Sporting-Nacional, 3-1 Não houve indiferença no adeus de Amorim: a vitória foi natural, o ambiente nem por isso (crónica)
'Final four' em Leiria garantida, mas essa era a última coisa que importava ao Sporting e ao público de Alvalade nesta noite de 'velório'
É verdade que as claques boicotaram a Taça da Liga, o que desde logo retira animação às bancadas, diga-se ou pense-se o que se quiser dizer ou pensar. Mas nesta terça-feira, em Alvalade, o silêncio de ópera que caracteriza os estádios portugueses (exceto quando as claques o disfarçam) foi ainda mais intenso, sobretudo na primeira parte do jogo. E todos sabemos a razão: este pode ter sido o último encontro de Rúben Amorim como treinador do Sporting. E se não tiver sido o último terá sido o penúltimo, porque os leões recebem o Estrela da Amadora na próxima sexta-feira e nunca se sabe o que as cláusulas e as letras pequeninas dos contratos dizem sobre especificidades como esta.
Torna-se impossível dissociar este jogo dos quartos de final da Taça da Liga da abrupta rotura na vida do campeão nacional, face ao anúncio da ida do treinador para o Manchester United. E isso notou-se em campo. Os primeiros 45 minutos assemelharam-se — passe o eventual mau gosto da comparação — a um verdadeiro velório. Em campo e fora dele.
O Sporting tomou conta do jogo desde o início. O Nacional fez o seu papel de underdog sem grandes riscos, embora tentando jogar no campo todo, sem aqueles autocarros que em 90 por cento das vezes se revelam inúteis para quem os estaciona nos campos dos grandes. Os donos da casa, superfavoritos, não puxaram por toda a velocidade que podiam, mesmo tendo em conta o facto de o onze inicial não ter sido o mais habitual na temporada. Resumindo: entre o ruído das notícias que davam como certa a ida de Amorim para o United e o sentimento dos adeptos sportinguistas, criou-se um ambiente gelado que todos perceberam e, acreditamos, respeitaram. Mesmo dentro de campo.
Com um nulo ao intervalo, Amorim puxou por três ases para a segunda parte — Gyokeres, Trincão e Debast. E um deles, vamos sabendo semana após semana, é mesmo um ás de trunfo. O debloqueio do jogo foi alcançado pelo também nórdico capitão Hjulmand (já agora, quem, entre os adeptos do Sporting, não receia que seja resgatado em janeiro para o norte de Inglaterra?), mas coube, outra vez, ao portentoso sueco resolver uma partida. Aos 63 minutos foi sobre ele cometida indiscutível falta para penálti e aos 65 (VAR oblige) ele próprio a concretizou. Já vamos ao resto.
O jogo parecia pronto para correr tranquilo para o Sporting, mas um minuto depois o Nacional, de carambola, reduziu a desvantagem. Foi, factualmente, a primeira oportunidade de golo dos madeirenses, mas é justo referir que a equipa de Tiago Margarido não montou linhas de seis defesas e quatro médios disfarçados de defesas à frente do ataque do Sporting. Não: tentou o que pôde, e aqui pôde, no mínimo, assustar o favorito à passagem à final four da Taça da Liga.
Não tinham passado quatro minutos sobre este possível imbróglio para o Sporting e surgiu um livre à entrada da área. Os adeptos do Sporting terão pensado que era só mais um, porque há quatro anos que um livre direto não entrava na baliza adversária. Mas Viktor Gyokeres é um jogador superlativo, e por isso capaz de se superar. Não lhe bastava marcar de bola corrida e de penálti, decidiu também marcar de livre direto. E que bomba!
O jogo ficou aí resolvido e o Sporting estará em Leiria para mais uma final four da Taça da Liga. Um jogo estranho, como reconheceu Rúben Amorim. Mas não precisava de tê-lo dito. Todos perceberam, e já o previam até antes do apito inicial. O encontro da 10.ª jornada com o Estrela da Amadora, na sexta-feira, será a continuação do velório ou uma nova era no Sporting.