«Nada me faz pensar que não serei o próximo presidente da AF Lisboa»
Vítor Filipe, candidato à presidência da AF Lisboa (Miguel Nunes)

ENTREVISTA A BOLA «Nada me faz pensar que não serei o próximo presidente da AF Lisboa»

NACIONAL01.08.202403:30

Vítor Filipe foi conselheiro de Nuno Lobo ao longo de 12 anos de mandatos e decidiu que é tempo de assumir a liderança. Associação vai a votos dentro de meses e a candidatura é anunciada, e explicada, em exclusivo a A BOLA. Da importância do apoio de Benfica e Sporting aos projetos mais estruturantes

— A Associação de Futebol de Lisboa vai passar por um período eleitoral. Qual é o seu posicionamento?

— Eu sou candidato à presidência da Associação de Futebol de Lisboa (AFL). As eleições serão em dezembro ou janeiro, ainda não estão marcadas, mas estatutariamente serão por essa altura.

— Assume, finalmente, depois de 12 anos ao lado de Nuno Lobo, a vontade de liderar os destinos da AFL. Tem um projeto de continuidade ou de rutura?

­—A minha opinião é que as boas práticas devem continuar, que as coisas que estão bem devem continuar a ser bem feitas. Não me considero, todavia, um candidato de continuidade, antes me considero alguém que reconhece o trabalho realizado. Estive em todos os projetos estruturantes ao longo dos 12 anos ao lado do Dr. Nuno Lobo, tenho a noção do que está bem feito e do que está muito bem feito por ele e pela equipa dele, mas também tenho a noção de que há coisas que devem ser melhoradas. Sinto, pois, o impulso para continuar aquilo que foi bem feito, para que as boas práticas sejam melhoradas, e para alterar aquilo que não estará tão bem. Considero-me sempre uma renovação sem rutura, pois a rutura traz intranquilidade, traz preocupação e se houvesse alguma necessidade de haver rutura, eu, por maioria de razão, tinha a obrigação de ter feito alguma coisa ao longo destes 12 anos. Reconheço, pois, que o Dr. Nuno Lobo trouxe a Associação até aqui e sinto-me pessoa capaz para levar por diante aquilo que é preciso fazer ainda.

— Há coisas que podem ser melhoradas, a que se refere?

— Sabemos que nem tudo, muitas vezes, pode ser feito como nós queremos. Não quer dizer que não fosse uma preocupação do Dr. Nuno Lobo e da sua equipa, mas neste momento a minha preocupação são três, quatro coisas: a digitalização dos serviços, tentar acabar com o papel não só nos serviços, como depois na relação com os clubes; a informatização da relação entre Associação e clubes: a formação de todos os agentes desportivos, dos dirigentes, dos treinadores, dos funcionários também, é essa a minha preocupação em relação (3:44) à formação; e também a responsabilidade social. Nós, Associação, tínhamos cerca de 35 mil atletas inscritos, agora a nova época desportiva determinará o número de atletas inscritos.

— E Lisboa é um distrito vasto e com realidades bem diferentes.

— O Distrito de Lisboa é muito heterogéneo, é muito diferente de concelho para concelho, nem todos têm a mesma capacidade de trabalho, de organização, o arrendamento per capita é muito diferente comparando Cascais, Oeiras ou Lisboa em relação a outros concelhos mais afastados. Tenho, pois, essa noção de responsabilidade social e a sustentabilidade é muito importante, poder estar ao lado dos clubes. Tenho andado a fazer o périplo por todos os concelhos e por todos os clubes do Distrito de Lisboa, dos clubes que têm um voto aos clubes que têm maior número de votos. Há clubes que só têm um voto, porque só têm uma equipa, não têm condições para ter mais, mas nós, Associação, podemos talvez contribuir para que esses clubes possam ter mais equipas, dinheiro para ter mais equipas, dinheiro para ir buscar jovens a 5, 7, 8 quilómetros.

— São linhas mestras da sua candidatura, há outras?

— Estas dizem respeito aos pilares das minhas preocupações, outras são dar continuidade, tornar realidade a Vila do Futebol. A Associação já fez um protocolo, já tem um contrato assinado com a Câmara Municipal de Mafra, onde nos foram atribuídos 10 hectares para construirmos a Vila do Futebol. Acompanhei a venda das frações do Chiado e a compra do prédio do Marquês de Pombal e ficámos com 4 milhões e 100 mil euros de mais-valia, com o apoio que a Federação Portuguesa Futebol dá às associações quando querem construir infraestruturas, são mais 600 mil euros. Já nos candidatámos e estamos neste momento a ultimar o processo. Estes 4 milhões e 700 mil euros não são para gastar, não é para alguém que venha com outras intenções, aquele dinheiro é para aplicar em património, é para que nós, quando nos formos embora, deixemos mais património do que aquele que encontrámos. Isto em relação à Vila do Futebol.

— E pode explicar-nos o que é, em concreto, a Vila do Futebol?

— A Vila do Futebol é um espaço de 10 hectares, no Milharado, freguesia da Câmara de Mafra. Vamos construir dois campos de relva natural, mais dois de relva sintética, um pavilhão e um campo de futebol de praia. Na primeira fase são dois campos de relva natural, um deles com bancada. Na segunda fase é o pavilhão e o futebol de praia. E a terceira fase é um hotel, que vai ter 40 quartos para poder alojar equipas. Posso dizer que a Federação já nos pediu para alojar eventualmente uma seleção durante o Mundial-2030.

— Estamos a falar de um contexto eleitoral e o antigo árbitro Rui Rodrigues é também associado a uma candidatura. Que opinião tem sobre ele?

— Não conheço Rui Rodrigues. Tenho ouvido dizer muito bem de Rui Rodrigues, que não conheço, mas acho que tem toda a legitimidade para candidatar-se, como eu também. Tenho acompanhado Nuno Lobo e a Associação em todos os processos, em todos os projetos estruturantes. Quanto a Rui Rodrigues, nunca o vi em qualquer Assembleia Geral, nem em qualquer projeto estruturante na Associação. Estou lá porque quero estar, não estou lá porque me pedem para estar lá.

— Qual é, atualmente, o peso da AFL? Peso político, peso estrutural?

— A Associação tem relação com todo o quadrante político, em termos estruturais apoia 233 clubes, tem cobertura em todos os concelhos.

— Qual é a relação da AFL com os dois grandes da Associação, Benfica e Sporting?

— É uma relação institucional boa, natural, até porque, por uma maioria de razão, são aqueles que têm uma expressão maior.

— Sendo os clubes de maior dimensão da Associação, imagino que seja importante ter o apoio deles.

— Benfica e Sporting são dois clubes importantes da AFL. São importantes para a minha candidatura, sendo certo que eu estou a fazer o périplo por todos os clubes da Associação, que são neste momento 233. Desde o clube que tem um voto até ao clube que tem mais votos. O apoio de Benfica e Sporting é, naturalmente, importante, mas o apoio de todos os outros a quem tenho ido bater à porta e apresentado a minha candidatura, também.

— E qual é o ponto da situação em relação ao apoio dos clubes à sua candidatura?

— Espero o apoio dos clubes, já contactei mais de 50 por cento dos clubes que fazem parte do Colégio Eleitoral da AFL e estou muito confiante na minha vitória, nada me faz pensar que não serei o próximo presidente da Associação.

— Seria viável recuperar a Taça de Honra da AF Lisboa? Houve uma altura em que era jogada pelos maiores clubes da Associação, e com as melhores equipas, como aconteceu no verão de 2014, no Estádio do Restelo.

— É engraçado, é uma boa pergunta. A Taça de Honra fazia 100 anos em 2014. É difícil, face aos montantes envolvidos, mas conseguimos então que as televisões nos dessem algum apoio, que foi depois distribuído pelos clubes que estavam envolvidos, Estoril, Benfica, Sporting e Belenenses. Os meios financeiros envolvidos não satisfazem, mas é realmente um sonho e um objetivo, há que lutar por isso. Era bonito, até porque funcionava, normalmente, como a apresentação das equipas. Vamos escolher datas, analisar os meios envolvidos, na altura foi a televisão do Benfica, a BTV, a pagar pela transmissão. E também queremos criar a Taça de Honra do Futsal, nunca foi feito.

— Qual é a situação financeira da AFL? Há preocupação nesse ponto?

— Não é uma preocupação, a Associação tem a situação perfeitamente controlada. Há depósitos a prazo no valore de cerca de €4.2 milhões, temos este dinheiro para aplicar na construção da Vila do Futebol, mas as nossas receitas e despesas estão perfeitamente equilibradas. Aliás, todos os anos temos dado um apoio significativo aos clubes, há um apoio significativo porque há condições para isso. Podemos, todavia, tentar minimizar custos.

— O futebol feminino desenvolve-se como nunca. Qual é a relação da Associação de Futebol de Lisboa com o futebol feminino e como se enquadra no seu projeto?

— Faz, claro, parte do meu projeto de desenvolvimento. Tem-se desenvolvido nos clubes e daí também a nossa preocupação com as instalações. Queremos, por exemplo, dar condições ao futebol feminino também em termos das cabines para os árbitros. E não só. Por vezes as jogadoras só podem treinar-se depois das 22.30 horas, quando os seniores masculinos abandonam as instalações, são sempre prejudicadas, mas se nós conseguirmos dar condições aos clubes para que elas possam treinar-se também às 19.30 horas, 20 horas, com campos, com cabines que lhes serão exclusivamente dedicados… É importante dar condições aos clubes para que as instalações possam acomodar também o futebol feminino. É bonito ter mais inscrições no futebol feminino, mas também é bonito ter condições.

— Nuno Lobo, que aconselhou durante 12 anos, está envolvido na candidatura à Federação Portuguesa de Futebol. Pode contar com o seu apoio?

— Tenho o apoio do Dr. Nuno Lobo e se ele me pedir apoio, terá o meu apoio. Acompanhei-o ao longo destes 12 anos, sei do que ele é capaz, conheço-o bem, sei que é determinado. Não lhe posso dizer que não, tenho ótima relação também com Pedro Proença [presidente da Liga Portugal e provável candidato à Federação Portuguesa de Futebol], mas nunca renego as minhas origens. Estive envolvido nestes 12 anos de mandatos de Nuno Lobo, sempre em projetos estruturantes. Olhando para trás, vejo a mudança de instalações, o lançamento da revista da AFL, o lançamento da AFL TV. E a digitalização do serviços é muito importante e é também uma das minhas preocupações.

Renúncia ao Conselho de Justiça da FPF

— Tendo em conta que há uma candidatura assumida à presidência da Associação de Futebol de Lisboa, qual será a sua decisão em relação às funções no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol?

— Eu, neste momento, sou membro do Conselho de Justiça da Federação e não há qualquer impedimento enquanto candidato. Não obstante, a minha intenção é a seguinte: a partir do momento em que eu lançar a candidatura oficial, renuncio ao cargo de membro do Conselho de Justiça da Federação.

— Está a assumir a candidatura em A BOLA, mas pergunto quando tenciona a lançar oficialmente a candidatura?

— Não tenho uma data certa, mas presumo que venha a ser uma ideia para ser posta em prática durante o mês de setembro. Em setembro farei a apresentação oficial da candidatura.