O português mais flamengo de Brugge vai torcer pelo Sporting
Trabalha no Cercle Brugge e acompanhou William Carvalho, Nuno Reis, Renato Neto, Amido Baldé e dezenas de brasileiros na capital da província da Flandres Ocidental. Esta terça torce pelo Sporting e não é exatamente por defrontar o rival da cidade.
BRUGGE — William Carvalho, campeão da Europa e comendador da Ordem de Mérito, passou ano e meio em Brugge antes de regressar ao Sporting e percorrer o caminho que se conhece. Em 2012 e 2013, poucas pessoas terão sido tão importantes para o atual jogador do Bétis como Ricardo Almeida, 57 anos, português de Setúbal que reside há 39 na cidade belga.
Ricardo tem a exploração de quatro bares no Jan Breydel Stadion, onde esta terça-feira o Sporting defronta o Club Brugge para a Liga dos Campeões. Além de William ajudou, ao longo dos anos, à integração de vários jogadores portugueses (Nuno Reis, Amió Baldé) e brasileiros que jogaram no Cercle Brugge, o outro clube da cidade que partilha o recinto com o agora adversário leonino e para o qual trabalha. Sobretudo brasileiros, porque foi aí que tudo começou. Mas já lá vamos.
Nos idos de 90, Ricardo veio de férias à Flandres. Enamorou-se de uma flamenga e por cá ficou até hoje. Histórias de amor há muitas, e também as há felizes, porque a união perdura. Ricardo falava inglês e aprendeu flamengo. A mulher aprendeu português. Entre eles falam flamengo (variação do neerlandês), ele fala com a filha de 36 anos em português e ela em francês.
O irmão da mulher é um adepto fervoroso do Cercle Brugge e começou a levar Ricardo ao clube. Nove anos depois de estar na cidade, já com o flamengo oleado, era preciso ajuda de tradução para os jogadores brasileiros do clube. Ricardo Almeida, até então agente imobiliário, ofereceu os préstimos ao clube do qual aprendeu entretanto a gostar e nunca mais se desligou do Cercle. «Ano e meio depois surgiu a oportunidade de explorar um bar no estádio e não a deixei fugir. Hoje temos quatro», conta a A BOLA.
Ainda hoje mantém contactos com William, Reis, Baldé e sobretudo Renato Neto, médio brasileiro formado no Sporting que também aproveitou o protocolo na altura existente entre os leões e o Cercle Brugge para rodar por empréstimo. O regresso a Alvalade, ao contrário do de William, não foi produtivo. Passou pela Hungria e acabou por voltar à Bélgica, de onde não mais saiu. Ainda joga num clube de escalão inferior, casou com uma belga e Ricardo Almeida é padrinho de um dos filhos.
A gestão dos bares no Jan Breydel («quando há jogo com o Club Brugge e a casa é nossa tenho de contratar dezenas de funcionários para explorar todos os bares do estádio!», exclama) ocupa boa parte do tempo de Ricardo, mas a função de ajudar os falantes de língua portuguesa prossegue, agora com os três brasileiros que o Cercle Brugge tem no plantel.
Viaja várias vezes até Portugal («a minha mulher adora o Algarve») e poucas coisas lhe dão tanto gozo como ouvir falar português pelas ruas de Brugge, como sucede nestas ocasiões. É essencialmente por isso que Ricardo, que até é portista, torce, esta terça, pelo Sporting. «Adoro estar com a malta portuguesa, ouvir a nossa língua na rua, ver as pessoas em festa nesta cidade tão bonita. Não é por ser contra o nosso rival que torço pelo Sporting, é por ser de Portugal».