O miúdo que quer chegar a melhor do Mundo com a «atitude da Zona J»
Ao serviço do Hull City, Fábio Carvalho leva 11 jogos e quatro golos (Hull City)

O miúdo que quer chegar a melhor do Mundo com a «atitude da Zona J»

INTERNACIONAL23.03.202411:30

Fábio Carvalho tem muito orgulho nas origens, apesar de ter emigrado para Inglaterra com apenas 11 anos

Aos 11 anos, Fábio Carvalho deixou a Zona J, onde o seu talento para o futebol começou a mostrar-se num campo de cimento a jogar com miúdos mais velhos para rumar com a família a Inglaterra, em busca de uma vida melhor. Dez anos volvidos, é jogador do Liverpool - emprestado agora ao Hull City -, mas não esquece as origens, nas quais tem um orgulho que se percebe pelo carinho com que fala das memórias que tem da infância. É com a arrogância positiva de um miúdo que o médio ofensivo revela que trabalha para ser o melhor do Mundo. Ao mesmo tempo que confessa: «Dava tudo para poder recuar no tempo e voltar a viver um dia lá na Zona».

- Diz que quer ser o melhor do Mundo: é um objetivo no qual pensa muitas vezes?

- Sim! Eu penso em ser o melhor do Mundo todos os dias [risos]. É para isso que trabalho. Para ser o melhor, tens de aprender com os melhores e trabalhar todos os dias para isso. É com esse foco que treino sempre.

- Em quem se inspira para chegar a melhor do Mundo?

- Só há um, não é? [mais risos] O Cristiano Ronaldo! A forma como ele trabalha é incrível. Eu conheço quem jogou com ele no Manchester United e, mesmo com a idade que tem, continua a trabalhar da mesma forma e a cuidar-se. Todos me dizem que ele é um louco que vive e respira futebol. Quer sempre ser o melhor, por isso é que chegou ao nível que chegou.

- Tem algo em comum com ele: ambos vêm de zonas desfavorecidas e tiveram de dar a volta por cima. Isso dá mais força para lutar pelo sonho?

- Claro. Dá-me motivação todos os dias. Via a minha mãe e o meu pai a acordarem cedo todos os dias para irem trabalhar. Depois saírem de um trabalho para outro de forma a poderem ganhar um pouco mais… Essas coisas dão-me força. Quando estou cansado, ou não me apetece tanto treinar, penso nesses momentos e que preciso de dar uma vida melhor aos meus pais.

- Como foi a adaptação a Inglaterra, onde chegou muito novo?

- Foi boa. Adaptei-me melhor do que os meus irmãos. Vim para cá com 11 anos, era pré-adolescente, mas fui para a escola e aprendi a língua rapidamente, o que me ajudou muito. Mas aquilo que mais me ajudou foi o futebol. Porque mesmo não falando a língua, se jogas futebol e jogas bem, as pessoas começam logo a gostar de ti. É também graças a isso que estou onde estou hoje.

- O que é que ainda tem do puto que jogava à bola num campo de cimento da Zona J?

- A atitude! [gargalhada] Se perder, ou se sofrer uma falta… Mas também a minha forma de jogar: as cuecas, os cabritos… Foi sempre assim que joguei com os meus amigos e o meu irmão na Zona. Aquela atitude da Zona ficou.

- Nota-se que tem muito orgulho nessa origem.

- Claro [rasga o sorriso]! Todos os anos volto lá, estou com os meus amigos e ainda jogo no campo. Gosto sempre de recordar as memórias que construí lá, porque são as melhores recordações da minha vida. Dava tudo para poder recuar no tempo e voltar a viver um dia lá na Zona. Mas agora tenho de viver no presente e criar memórias novas.