«Não há comparação possível entre o campeonato saudita e o português»
Entrevista a Jorge Jesus, em Riade

Reportagem A BOLA, em Riade «Não há comparação possível entre o campeonato saudita e o português»

FUTEBOL26.09.202407:00

A BOLA viajou a convite da liga saudita até Riade para conhecer a realidade de um futebol que está cada vez mais nas bocas do mundo. Jorge Jesus está rendido ao futebol saudita, mas não esquece Portugal. Nem o Brasil

Jorge Jesus é um treinador invencível na Arábia Saudita. O Al Hilal só sabe vencer neste arranque de época 2024/2025: já conquistou a Supertaça; soma quatro vitórias na Liga; uma vitória para a Liga dos Campeões asiática e outra para a Taça do Rei Saudita. No estádio onde treina diariamente fomos recebidos por Jorge Jesus que fez questão de aceitar o desafio para falar do que lhe vai na alma por terras árabes e deixar claro que o regresso a Portugal só acontecerá quando acabar a carreira. Entretanto, há uma viagem de sonho até ao Brasil que gostava de tornar real. Uma entrevista a A BOLA e ao Maisfutebol com o sempre mediático Jorge Jesus.

Que país é este, que Al Hilal é este, que o tem apaixonado desta forma que todos nós temos visto?

Tenho de responder de duas formas, falando do país e também desportivamente. A Arábia Saudita é um grande país, um país onde há regras e seguro. Na Europa já não há nada disto, um país onde qualquer cidadão se sente seguro. É um país com uma capacidade de evolução enorme. Penso que a Arábia Saudita, nos próximos 10 anos, deve ser um país, não só para o futebol, mas para qualquer atividade do mundo, a ter em atenção. Desportivamente, estou num clube onde já tinha estado há cinco anos. Evoluiu estruturalmente, tem um grande presidente, tem um CEO que já era do meu tempo, que formou nestes vários anos talvez a equipa mais organizada, não só da Arábia Saudita, mas também da Ásia. E, depois aquilo que faz a diferença: os jogadores. Tenho grandes jogadores que ajudam a valorizar o treinador, neste caso, eu. Depois das conquistas que fizemos no passado, este ano não podemos fazer melhor, só podemos fazer igual, nas competições da Arábia Saudita. A única competição que não ganhámos foi a Champions asiática, perdemos na meia-final. Todas as provas de calendarização da Arábia Saudita, que são três, nós ganhámos. Estou apaixonado, como sempre fui, pelo futebol, isso é que faz com que eu todos os dias adore vir para o meu treino, trabalhar com os meus jogadores. Tenho uma grande paixão pelo aquilo que faço, e nem todos têm esta sorte de fazer aquilo que gostam. Eu, desde os meus 14 anos, tive essa felicidade, e estou feliz desportivamente pelo aquilo que faço.

A verdade é que o desafio esse é cada vez maior, porque os jogadores de qualidade também são cada vez mais por cá.

Sim. Ainda hoje disse aos meus jogadores que o nosso grande adversário vamos ser nós, porque temos de fazer melhor, ou igual, àquilo que fizemos o ano passado. Este campeonato cada ano está mais forte. Cada equipa tem dez estrangeiros, estrangeiros esses todos, ou quase todos, das seleções dos seus países. É um campeonato muito forte, às vezes, como vejo a televisão portuguesa, vejo, a quererem comparar este campeonato com o campeonato português, como se tivesse alguma comparação. Não há comparação possível.

Porquê?

Pelos jogadores que jogam aqui. Quem faz a qualidade do futebol são os jogadores e são os jogadores que estão aqui, são dos melhores… Não são todos, mas a grande maioria deles são jogadores de grande nível, logo o futebol tem de ser de grande nível. Depois tem estádios com uma grande qualidade nos relvados e que dão boas condições para os fãs poderem assistir aos seus jogos. São estádios de grande qualidade. Não há comparação possível. Quem quer comparar o campeonato português com o campeonato saudita, só fala porque não sabe.

Entrevista a Jorge Jesus em Riade, no estádio do Al HilalIvo Martins

Estivemos com o CEO da SPL (Saudi Pro League) e ele disse que os portugueses têm de estar orgulhosos por Jorge Jesus e Cristiano Ronaldo terem saído do seu país e vindo para cá. Sente esse reconhecimento dos sauditas?

Eu não tenho uma vida social fora do futebol muito grande, ou seja, a minha vida é praticamente Al HIlal e o compound onde eu vivo. Agora, aqui o que eu notei este ano foi a chegada de muitos treinadores portugueses para a Arábia Saudita. Por exemplo, na segunda divisão, há sete treinadores portugueses na Arábia Saudita. Isto é um mercado também financeiramente apetecível, mas isto para mim não é uma novidade, pois isto já foi assim no Brasil. Hoje o Brasil tem vários treinadores portugueses, e fui eu, entre aspas, que abri a porta aos treinadores portugueses. Mas, na minha vida social eu não sinto isso. Sinto isso por perceber os treinadores portugueses que hoje estão no Brasil, e os que estão na Arábia Saudita. Agora ao dia-a-dia não tenho a noção disso.

«Para mim o meu país é sempre o mais bonito»

Na vida social pode não sentir isso, mas quem anda por estas ruas de Riade passa por uma publicidade gigante, numa avenida, com a sua imagem. Isso também prova o peso que o já tem aqui.

Sim, é isso, mas não tenho a noção de qual é a importância que eu possa ter socialmente. Desportivamente sei. Isso sei, e também estou num clube que tem mais fãs. O AL Hilal é o clube da Arábia Saudita que tem mais fãs. Também sinto isso nas poucas vezes que ando na rua. Na rua não, porque aqui tu não consegues andar na rua com o calor. Aqui só consegues andar no carro, no shopping, dentro de casa ou noutro sítio qualquer onde há ar-condicionado [Risos]  Isto durante o dia, porque durante a noite podes. Riade é uma cidade muito bonita, principalmente de noite. Falam da Arábia Saudita e parece que isto é um bicho de sete cabeças, do tempo que só havia camelos e areia no deserto. Não é nada disso, isto é um grande país, uma grande cidade, com tudo do melhor que possa haver. Mas, nunca vou me esquecer das minhas raízes, o meu país é o meu país. É onde eu quero voltar a viver, onde tenho a minha família e os meus amigos. Os outros países podem ter coisas muito bonitas, mas para mim o meu país é sempre o mais bonito.

Falam da Arábia Saudita e parece que isto é um bicho de sete cabeças, do tempo que só havia camelos e areia no deserto. Não é nada disso, isto é um grande país, uma grande cidade, com tudo do melhor que possa haver

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