«Mandíbula mortal do tubarão sueco», a crónica do Sporting-Gil Vicente
Gyokeres marcou dois e viu dois serem anulados (Miguel Nunes/ASF)

«Mandíbula mortal do tubarão sueco», a crónica do Sporting-Gil Vicente

NACIONAL04.12.202323:27

Susto leonino no 0-1, azar gilista no 1-1; Amorim trocou três ao intervalo e depois reapareceu em força Viktor Einar Gyokeres

OS tubarões, como se sabe, reagem ao sangue. Podem andar mais calmos, sossegados em águas quentes ou frias, mas, se cheiram sangue, atacam. Mordem, trucidam, assassinam. Foi assim em Alvalade. Rúben Fernandes, ao minuto 34, desviou de cabeça para o 0-1. Quem estava a marcá-lo? Gyokeres, o Viktor. O golo do Gil Vicente feriu o Sporting e, sobretudo, acicatou as furiosas mandíbulas do tubarão sueco. A partir daí, talvez por sentir necessidade de corrigir o que fizera de menos bem no golo gilista, Gyokeres trucidou tudo e todos: marcou dois golos e viu serem-lhe anulados outros dois por fora de jogo (23 cm +17 cm). O leão regressa à liderança isolada depois da incrível derrota na Luz e regressa ao topo com o carimbo do homem de Estocolmo.

Poderá parecer um exagero, mas há um leão com o sueco em campo e outro quando ele não está. O Sporting já ganhou sem Gyokeres e já perdeu com ele. Porém, há algo de transcendente no jogo leonino quando o número 9 está presente. O futebol é um jogo coletivo, claro que sim, nada numa equipa se faz sozinho, tudo se constrói com a ajuda de todos, mas o impacto de Gyokeres no Sporting, na Liga portuguesa e, sobretudo, neste jogo com o Gil Vicente, foi tremendo. O leão, de momento, é Viktor e mais dez.

Deixemos o individual e passemos ao coletivo. O GilVicente teve argúcia para chegar ao 0-1 e depois, pouco depois, teve o azar de ver Pedro Tiba desviar a bola, no pós-remate de Nuno Santos, para o fundo da baliza de Andrew. Teve azar o Gil e teve sorte o Sporting.Esteve sempre à procura dela, mereceu-a, mas nada melhor do que o empate ter surgido ainda antes do descanso.

Rúben Amorim decidiu mexer ao intervalo. Aliás, não foi uma mexida, foi quase uma revolução: Gonçalo Inácio por St. Juste, Ricardo Esgaio por Geny Catamo e Nuno Santos por Matheus Reis. A não ser que algum estivesse lesionado ou tocado, a ideia mostra que o treinador não estava satisfeito com algo. Com o rendimento individual de algum deles ou, o que parece mais provável, porque queria mudar qualquer coisa ao trocar a zona do ala mais ofensivo (era Nuno Santos na esquerda, passou a ser Geny Catamo na direita) e de ala mais defensivo (era Esgaio na direita, passou a ser Matheus Reis na esquerda).

A verdade é que não houve tempo para se perceber se as trocas de Rúben Amorim causariam impacto no jogo do Sporting e problemas no Gil Vicente. E porquê? Porque entrou em cena o tal tubarão sueco, que andava a cheirar sangue há quase meia hora e, de repente, começou a morder, a trucidar e a assassinar, com o devido exagero colocado nesta última palavra. O Sporting até poderia ganhar sem que Gyokeres se transcendesse tanto como se transcendeu, o mais provável seria mesmo ganhá-lo sem ajuda tão marcante do seu número 9, mas a verdade é que foi ele quem catapultou a equipa para uma vitória fácil, ao marcar dois golos em quatro minutos e, mais tarde, a ter outro (bem) anulado por fora de jogo.

A última meia hora não trouxe golos ao jogo, mas a exibição leonina continuou quase igual: Gil Vicente encostado à sua área, Sporting a tentar construir dos dois lados e Gyokeres, esfomeado e quase indomável, a querer marcar mais e mais. Esteve perto, mas não chegou lá. Boa exibição do Sporting, muitíssimo boa exibição de Gyokeres, exibição sofrível do Gil Vicente. Nada de estranho. Os gilistas ainda não somaram qualquer ponto fora de casa e os verde-e-brancos ainda não perderam um que fosse.

O Sporting regressa, assim, à liderança isolada, mantém cadência de potencial campeão, mas o campeonato ultrapassou apenas o primeiro terço. Rúben Amorim sabe-o e sabem-no os sportinguistas racionais e lúcidos. Porém, enquanto o tubarão sueco mostrar tanta voracidade por atacar o que lhe passa por perto, o leão estará sempre muito mais perto de ganhar.