Primeira parte da entrevista ao técnico do Al Ahli do Bahrain, que venceu, com o português no comando, o primeiro título em oito anos
Em outubro passado, Nandinho tornou-se treinador principal do Al Ahli de Manama, do Bahrain. Após uma série de cinco jogos sem perder e depois de se tornar treinador da semana do campeonato bahrainita, deu, em dezembro, uma entrevista a A BOLA, na qual afirmou que estava numa experiência muito positiva.
O técnico do Al Ahli, do Bahrein, foi considerado o Treinador da Semana e falou com A BOLA sobre como têm sido estes primeiros tempos ao leme do clube que, agora, é líder do campeonato
Três meses depois, o Al Ahli venceu a Taça do Rei e, mais uma vez, falamos com Nandinho, sobre esta final, bem como do futuro, do reconhecimento que sente que lhe falta em Portugal e sobre o campeonato português.
Al Ahli Manama, orientado pelo treinador português, conquistou o troféu ao derrotar o Al Muharraq nas grandes penalidades
- Em primeiro lugar, muitos parabéns pela conquista deste troféu!
- Obrigado! Tem sido, sem dúvida, muito gratificante estar aqui. No início, viemos com receio, não sabíamos muito bem qual o nível futebolístico que iríamos encontrar. Acabámos por ter uma boa surpresa. Apesar de não ser um campeonato ao nível do da Arábia Saudita, do Catar, tem equipas com qualidade, jogadores com qualidade e felizmente as coisas têm corrido muito bem desde que chegámos. Um processo que culminou há dois dias, com a conquista da Taça do Rei, a taça mais importante aqui do Bahrain, mais importante até que o campeonato. É um troféu que já não ganhavam há 21 anos. A última vez que ganharam uma competição foi o campeonato, em 2016. Já eram muitos anos sem o clube ganhar nada. Nestes clubes históricos, muitos anos sem ganhar criam quase que uma fome de troféus e foi uma enorme alegria para os adeptos.
- Lembro-me de ter dito que os adeptos estavam, a pouco e pouco, a juntar-se à equipa.
- Sim, gradualmente, fomos aumentando o número de adeptos nos nossos jogos, com maior incidência nos jogos contra os clubes que lutam pelo título, como é natural. Coincidiram, na final da Taça, as duas equipas que mais adeptos têm aqui no Bahrein. Estavam cerca de 21 mil adeptos no estádio. Este foi claramente o jogo em que tivemos mais adeptos, também pela sua importânica. Esperamos agora, depois desta vitória, conseguir trazê-los aos nossos jogos do campeonato, porque o futebol também só tem sentido com eles. Jogar sem adeptos acaba por não ter muito sentido, e por isso acho que é também uma vitória nossa aquilo que temos feito e que tem elevado realmente o número de adeptos a assistirem aos nossos jogos.
- Na meia-final, disputou um dérbi contra o Manama, que venceu por 3-1. Existe proximidade no nível das duas equipas?
- Sim, sim, as equipas aqui são muito… claro que há três equipas aqui que têm orçamentos superiores e por isso mesmo conseguem contratar jogadores com uma qualidade superior, mas a realidade é que as equipas aqui são muito competitivas. O primeiro, se tiver que perder com o último, perde. Não existe assim grande diferença. As duas equipas que mais adeptos têm são o Muharraq, que tem 34 títulos conquistados e 19 Taças do Rei. O Al-Ahli tem cinco campeonatos e tinha cinco Taças do Rei, esta foi a sexta, e isso diz muito sobre a diferença.
Em termos de orçamento, repare, nós temos um orçamento a rondar entre os 200 e os 250 mil dinares - e os orçamentos não ganham títulos, mas ajudam, podemos trazer jogadores de melhor qualidade - e o Muharraq tem um orçamento de um milhão de dinares. Estamos a falar de dois milhões e meio de euros, mais ou menos, fazendo aqui a conversão, dois milhões e meio de euros que eles têm ainda de orçamento e nós 500 mil. Há uma diferença significativa. A conquista desta taça dá um prémio monetário de 100 mil dinares, 250 mil euros, que é metade do orçamento que nós tínhamos para a época. Além disso, a conquista desta taça também nos apurou para a Taça da Ásia da próxima época, onde o clube já não vai há dezenas de anos.
- Uma final ganha nos penáltis é mais especial ou o sabor é igual?
- Não, igual não é. Eu preferia ter ganho nos 90 minutos, não tinha que estar mais 30 minutos, mais o tempo dos penáltis, ali a sofrer. Eu sabia que, se nós chegássemos aos penáltis, teríamos muitas hipóteses, porque eu conheço o meu guarda-redes, é o guarda-redes da seleção, e por aquilo que também trabalhámos no treino, aquilo que visualizámos, porque eles já tinham ido a penaltis nos quartos de final, e nós tínhamos esse conhecimento. Claro que isso vale o que vale, porque os jogadores podem chegar lá e mudar a forma de bater o penálti, mas numa final, num momento tão decisivo, normalmente os jogadores não mudam, para não correr riscos. Então, sabíamos que o meu guarda-redes sabia para onde é que os jogadores deles iam rematar, tanto que ele acertou todos. Houve dois que não defendeu porque foram bem executados e não deram hipóteses, mas defendeu os dois primeiros. Nós marcámos todos, e também aí nós sabíamos como é que o guarda-redes do Muharraq defendia os penaltis, quando era um destro e quando era um canhoto, então avisei os jogadores. Disse que eles eram livres de escolher o lado para onde queriam bater a bola, mas que havia um lado em que tinham mais possibilidades de ter sucesso, porque o guarda-redes se ia a tirar para o outro lado.
Posso confessar-lhe que, no dia anterior, por exemplo, o meu capitão falhou os dois penáltis. Eu disse-lhe: «Amanhã, se formos a penáltis, tu vais ser o primeiro a bater e vais marcar, porque vais bater para aquele lado, e o guarda-redes vai se atirar para o outro.» Foi certinho e direitinho. Eu estava muito confiante nos penáltis, não só por conhecer o meu guarda-redes, mas porque também tínhamos algum conhecimento.
Segunda parte da entrevista ao técnico do Al Ahli Bahrain, que admite sentir pouco crédito ao seu trabalho no seu país, para onde aceitaria voltar se tivesse um projeto que lhe permitisse «lutar por algo bom»