Mónaco-Benfica, 2-3 Mas que grande noite europeia, Benfica! (crónica)

NACIONAL27.11.202422:52

Não foi uma vitória qualquer, foi uma daquelas vitórias que resistem à erosão do tempo. Mais do que relançar a equipa na Liga dos Campeões alimenta, como poucas, a história do clube

MONTE CARLO — É fácil e preguiçoso descrever, assim de início e em menos de um fósforo, a vitória do Benfica como épica. E, no entanto, cá estamos a dizer que se não foi andou pelo menos perto de ser. Ficará ao critério de cada um. O que é certo é que, para começar, relança o Benfica na qualificação para a fase seguinte da Liga dos Campeões. E também é certo foi grande noite europeia dos encarnados, daquelas que resistem à erosão do tempo e que alimentam, com grandeza, a história do clube. Sentiu isso quem festejou, e como festejou nas bancadas, e quem esteve lá dentro. Foi uma vitória imperfeita e, também por isso, só a eleva, porque obrigou a equipa a superar contrariedades.

Foi uma vitória num jogo carregadíssimo de emoções, com duas equipas a querer ganhar ganhar, com velocidade e perigo constantes, com oportunidades, com golos validados e golos anulados, com incertezas e dúvidas, com lances bonitos e erros dramáticos, com uma expulsão validada e outra protestada, com mudanças no controlo do jogo, com grande ambiente nas bancadas, com o Benfica a vencer depois de duas vezes em desvantagem.

Mesmo com o conforto de três vitórias e um empate nos quatro primeiros jogos foi o Mónaco que entrou com urgência de marcar, como se o apuramento dependesse do resultado, superintenso a pressionar a saída de bola do Benfica, a ganhar duelos e a cortar linhas de passe, a sufocar os encarnados, a lançar vagas fortes e rápidos de ataque, a criar oportunidades e a marcar aos 13’ depois de uma saída velocíssima para o contra-ataque que nasceu de uma falha de pressão dos encarnados que desequilibrou a equipa a deixou caminho livre para a baliza de Trubin.

O Benfica demorou a encontrar-se — passes errados, no início da construção ou já no meio-campo adversário, dribles falhados e pouca bola. Começou a reagir depois dos 15’, a encontrar referências de saída para o ataque e a chegar à baliza. Aos 16’ Pavlidis teve uma oportunidade, mas estava em fora de jogo, aos 18’ as águias beneficiaram do primeiro canto e, nesse período, o jogo estava aberto, descontrolado e produzia faíscas nos duelos.

O Mónaco, no entanto, esgotou o combustível inicial ao mesmo tempo que o Benfica ganhou confiança e serenidade e, mesmo sem o conforto de quem domina um jogo, assumiu a iniciativa. O Benfica foi crescendo na construção ofensiva e na recuperação da bola, o Mónaco intimidou-se e sentiu o perigo, cometeu erros. À meia hora já o Benfica tinha tomado conta das operações — Carreras quase marcou 32’ num remate que sofreu um desvio de um defesa, Di María foi isolado por Ben Seghir e permitiu a defesa de Majecki aos 37’, Otamendi cabeceou com perigo no canto logo a seguir, Akturkoglu esteve perto de empatar aos 40’, num lance que nasceu de uma falta que deveria ter valido a Carreras o segundo amarelo. Por essa altura já o miniestádio da Luz fervia com iminência de golo. Que, porém, não chegou, mas alimentou, antes do intervalo, a esperança dos benfiquistas nas bancadas.

Os primeiros 10’ da segunda são de loucos. Embolo rematou ao poste de Trubin, um minuto depois o Benfica empatou por Pavlidis, que aproveitou um corte de Caio Henrique para a terra de ninguém, antecipou-se a Majecki e rematou sem alguém pela frente. No minuto seguinte Akliouche também marcou, mas estava fora de jogo, quatro minutos depois voltou o Benfica a marcar, mas desta vez foi Di María que estava fora de jogo antes de fazer o passe para Bah. Uf, quem conseguia respirar? E logo a seguir Singo foi expulso.

O lance acabou por arrefecer o jogo. Lage tentou mexer nele para ganhar, substituiu Florentino e Pavlidis por Amdouni e Arthur Cabral, aos 65’. Aos 67’ já estava a perder outra depois de Magassa ter surgido na área do Benfica para marcar um penálti em movimento. O Benfica acusou o golo e foi depois o Mónaco a ameaçar Trubin, uma, duas e três vezes, mesmo com menos um. Teria forças para tanto e para mais? Foi tendo porque o Benfica voltou a falhar, partiu-se em dois quando perdeu a bola. Mas voltou a renascer como fénix e voltou a empatar, depois de um grande cruzamento de Di María para grande cabeceamento de Di María. Depois só deu Benfica. E deu para Di María encontrar Amdouni e este marcar o golo da vitória. E que vitória.