O novo Manchester United: alguns obstáculos que Ruben Amorim terá pela frente

A adaptação ao novo sistema de jogo, a eficácia e a mentalidade do plantel são pontos essenciais

11 de novembro marca o dia em que Ruben Amorim assumiu o papel de novo treinador do Manchester United. O técnico português deixa um legado de tremendo sucesso no Sporting, com dois campeonatos em quatro anos, e deixou os adeptos do Manchester United, sedentos de sucesso, de água na boca.

O cenário não é perfeito. 13.º lugar, zero campeonatos nos últimos 11 anos e, desde que Sir Alex Ferguson saiu, ninguém durou mais que Solsjkaer, cerca de três anos, entre dezembro de 2018 e novembro de 2021. Menos de três anos, na verdade, para uma equipa que, até 2013, manteve o mesmo técnico durante 26. E não será esse o maior problema dos red devils neste momento: Erik ten Hag, que até começou com uma época positiva, e até ganhou a Taça de Inglaterra na época passada, não deixou uma identidade de jogo, mas sim um rasto de contratações desapontantes e um discurso que oscilava entre o «ver o copo meio vazio», quando as coisas corriam bem, e «ver o copo meio cheio», quando isso não acontecia. Dentro e fora de campo, há, então, muito a fazer, que não será, provavelmente, resolvido nesta pausa para seleções.

A comunicação é forte de Amorim e foi lacuna de Ten Hag

Pegando já neste último ponto, este lado de ligação, sobretudo, entre treinador e adeptos (com os jornalistas como ponto intermédio) foi um dos lados mais fracos do último treinador. Na época em que o Manchester United ficou em terceiro lugar e conquistou a Taça da Liga, Erik ten Hag insistia que «não era bom o suficiente para uma equipa como o United». Se esta mensagem agradava aos adeptos - juntamente com os resultados -, o mesmo não se pode dizer daquilo que vinha a acontecer nos últimos meses. Já em 2024/25, fica na memória o momento em que Erik ten Hag revelou que, após empates com Fenerbahçe e FC Porto, estava... satisfeito.

Ao longo de quatro anos de altos e baixos no Sporting, Ruben Amorim nunca perdeu a ligação neste aspeto, ele que foi sempre amplamente elogiado pela forma de comunicar.

Pouco tempo para o 3x4x3

Dentro de campo, começam as verdadeiras dores de cabeça para Ruben Amorim. Como anteriormente referido, muitos são os problemas que a equipa tem, sobretudo ao nível da identidade de jogo. Uma equipa como o Manchester United quer jogar ao ataque na maior parte dos jogos, ou, pelo menos, é isso que o técnico afirmou em conferência de imprensa, ainda no Sporting. Também em resposta a perguntas dos jornalistas deixou no ar qual será o estilo que quer implementar: «Não temos muito tempo de treino, temos muitos jogos. Tenho de começar por algo que conheço muito bem.» Ou seja, o 3x4x3 será, provavelmente, a base de construção para o Manchester United.

Para o United, é rara a utilização de três centrais e ainda mais o é quando se trata de um sistema ofensivo. Mesmo quando equipas como o Chelsea, de Antonio Conte, foi campeã em 2017 com esse sistema, com a implementação da construção a três que Guardiola implementou, de duas formas diferentes, no Manchester City, e que Arteta também colocou no Arsenal, os red devils mostraram-se resistentes a isso mesmo.

Fica na dúvida se os jogadores do Man. United serão, para já, os ideais para a implementação deste sistema, mas, sobretudo, como é que eles serão utilizados. As lesões de Luke Shaw e Malacia estão quase debeladas e ficam algumas questões no ar. Será Shaw utilizado como central pela esquerda ou ala mais defensivo? Diogo Dalot também pode fazer isso, mas tanto à esquerda como à direita. Quererá Amorim implementar uma tática mais conservadora, com habituais laterais a começar nas alas, ou começar já a adaptar jogadores como, por exemplo, Garnacho ou Diallo, como fez com Geovany Quenda, Geny Catamo ou Nuno Santos? Zirkzee e Hojlund jogarão juntos? Muitas dúvidas que se mantêm dentro daquilo que o Manchester United pode ser, pelo menos, neste início, com vista a enfrentar os problemas que ainda subsistem dentro do terreno.

Algo de errado se passa na frente do Man. United

Wayne Rooney, Robin van Persie, Carlos Tévez, Solskjaer, Dwight Yorke, Andy Cole, Cantona... São muitos os avançados de referência que o Man. United teve, pelo menos, nos últimos 30 anos. As coisas não correm, de todo, pelo mesmo caminho neste momento: os red devils estão em 13.º lugar na Premier League e são, a par do Ipswich o quarto pior ataque da Premier League. Números pesados, sobretudo quando se observa para um outro fator: o Manchester United é, também, o conjunto de todo o campeonato inglês com mais grandes oportunidades desperdiçadas: são 26.

Zirkzee, Hojlund e Rashford, três dos elementos mais avançados da equipa, só marcaram ainda um golo cada. Bruno Fernandes leva dois e Garnacho é o melhor marcador, com três. Para que se tenha noção, há 24 jogadores com mais golos que o melhor goleador dos vermelhos de Manchester. Só o Chelsea, tem Cole Palmer, Nicolás Jackson e Noni Madueke à frente desta marca. É um problema de desperdício grave, muitas vezes explicado pela falta de apoio que os avançados têm no ataque, num exemplo claro de falta de estrutura, uma lacuna que Amorim terá de combater.

Este problema de finalização corrigiria muitas das questões do Manchester United, uma vez que a defesa mostra-se, para já, sólida: na Premier League, os red devils sofreram 12 golos, só mais que Liverpool, Nottingham Forest e Newcastle. Pelo menos, no que diz respeito aos jogos em que o Manchester United é favorito. Com os rivais diretos, a história é outra.

Voltar a jogar olhos nos olhos com os grandes

Esta temporada, o Manchester United já recebeu Chelsea, Liverpool e Tottenham dos big six. Empatou com o primeiro e, com os restantes, perdeu por 0-3. É certo que, com os spurs, a segunda parte foi toda disputada com menos um, por expulsão de Bruno Fernandes, mas não justifica a passividade sem bola e as dificuldades com ela que foram apresentadas de 11 para 11, numa partida em que o United não conseguiu ter qualquer palavra a dizer. Com o Liverpool, de igual para igual em 90 minutos... não parecia. Os reds aproveitaram-se de todos os pequenos erros do Manchester United para recuperarem a bola e explorarem o ataque e, nos maiores, não perdoaram: três perdas no meio-campo, três golos para o líder do campeonato.

São casos específicos de um problema grave que o Manchester United atravessou enquanto o neerlandês esteve ao comando. 22 jogos contra os principais rivais no campeonato, seis vitórias apenas, incluíndo derrotas por 0-7 em Anfield e por 3-6 no Estádio Etihad. Foi Ruben Amorim que mencionou que «o United tem de jogar de forma diferente, olhos nos olhos» quando defronta um rival como o Manchester City, só que, nos últimos tempos, isso não foi possível. É, talvez, a maior tarefa para a nova equipa técnica: colocar, no plantel, a mentalidade de equipa grande que esta precisa.

A tarefa é hercúlea e, nos últimos 11 anos, Moyes, Van Gaal, Mourinho, Solskjaer, Rangnick e Ten Hag caíram antes de a conseguirem realizar. A partir de 24 de novembro, frente ao Ipswich, Ruben Amorim é o sétimo treinador principal do Manchester United a começar a caminhada para voltar a colocar o lado vermelho de Manchester no topo do futebol inglês.