os posicionamentos das equipas e façamos a cronologia dos eventos para que se fique com uma ideia mais precisa de um jogo atípico, que a lógica mandaria que terminasse com uma vitória gorda dos donos do terreno e, afinal, estes acabaram a suspirar pelo apito final de Nuno Almeida, dando razões ao Farense para acreditar, na fase derradeira do encontro, que podia sair da Invicta com um ponto no bornal.

Já a usar Francisco Moura como uma das primeiras opções, Vítor Bruno puxou Galeno para terrenos mais adiantados, que lhe são mais favoráveis, deu a Pepê a missão de apoiar Namaso, mandou Iván Jaime jogar da direita para o meio, de forma a abrir a ala a João Mário, e entregou o equilíbrio da equipa a Alan Varela e Nico González. Na retaguarda, estreou Nehuén Pérez (que mais cedo do que mais tarde terá a companhia de Tiago Djaló), além de Francisco Moura. A esta forma de jogar respondeu José Mota com um sistema mais conservador, que embora tenha servido para evitar uma enxurrada de golos, não se mostrou eficaz. Bastará elencar as oportunidades flagrantes dos dragões para que se perceba que a solidez defensiva dos algarvios, vulneráveis, sobretudo, nas bolas nas costas dos defesas, deixou muito a desejar.

Rol do desperdício

O FC Porto acertou com a bola nos ferros aos 3 minutos (João Mário), 12’ (Galeno), 66’ (Nico González) e 71’ (Galeno), Ricardo Velho evitou golos feitos pelo menos aos 12’, 18’, 35’, 40’, 66’ e 72’, e Galeno teve uma perdida de baliza aberta aos 4’.

No meio de tanto desperdício, os dragões acabariam apenas por chegar ao golo na sequência de uma grande penalidade absolutamente desnecessária, mas existente, cometida por Moreno sobre Galeno (48’) e veriam Samu marcar o golo da vitória numa jogada antecedida de uma pisadela que deveria ter sido sancionada com falta. Entre os golos, os azuis e brancos tiveram a deferência de oferecer, através de Otávio, o empate a Tomané, que não se fez rogado, e foi capaz de lançar alguma areia para a engrenagem de Vítor Bruno. E quando é que se viu essa intranquilidade?

Sobretudo no último quarto de hora, quando José Mota decidiu refrescar o ataque, especialmente o lado direito, o que obrigou Vítor Bruno a mexer nas alas e a deixar a sua equipa desconfortável. Foi o pior período portista que, depois de ter podido aplicar aos algarvios uma goleada das antigas, ficou sujeito a um remate de meia distância ou a um lance de bola parada que voltasse a empatar o jogo. Aliás, a partida viria a terminar de forma caricata quando, à entrada da grande área do FC Porto e em ótima posição para visar as redes à guarda de Diogo Costa, Poveda e Neto se atrapalharam, quiseram rematar os dois, o perigo gorou-se e o Estádio do Dragão suspirou de alívio.

Outros jogos virão, seguramente, que servirão para os algarvios encetarem uma necessária recuperação na tabela classificativa.

Já os portistas devem meditar se, quando Samu for titular, e sendo um jogador mais posicional, não vai precisar de um apoio mais próximo, o que pode implicar alterações nas habituais dinâmicas da equipa.