Nuno Espírito Santo faz história: defesa sólida e 'pinheiro' letal são chave para arranque do Forest

Consistência defensiva é o grande fator diferenciador da equipa, atual terceira classificada da Premier League

Eis o renascimento de um clássico. Uma história de redenção, normalmente muito querida pelos adeptos, é, hoje, dirigida por um português. Neste momento, a Premier League é liderada pelo Liverpool, o Manchester City vem logo a seguir e Arsenal, Chelsea e Aston Villa estão… empatados em quarto. Em terceiro, está o Nottingham Forest, de Nuno Espírito Santo.

Com 19 pontos, o Forest fecha o pódio da Premier League à décima jornada, com aquele que é o melhor arranque da equipa nos últimos 30 anos. Essa época, a 1994/95, que terminou com o campeonato do Blackburn Rovers, viu a medalha de bronze ficar em Nottingham. Mas que fatores contribuem para este arranque histórico?

Em fevereiro de 1995, o N. Forest defrontou o Arsenal. Nesse ano, a equipa ficou em terceiro lugar.

«Ataques vencem jogos, defesas ganham campeonatos»

Foi Sir Alex Ferguson que o disse e, sobre ganhar em Inglaterra, melhor conselheiro não há. E parece que os comandados de Nuno Espírito Santo estão a seguir à risca esta máxima. É verdade que o Nottingham Forest só tem 14 golos marcados na Premier League - é o oitavo melhor registo, a par de Leicester e Wolverhampton, e talvez sejam estes últimos o principal exemplo de diferenciação: se os wolves sofreram 27 golos, o Forest sofreu... sete. É por isso que os Tricky Trees estão em segundo e o Wolverhampton está em último: um é a segunda melhor defesa do campeonato, outro é a pior. Será fácil concluir qual é qual...

Só o Liverpool, com seis golos contra, sofreu menos que os sete do Nottingham Forest. Desde início que Nuno Espírito Santo fez questão de ser regular com a linha defensiva: Murillo e Ola Aina são totalistas, Milenkovic só não jogou o primeiro jogo da temporada, em vez de Willy Boly, e Álex Moreno assumiu o lugar de Neco Williams à quarta ronda e nunca mais o perdeu.

Moreno, Sels e Ola Aina são elementos de eleição para Nuno Espírito Santo (IMAGO)

Consistência defensiva é mesmo o mote desta equipa, em raros são os desequilíbrios. Ola Aina é o mais ofensivo dos laterais, com Álex Moreno a ficar, muitas vezes, em zonas mais recuadas. Existe sempre a compensação do meio-campo e o risco é sempre calculado, ainda que esteja em crescimento. Até à jornada passada, o N. Forest só tinha marcado mais que um golo no empate frente ao Brighton (2-2). Frente ao Leicester, a equipa venceu por 3-1 e, na última partida, não deu hipóteses ao West Ham, com 3-0 no marcador.

O grande teste deste nível do Forest decorreu a 14 de setembro. Em casa do Liverpool, a equipa manteve-se firme, fechou a defesa e, com um golo ao minuto 72, Hudson-Odoi roubou os três pontos de Anfield.

Ainda assim, só sem sofrer não se chega a lado nenhum no futebol. O golo é a celebração do desporto-rei e, em Nottingham, há um claro Rei da Festa.

A Guerra dos Avançados: o Regresso do 'Pinheiro'

Numa era em que os avançados são, cada vez mais, classificados por todo o trabalho que colocam no apoio, nas movimentações sem bola, na capacidade de trabalhar na rotura e no choque físico, em que o golo é só uma das muitas facetas que o '9' tem de cumprir, eis que surge, como protagonista do terceiro classificado da Premier League, um avançado 'à moda antiga'. Chris Wood, neozelandês, só está atrás de Haaland na lista de melhores marcadores da Premier League.

Chris Wood é o melhor marcador do Forest e o segundo melhor da Premier League (IMAGO)

Trata-se de um avançado com experiência de Premier League - está desde 2009 em Inglaterra e já representou vários clubes, como Burnley e Newcastle, no principal escalão -, muito forte nas alturas e com finalização letal. Não é o mais rápido, o que tem a melhor qualidade de passe ou maior técnica, mas é exímio numa arte: fazer golos. É um animal de área (muitas vezes designado na gíria por 'pinheiro') e, desde que chegou a Forest, em janeiro passado, só Haaland marcou mais que ele.

Além das qualidades inegáveis, passa, também, por um momento de forma espetacular. Nos últimos seis jogos do campeonato inglês, apontou o mesmo número de golos. Ao todo, são já oito, mais de metade dos golos que o Forest apontou na competição.

O futuro testará a sério este Forest

As próximas jornadas serão prova de fogo para o Nottingham Forest. Entre 10 de novembro e 14 de dezembro, com uma pausa de seleções pelo meio, a equipa visita Arsenal, Manchester City e Manchester United e ainda recebe Newcastle, Aston Villa e Ipswich. Destas seis equipas, três estão no top-5 da Premier League, isto sem contar com os jogos contra magpies e red devils. É muito cedo para dizer se este Forest é sol de pouca dura, e assim continuará a ser mesmo depois desta fase, mas, pelo menos, caso o teste seja passado de forma positiva, já é possível começar a considerar a equipa de Nuno Espírito Santo como um dos casos sérios deste campeonato inglês.