Mundial Feminino-2023 Nas Malvinas nasceu a loirinha que fez história na Nova Zelândia
É de Câmara de Lobos, principal cidade piscatória da ilha da Madeira, que é natural Telma Encarnação, jogadora que entrou para a história do futebol feminino português ao marcar, anteontem, o primeiro golo de Portugal num Campeonato do Mundo. A proeza foi alcançada frente ao Vietname, jogo que Portugal venceu por 2-0. Mas afinal quem é esta jovem de 21 anos que sempre sonhou ser futebolista e que tem no conterrâneo Cristiano Ronaldo o grande ídolo?
Telma cresceu a jogar descalça nas ruas do Bairro das Malvinas, de gente humilde, mas pouco recomendável para fazer florescer sonhos, ainda mais o de uma menina que sonhava, desde cedo, ser como Cristiano Ronaldo.
Por estes dias os vizinhos sentem uma azáfama diferente no bairro.
«Muitos jornalistas querem saber da Telma, por isso têm aparecido aí. Não estamos habituados as estas coisas de tantas perguntas sobre a Telma, a nossa loirinha», referiu a senhora Odete, vizinha da internacional lusa. «Se conheço a Telma? Claro que sim! Olhe, sou vizinha dela como é que não ia conhecê-la?! Sempre foi boa menina. Quem a queria ver feliz era dar-lhe uma bola. Passava tardes e tardes a jogar à bola com os meninos. E tinha muito jeitinho.»
A curiosidade pela presença da reportagem de A BOLA fez com que muitos quisessem falar, mas poucos a quererem identificar-se. Não foi o caso do senhor Agostinho Dias, 62 anos. «Não tenho problema nenhum em falar. Escreva aí: conheço a Telma desde que nasceu. Desde pequenina, mas mesmo muito pequenina já atirava a bola contra a parede dos prédios. Sempre educada, alegre, mas tinha de ter sempre uma bola.
Aliás, quando a via era com uma bola», sublinhou o afável senhor Agostinho, que também vibrou com o golo da Telma Encarnação ao Vietname: «Claro que vi o jogo. Acho que todos no bairro acordaram cedo pois quando foi o golo ouviram-se gritos de felicidade por todo o lado. Foi uma manhã de festa para o bairro.»
A paixão pelo futebol fez com que qualquer bola, fosse de papel ou daquelas duras de basquetebol, servisse para se entreter a rematar à parede e a tentar passar ao lado do que se passava no bairro social inaugurado nove meses depois de ser criada a seleção feminina de Portugal, em outubro de 1981.
Aos oito anos foi para Associação Desportiva Recreativa e Cultural Os Xavelhas - um dos muitos clubes do concelho de Câmara de Lobos - numa equipa só de rapazes.
«Ela tinha mais jeito que muitos meninos. Era evidente, já na altura, que a Telma era uma predestinada», confessa Pedro Sousa, coordenador do futebol jovem dos Xavelhas na altura em que Telma jogava no clube. Curiosamente, no tempo em que esteve no Xavelhas integrava também a escolinha do Sporting na Madeira, motivo pelo qual foi vista era vista a jogar pelo Sporting em alguns torneios, nomeadamente no São Vicente Cup e Marítimo Centenário.
Com 13 anos Telma vai para o Marítimo e aos 16 tem papel fundamental num dos momentos históricos do Marítimo, no caso com a primeira subida da equipa feminina à 1.ª Divisão. E foi com essa idade que assinou o primeiro contrato profissional. O primeiro salário serviu para encher a despensa para, assim, ajudar a família, que não tinha grandes recursos financeiros. O apego à família e à sua terra fez, aliás, com que ainda não tenha dado o salto para uma equipa com ambições maiores.
O ORGULHO DA MÃE
Perante o mediatismo que a filha está a ter nesta altura, a senhora Cristina, a mãe de Telma Encarnação, opta, a pedido da filha, pelo silêncio. «Eu não posso dar entrevistas. A Telma pediu para não falar. Peço desculpa, mas não vou falar. Se estou orgulhosa? Quem é que não fica orgulhosa dos seus filhos? Claro que fiquei e muito, mas, olhe, não insista eu não vou falar», retorquiu, simpaticamente, à janela da sua casa, a dona Cristina.
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O minuto 7 do jogo com o Vietname da manhã da passada quinta-feira (em Portugal) mudou para sempre a carreira, e a vida, de Telma Encarnação. A avançada madeirense marcou um golo que lhe vale um lugar na história da modalidade em Portugal. Se dúvidas existissem sobre a importância e o impacto que o golo de Telma tem - o primeiro de Portugal num Mundial feminino - basta perceber como reagiram os adeptos nas redes sociais, atualmente um barómetro importante para medir o fenómenos mediáticos: Telma tinha 2 mil seguidores no Instagram antes do remate glorioso e agora já vai em... 8 mil!