O clube com que se nasce, rivais e missão cumprida: tudo o que disse Amorim
Na última antevisão enquanto treinador do Sporting, Rúben Amorim falou do passado, do presente e do futuro. Sublinhou que a conquista dos três pontos em Braga será crucial para o objetivo da época: bicampeonato
- O último jogo em que vai treinar o Sporting é precisamente frente ao SC Braga, que o lançou. Isso tem algo de especial ou simplesmente pretende perseguiu o recorde de 11 vitórias consecutivas num arranque de época?
- As duas coisas têm muita importância, mas, obviamente que igualarmos o recorde de sempre é muito importante para nós. O mais importante é manter e aumentar também a distância para os rivais. Braga sempre teve um grande significado para mim, também gostei muito de lá estar, um clube que me deu a oportunidade de iniciar a minha carreira ao mais alto nível, é algo engraçado, mas dizer que sinto algo antes do jogo não, porque estou stressado com o jogo, queremos muito ganhar o jogo, quero muito deixar a equipa com uma vitória. Estou nervoso, mas terei tempo para sentir as coisas, agora muito focado no que temos de fazer, é uma jornada muito importante onde há um FC Porto-Benfica e podemos ganhar pontos, se não a um, aos dois, temos é que ganhar o jogo, e só isso que tenho na minha cabeça, frente a uma equipa muito difícil.
- O Sporting tem mais dois dias de descanso/preparação para o jogo do que o SC Braga. Em que medida é que isso pode fazer a diferença?
- Os dois dias de descanso faz toda a diferença, mas se não formos empenhados não se vai notar a diferença, os jogadores do SC Braga também já estão muito habituados e o treinador tem muita experiência. Se não estivermos no máximo não se vai notar a diferença. Ter mais dois dias para preparar os jogos, ou de descanso, não se pode dizer que não vai haver influência. Jogar na Liga dos Campeões é muito melhor do que estar na Liga Europa, em todos os aspetos, quer financeiros quer também nestas questões de calendário, já que os clubes da Liga Europa jogam à quinta-feira e ao domingo. No ano passado aconteceu-nos a nós e sofremos muito e tivemos de fazer a tal gestão de jogadores porque tínhamos jogos muito uns em cima dos outros. Também nos precavemos para isto ao jogar com o Nacional e o Estrela da Amadora num curto espaço de tempo, o SC Braga não o pôde fazer porque está na Liga Europa. Agora, como treinador faz toda a diferença ter mais dois dias de preparação quer na questão tática como na recuperação dos jogadores, se formos competentes e muito sérios poderá fazer uma pequena diferença.
- A partir de segunda-feira como vai ser a relação com o ex-clube? Vai manter distância ou ligar a alguém a perguntar como estão as coisas?
- Quando sair do Sporting serei treinador de outro clube, ficarei apenas a torcer, verei o campeonato português com outra liberdade. Ficarei a torcer pelos meus jogadores e pelos meus amigos, mas claramente focado noutro sítio e só.
- Temos assistido a grande onda de carinho para consigo. De alguma forma sai com receio de que esta época, se não correr tão bem, lhe poderem ser associados esses possíveis insucessos?
- Já senti mais isso, talvez naquela fase em que estávamos aqui e decidimos que eu tinha de ficar mais jogos, nessa fase estava bastante stressado e nervoso com a situação, mas agora não, estou bastante positivo. Será apresentado depois o novo treinador, tenho a certeza que está preparado e confio muito nos jogadores, eles farão o seu trabalho e eu estarei focado noutra função. A vida tem destas coisas e, neste momento, estou muito mais positivo e muito mais normal. Todos estão preparados, jogadores, Direção e clube em si para dar continuidade ao que temos feito até aqui.
- Que papel tem tido na transição do próximo treinador? Seja para João Pereira ou outro treinador.
- Eu poderia explicar, mas apesar de vocês serem bastante inteligentes, se eu respondesse a essa questão estaria aqui a apresentar o novo treinador. O que eu fiz ou não, não poderei dizer porque se não teriam o treinador apresentado. O que fiz foi, dei sempre abertura ao presidente e principalmente ao Hugo Viana para se preparar da melhor maneira essa sucessão.
- Uma vitória frente ao SC Braga, e sabendo que há um clássico, deixava o Sporting com uma margem interessante na liderança do campeonato. É seu grande objetivo para amanhã, terminar com uma vitória uma obra inacabada?
- Temos de olhar para isto de forma muito prática. Ganhando este jogo vamos ganhar pontos a um dos rivais e tudo terá um espírito melhor se ganharmos o nosso jogo. Vimos de um resultado muito positivo, que não nos dá nada, mas é histórico, e se não estivermos preparados vamos sofrer em Braga e não vamos ganhar o jogo, essa é a minha grande preocupação neste momento. A semana da Liga dos Campeões só acaba no jogo a seguir e, portanto, temos um trabalho muito difícil a fazer. Se o fizermos, acho que toda a gente vai estar melhor no final desta semana, com um sentimento melhor nesta paragem para das seleções, algo que é muito importante para o desenrolar do resto da época.
- Esta é a sua última conferência em Alvalade. Qual é o sentimento com que sai do Sporting?
- Foi estranho sair hoje da Academia porque sei que não voltarei lá... Não arrumei o escritório, vão enviar-me as coisas, não quis fazer isso. Não sou muito de me despedir das pessoas, não sou bom em despedidas, acho tudo muito estranho. Mas é estranho sair de lá de carro e saber que não vou voltar para lá, foram quase cinco anos. Acima de tudo sinto que dei o máximo, mas ainda não acabou, posso sair de uma maneira muito boa ou só de uma maneira boa se não ganharmos o jogo. Vivemos aqui coisas inesquecíveis, o sentimento que levo é de muita felicidade e de dever cumprido. Deixo muitos amigos, mas ainda sou novo e tenho muita coisa para fazer ainda, é seguir e agora tenho um novo desafio a partir de segunfa-feira. Agora é fazer a última coisa que temos de fazer juntos que é manter o nosso lugar e igualar o melhor arranque do Sporting e o próximo treinador que certamente irá bater esse recorde da história do Sporting.
- Pode deixar uma mensagem ao coração dos adeptos do Sporting?
- É difícil despedir-me de alguém quando ainda tenho um jogo, talvez em Braga. Agradeço muito a forma como sempre fui recebido e como me senti. Quando cheguei nem toda a gente me queria cá porque era do Benfica e porque custei muito dinheiro, mas foi-me sempre dado o benefício da dúvida. Eu perguntei: 'E se corre bem?' E correu. Só tenho a dizer obrigado. O clube com que nascemos é o clube que nascemos, aconteça o que acontecer. A verdade é que eu nunca pensei que fosse gostar do Sporting como gosto. Mas tenho um carinho muito especial pelo Sporting e vou ter sempre esse carinho especial, isso não vai mudar nunca por tudo o que vivi aqui.
- Por tudo o que conquistou, concorda que fica um legado pesado para o seu sucessor? Concorda com quem o acha o melhor treinador do Sporting dos últimos 60/70 anos?
- Obviamente que fizemos um trabalho e fizemos coisas que não se via há muito tempo, com recordes, títulos. Pertencemos a um período, agora se é o melhor ou o pior. No futebol, às vezes, a bola bate no poste e muda tudo. Se o mister [José] Peseiro tivesse ganho o campeonato e a Liga Europa algum de nós poderia ser melhor? Não. Simplesmente perdeu uma final aqui e o Luisão marcou um golo ao Ricardo. Dois momentos na vida de uma pessoa que muda completamente a história do mister Peseiro. Eu tive a sorte que outros não tiveram. O mister [Jorge] Jesus também esteve para ganhar o campeonato, e muita gente viu que foi a melhor equipa, mas não ganhou. Os recordes todos que batermos também ajudaram. Somos das melhores equipas técnicas do Sporting porque ganhamos e isso marca muito as pessoas. E o futebol é muito de resultados.
- Disse a uma rádio que a sua música de despedida era a 'A Minha Casinha', dos Xutos e Pontapés, que música gostava que amanhã tocasse em Braga?
- Só para escolher aquela [risos] já foi difícil, só me lembrei daquela de ter saudades de casa e fiz a ligação. Só sei que quero ganhar. Não tenho uma música. Quero os três pontos, uma vitória. Talvez a 'Queremos o Sporting campeão' no final.
- Numa altura em que se fala muito de liberdade de imprensa e jornalismo livre, a forma desassombrada como sempre abordou as questões nas conferências de imprensa, uma lufada de ar fresco no futebol português, até que ponto isso foi estratégia pars desviar atenções de algumas polémicas.
- Obviamente, também sempre acompanhei muito o fenómeno desportivo, mesmo para o sítio para onde vou, para perceber as dinâmicas. Já sei o que vou dizer quando venho para aqui. Tenho uma preparação do Filipe [Dinis, assessor de comunicação]. Há fases que digo que não leio nada e não leio mesmo nada para estar com esta mente aberta, se eu ler todas as coisas que escrevem sobre mim, vou ficar zangado e chateado porque vou estar à espera de responder aqui. Obviamente que é uma estratégia. A honestidade? As coisas estão à vista das pessoas. Os resultados ditam tudo. Eu sei que se perder jogos que vou embora e se ganhar que fico. Pode ajudar na crítica. Mas vocês têm sido simpáticos comigo. Eu sou genuíno no que digo e quando não sou nota-se bem. Mas, obviamente que há uma preparação, até porque faz parte do trabalho deles e do meu.
- Está em estado de graça tanto na despedida do Sporting como na chegada a Manchester, tem noção de que o eco do resultado do jogo com o City lhe deu créditos?
- Conheço bem o fenómeno do futebol, principalmente em Inglaterra, que já acompanho há algum tempo, e sei como as coisas mudam. Posso contar ene histórias de todos os treinadores que estão lá e consigo-vos dizer a narrativa do que aconteceu, do Arteta, do Postecogulu, consigo dizer como aquilo correu. Bem, muito bem, depois diziam que correu mal. Já conheço bem isso, estou preparado. O eco não diz nada, o que vai dizer é o primeiro jogo quando eu chegar lá, se ganhamos ou perdemos, os resultados é que vão ditar o vai acontecer.
- Já disse que não vai contratar nenhum jogador do Sporting no mercado de inverno e no verão?
- Em janeiro não vou, foi o que eu disse. No verão já não sei. Principal ponto é aguentar-me até ao verão [risos]. Depois, logo se vê, os jogadores do Sporting são jogadores muito bons. Não sei. Veremos. Em relação a como correu aqui, houve títulos que podíamos ter ganho, estou a pensar na Supertaça, não ganhámos a Taça de Portugal, mas acabou por correr bem e o impacto que tivemos, diria que deveríamos ter ganho mais, mas ninguém esperaria que tivéssemos ganho tanto.
- Gonçalo Inácio está apto ou não para Braga?
- Vai para Braga, mas não vai entrar de início. Não vai jogar a titular, mas se houver alguma questão ele estará lá. Vamos na máxima força porque é um jogo importante para nós.
- Esta é a última antevisão em português, está preparado para expressar-se em inglês?
- Estou preparado, claro que vou ter de pensar mais nas palavras. Esta conferência que eu tive, lá será muito mais básica. Mas vivendo lá toda a gente diz que apendo rápido, mas obviamente que vou ter mais dificuldade, terei de ser inteligente e ier devagarinho, até porque a imprensa é diferente. O Manchester United é sempre o clube que mais se fala lá. Mas também não estou preocupado. O inglês não será o meu maior problema.
- Se aguentar até ao verão, Pedro Gonçalves é uma opção para reforçar o Manchester United?
- O Pote tem é que se focar no Sporting. Os reforços têm que ver com a necessidade das equipas. Pode jogar em qualquer equipa do mundo e com qualquer jogador porque é um grande jogador, não sendo o que chama mais a atenção. Poderia levá-lo para qualquer sítio. É muito engraçado, o que ajuda muito na relação pessoal e é muito inteligente, viu-se isso no úlitmo jogo, mas tem é de se focar no Sporting porque é muito importante serrmos campeões este ano, mas como treinador do Sporting digo que pode jogar em qualquer equipa do Mundo.
- Chegou a altura de um esclarecimento. Os seus pais quando o registaram foi Rúben com ou sem acento?
- O meu nome não tem acento. Começou a aparecer com acento. A primeira vez que apareceu foi no Catar e deixei estar porque, lá está, era o Catar [risos]. Mas é sem acento.
- O que diria agora ao Rúben que começou a jogar no Belenenses?
- Não sei [risos]... Diria-lhe que vai correr tudo bem, porque, nessa fase, é difícil e temos muitos sonhos. Sempre tive o sentimento de que ia correr bem, fosse como fosse. Diria-lhe para relaxar um bocadinho mais, porque sempre fui muito preocupado. Acabou por correr tudo bem. Só lhe dizia para relaxar um bocadinho e que iria correr tudo bem, mas, no fundo, ele já sabia.