Mundo novo sem ser admirável (a crónica do Arouca-Benfica)
Arthur Cabral marcou o segundo golo pelo Benfica (Foto: DR)

Mundo novo sem ser admirável (a crónica do Arouca-Benfica)

NACIONAL31.10.202323:37

Benfica volta às vitórias com uma novidade: sistema tático com três centrais. Triunfo justo, exibição cinzenta e mais dúvidas que certezas

Sob o peso da pressão de uma derrota com a Real Sociedad que quase esmagou a mais ténue esperança na Liga dos Campeões e de um empate, também na Luz, com o Casa Pia para o campeonato, e também do castigo dos adeptos em forma de contestação aos resultados e exibições, o Benfica cumpriu os serviços mínimos em Arouca, fez o que lhe competia - ganhar - mas, seguramente, ainda sem a capacidade de acabar com dúvidas que podem corroer as mais sólidas fundações. E, pelo que também se viu, as do Benfica estão ainda longe de dar garantias absolutas contra os mais fortes tremores ou abalos.

Em Arouca, para lá do triunfo, significativo no Benfica foi, também, a inovação tática de Roger Schmidt, que o futuro tratará de esclarecer se foi apenas reação às atuais circunstâncias (vários jogadores lesionados e outros em má forma) ou solução para um problema maior (falta de qualidade do jogo da equipa). Uma equipa, para o bem e para o mal, é sempre aquilo que faz mais vezes. E se o Benfica começa de novo, com um sistema tático (3x4x3) de três centrais, não sabe aquilo que é agora nem aquilo que será. É provável, porém, que a opção de Roger Schmidt tenha sido mesmo pontual, até porque pelo visto o Benfica não tem os jogadores com as características que o sistema pede.

Não foi um Benfica brilhante, longe, disso aquele que venceu em Arouca. Dificilmente poderia ter sido, pelo contexto e circunstância de estrear um sistema (de início). Mesmo sem ser exposto a dificuldades, mesmo jogando sem pressão do adversário quando tinha a bola no pé, o que não acontecerá contra equipas mais fortes, tornou-se depressa óbvio que faltavam rotinas e, sem elas, dinâmica para alimentar volume de jogo ofensivo. Muitas vezes Florentino desceu para iniciar as jogadas, pegou na bola, juntinho a Otamendi, de costas para a baliza do Arouca, e quando se voltou de frente para o jogo só via Aursnes para entregar a bola. E o norueguês poucas linhas de passe encontrou para combinar com companheiros. Do lado contrário, menos em jogo, João Neves não deu profundidade ao corredor. João Mário, mais esclarecido no centro, conseguiu, um par de vezes, servir os avançados no espaço atrás dos defesas, numa delas Gonçalo Guedes desperdiçou boa oportunidade.

Continua a ser preocupante, ainda na perspetiva do Benfica, a facilidade com que a equipa se desequilibra, dá espaços e fica exposta a contra-ataques perigosos. Aconteceu duas vezes na primeira parte (18’, 36’), mais outras quatro na segunda (49’, 53’, 89’ e 90+1). Não é de estranhar, como tal, que o Arouca tenha acabado com mais remates enquadrados (5) que o Benfica (4).

Di María voltou!

E foi, curiosamente, no único remate enquadrado dos primeiros 45 minutos, na execução de um livre direto (26’), que Di María abriu o caminho da vitória. Essa foi, aliás, outra boa notícia para os encarnados. O campeão do mundo argentino mostrou que voltou mesmo a valer e que está mesmo recuperado da lesão muscular. Dos lances individuais de Di María viveu muito o Benfica - remate perigoso no primeiro minuto, canto venenoso aos 7’, lances castigados com faltas à entrada da área aos 9’ e 26’, cruzamento a convidar Guedes para o golo aos 35’. Saiu aos 54’ logo depois de grande passe para João Mário marcar, mas o golo seria anulado por fora de jogo de Guedes. O Benfica, no ataque, esteve muito dependente de lances individuais, especialmente, de Di María para criar perigo. Ele é o melhor marcador da equipa com sete golos em todas as provas.

Também bom, para o Benfica, foi Arthur Cabral ter marcado. O Arouca, à passagem dos 60’, lançou-se ao ataque e abriu mais espaços. Lançado por Tengstedt, o avançado brasileiro, mesmo com o peso dos €20 milhões que custou e da exigência de substituir Gonçalo Ramos, correu todo o meio-campo e rematou já na área para o segundo golo. Talvez esse lance lhe tenha valido a titularidade, sábado, em Chaves. Este dúvida será esclarecida depressa. Outras, provavelmente, não.