Lusitânia de Lourosa: uma cidade a sonhar com um feito histórico em ano de centenário
Anfiteatro lusitanista está preparado para um final de temporada em grande. (Foto: Lusitânia de Lourosa)

Lusitânia de Lourosa: uma cidade a sonhar com um feito histórico em ano de centenário

NACIONAL24.03.202408:30

Leões de Lourosa estão bem posicionados para subirem à Liga 2; caso consiga a promoção, clube chegará pela primeira vez aos campeonatos profissionais; haveria melhor prenda para a comemoração dos 100 anos?; Hugo Mendes, presidente, e Nuno Correia, diretor-geral, abrem, em uníssono, o coração a A BOLA: «a crença está bem viva, mas ainda há (muito) caminho a percorrer»

Lourosa. Concelho de Santa Maria da Feira. Distrito de Aveiro. É por aqui, nesta altura, que a paixão clubística está mais acesa do que nunca. Afinal, Lourosa é uma cidade a sonhar com um feito histórico. E logo em ano de centenário do Lusitânia.

Fundado a 24 de abril de 1924 - a efeméride comemora-se de amanhã a um mês -, o Lusitânia de Lourosa está a um (pequeno) passo de atingir a bonita idade com um dado absolutamente inédito na vida do clube: a chegada aos campeonatos profissionais do futebol português. Haverá melhor prenda? Dificilmente...

O caminho ainda é longo, é um facto, mas a tabela classificativa da fase de subida à Liga 2 não mente: o Lusitânia de Lourosa está numa posição (altamente) privilegiada para garantir a promoção. Disputadas que estão 6 de 14 jornadas, os lusitanistas lideram de forma destacada, com 16 pontos, tendo já mais 5 que os concorrentes mais próximos, SC Braga B e Alverca.

E se o presente é prometedor, o futuro próximo pode deixar tudo ainda mais bem encaminhado. Tudo porque, na próxima jornada, o Lusitânia de Lourosa defronta, precisamente, o Alverca, sendo que, em caso de triunfo no Ribatejo, o passo para a subida de divisão passa a ser gigante.

O cenário é animador e A BOLA quis perceber qual é o estado de espírito que se vive, por estes dias, no seio do clube. Mas mais do que ouvirmos os artistas - fica prometida a reportagem para o final da época, caso o clube garanta a promoção ao segundo escalão nacional -, achámos importante absorver as ideias de quem lidera. As figuras que, maioritariamente na sombra, tudo fazem para que jogadores e equipa técnica possam ter sucesso.

Porque se o futebol é jogado dentro das quatro linhas, com a qualidade dos artistas e a perícia dos treinadores, também não é menos verdade que todo o chamado trabalho de gabinete é absolutamente fundamental para que o processo passe da teoria à prática.

Chegámos, pois, ao contacto com o líder máximo do clube. Hugo Mendes, 41 anos, está há sete na presidência do Lusitânia de Lourosa. Sempre foi um apaixonado pelos lusitanistas e quando teve oportunidade de avançar para a liderança do projeto, não hesitou. E nessa altura já tinha um objetivo muito claro em mente. Tal como o próprio confessa a A BOLA.

Hugo Mendes dá corpo ao sonho que projetou há sete anos. (Foto: Lusitânia de Lourosa)

«Quando, há sete anos, decidi avançar com uma candidatura à presidência do Lusitânia de Lourosa, disse que o meu grande sonho era colocar o clube nos campeonatos profissionais. Sendo que, recorde-se, na altura estávamos nos campeonatos distritais da AF Aveiro. Foi, pode dizer-se, uma bandeira da minha candidatura, e agora... estamos perto», assume.

Mas o «perto» é só mesmo isso. Às portas de. É preciso fazer o resto do caminho. E é precisamente por essa razão que as palavras ainda são de compreensível cautela: «Lá está. Estamos perto, é um facto, mas também sabemos que ainda nada está conquistado. Para que possamos, lá mais para a frente, festejar aquilo que tanto desejamos, temos de continuar o nosso percurso de forma humilde e com foco total no trabalho diário. Só assim, tal como temos vindo a fazer, é que poderemos chegar ao final do trajeto e dizer que conseguimos alcançar esse feito.»

No entanto, e mesmo perante total pragmatismo, quisemos saber os motivos do sucesso até ao momento. Até porque, e nunca é de mais recordar, os leões de Lourosa subiram este ano à Liga 3 - prova onde participam pela segunda vez no seu historial. Na época passada, sublinhe-se, o clube estava no Campeonato de Portugal. Poderá, pois, estar na forja a segunda subida consecutiva. Hugo Mendes distribui os louros por todos quantos fazem parte da estrutura. Afinal, nada se consegue sozinho.

«O momento é de enorme felicidade, não há como esconder. Felicidade pelo excelente trabalho que está a ser realizado. Desde os elementos da Direção, a toda a estrutura, passando, logicamente, pela equipa técnica e pelos jogadores. Temos um grupo muito forte, dentro e fora de campo. É aquilo a que se convencionou chamar de verdadeira família», sublinha o líder.

Nuno Correia, diretor-geral, e Hugo Mendes, presidente, são os rostos do sucesso atual vivido nas hostes lusitanistas. (Foto: Lusitânia de Lourosa)

E o espírito familiar nos clubes envolve, por norma, os adeptos. Só assim faz sentido. E se há coisa de que os jogadores do Lusitânia não se podem queixar é de falta de apoio do famigerado décimo segundo jogador: «Sem dúvida nenhuma. Os nossos adeptos são extremamente apaixonados, vivem o clube de uma forma ímpar, e não é por acaso que temos os números de assistências que temos quando jogamos em casa. Além disso, devo sublinhar a fidelidade deles quando jogamos fora de Lourosa. Nunca jogamos sozinhos, temos sempre um apoio tremendo.»

Só para se ter um ideia, no último jogo em casa, diante do Atlético (3-1), o Estádio do Lusitânia de Lourosa voltou a receber uma extraordinária moldura humana, com 4.482 adeptos presentes nas bancadas. Não estava cheio... mas quase.

E essa força que emana dos apaixonados aficionados lusitanistas tem o condão de empurrar a equipa. Porque o impacto que advém de quem tanto sente o clube entranha-se nos jogadores. Mesmo em momentos em que as forças parecem já estar a fugir das pernas dos artistas... E no final, a festa pela conquista de mais três pontos:

Sendo que o tal «espírito de família» aclamado pelo presidente do emblema aveirense também é comprovado através dos vários momentos que marcam os dias de jogos.

É uma comunhão total que emerge da relação entre todos os elementos da estrutura e que depois tem reflexos óbvios no rendimento dos jogadores nos momentos... a doer.

Quem também tem uma dose de enorme responsabilidade nos méritos que o Lusitânia de Lourosa tem alcançado é Nuno Correia. O atual diretor-geral do clube está ligado ao futebol há muitos anos, tendo sido agente FIFA com a própria empresa criada (NCfoot), mas o projeto que lhe foi apresentado por Hugo Mendes foi demasiado motivador para que não o aceitasse.

Deixou o agenciamento e partiu em busca de novos horizontes. Quem o conhece garante que determinação é o seu nome do meio e talvez isso ajude a explicar a decisão que tomou para dar esta novo passo na carreira. Levou consigo para Lourosa um sonho, mas, de forma, humilde, diz que só quer acordar quando o despertador tocar. Porque, nesse momento, viverá a realidade.

«O mais importante é o dia de hoje. É hoje que temos mais uma oportunidade de preparar o próximo jogo. Amanhã é outro dia. E aí, também o mais importante será preparar o próximo jogo. Será sempre assim ao longo desta caminhada. Claro que todos pensamos mais além, todos imaginamos um mundo perfeito, mas de nada serve sonharmos se nada fizermos para alcançarmos os nossos objetivos. Claro que tenho noção do que temos feito, o Lusitânia de Lourosa está numa posição privilegiada para poder subir de divisão, mas isso, nesta altura, vale o que vale. Ao trabalho, que ainda há muito por fazer», começa por dizer a A BOLA.

Nuno Correia sublinha a importância do trabalho diário para o sucesso do clube. (Foto: D. R.)

Nuno Correia é um verdadeiro diretor-geral. São (muitas) mais as horas que passa no clube do que com a família. Vive intensamente as funções que desempenha e é uma peça fundamental na estrutura lusitanista. No entanto, e devido à sua personalidade, sempre preferiu manter o low-profile. Raras foram as aparições públicas que teve desde que chegou ao clube. O que o move é a organização e a metodologia. Só assim, com uma liderança forte, é que o sucesso pode ser alcançado: «Ninguém consegue nada sozinho. Naturalmente que tenho noção das minhas responsabilidades, e também por isso tenho o meu foco sempre muito virado para o trabalho. Tal como diz o presidente, e muito bem, temos de manter sempre os pés bem assentes na terra. Com a noção de que podemos escrever uma página dourada na história do clube, mas extremamente convictos de que nada está conseguido. Há que manter a humildade e continuar a dar passos seguros.»

A meta está próxima. Apesar das naturais precauções de Hugo Mendes e Nuno Correia, a verdade é que em Lourosa há uma cidade a sonhar... acordada. Há, percebe-se, um abraço entre clube e adeptos. De todas as idades:

No início da temporada, o objetivo principal era só um: garantir a permanência na Liga 3. E, para isso, bastava, numa primeira etapa, selar o apuramento para a fase de subida. Se isso fosse conseguido, então era certo que o Lusitânia de Lourosa iria pontificar na mais jovem competição do calendário nacional na época 2024/2025. Mas já nessa altura, curiosamente, Jorge Pinto, treinador dos lusitanistas, dava corpo ao (tal) sonho. Que, não sendo deliberadamente assumido, também não estava propriamente... escondido.

Se o centenário está a um mês de distância, o final do campeonato está a praticamente dois. Sendo que, a julgar pela amostra, pode até nem ser preciso chegar às derradeiras jornadas para que o Lusitânia de Lourosa carimbe o passaporte para a Liga 2.

Jogadores e adeptos em momento de perfeita comunhão. (Foto: Lusitânia de Lourosa)

Alverca (fora), Varzim (fora), Covilhã (casa), Académica (fora), Felgueiras (fora), SC Braga B (casa), Atlético (fora) e Alverca (casa). É este o calendário do Lusitânia de Lourosa até ao final da presente edição da Liga 3. Os dados estão lançados e os lusitanistas... mandados. Para o sucesso. Para um sonho que a cidade (já) vive intensamente. Tudo o que os adeptos querem é ver os seus leões nos mais altos patamares do futebol português. E haveria melhor prenda dos 100 anos de história do que a subida à Liga 2?...

Anfiteatro lusitanista está quase sempre cheio. (Foto: Lusitânia de Lourosa)