Luisinho: «Impressionei Balakov? Quem me impressionou foi ele!»
Luisinho numa visita a Alvalade, depois de ter representado o clube entre 1989/1990 e 1992/1993 (Miguel Nunes)

Luisinho: «Impressionei Balakov? Quem me impressionou foi ele!»

INTERNACIONAL23.04.202409:30

Antigo central responde aos elogios do búlgaro em entrevista a A BOLA; as (boas) memórias de Alvalade do antigo internacional brasileiro; Marinho Peres, Sousa Cintra e o título que faltou

SÃO PAULO — Foi uma das muitas notas especiais da longa entrevista de Balakov a A BOLA. Um elogio que depressa chegou ao visado. Recordemos as palavras.

«Tecnicamente, Luisinho era brilhante, olhava para a esquerda e passava para a direita, olhava para a direita e passava para a esquerda, ele fazia em 1990 o que se faz hoje no futebol moderno, um defesa tem de ir para a frente com bola», elogiou Balakov, que chegou a partilhar balneário com o brasileiro nos leões.

As palavras de Balakov foram ouvidas do outro lado do Atlântico. Pelo defesa que marcava a diferença pela classe e capacidade técnica invulgar para aquela posição. Um central com uma leitura de jogo fantástica que se notabilizava pela competência no desarme sem necessidade de recorrer a faltas. Internacional brasileiro — fazendo parte (como titular) da grande equipa que maravilhou o mundo no Mundial de 1982, em Espanha —, o defesa chegou a Alvalade em 1989. Com 30 anos. A tempo de se tornar no patrão da defesa leonina.

Luisinho representou o Sporting entre 1989/1990 a 1992/1993 (A BOLA)

Essa passagem não foi esquecida por Balakov, um médio que deixou, igualmente, lastro de qualidade em Alvalade. Os elogios do búlgaro chegaram, então, a Luisinho, que, através de A BOLA, fez questão de responder. Na mesma moeda…

«Se ele disse isso de mim, claro que sinto muito prazer, ouvir um elogio de um grande jogador e grande companheiro como ele, é uma maravilha», diz Luisinho, que foi mais longe: «Mas o Balakov é que me impressionou a mim! A rapidez dele com a perna esquerda com a bola colada ao pé, a técnica apurada, de cabeça levantada para ver os companheiros a quem passar, aquele remate, ele era, realmente, de impressionar qualquer um.»

Escassearam troféus

Natural de Minas Gerais, no Brasil, Luisinho deixou uma marca indelével nos leões. Um selo de enorme qualidade que, ainda assim, não foi correspondido em termos coletivos com títulos. Luisinho não esquece os craques leoninos, como Balakov, entre outros, de uma equipa à qual faltou um título...

«Só lamento isso… Porque a nossa equipa era muito boa, muito técnica, lembro-me assim de cabeça do Carlos Xavier, na direita, do Oceano, um médio muito valente, todas as equipas têm de ter alguém assim, do Venâncio, meu 'parceiraço' na defesa, do Douglas, do Silas, lembro-me do Gomes, claro, do Cadete, de quase todos, infelizmente faltou um título...»

Matthaus em lance com Luisinho e Balakov a ver, num jogo da Taça UEFA, no Giuseppe Meazza, em 1991, ante o Inter (A BOLA)

Marinho Peres e Sousa Cintra

Essa ausência de títulos deixa Luisinho a… divagar. «Às vezes penso nisso, sabe?... Se tivesse um título ficaria marcado na história do Sporting, no coração dos leões, será que mesmo sem ganhar fiquei na história e no coração da torcida? Tomara que sim...», afirma.

O antigo central, hoje com 65 anos, lembra-se então, de repente, do treinador que mais o dirigiu em Alvalade. E do presidente leonino daquele início dos anos 90: «Claro que me lembro do Marinho Peres, entre outros treinadores, e do Sousa Cintra. Se era meio maluco? Não, era um maluco completo!»

Luisinho, agora reformado, diz ter mais tempo para acompanhar os clubes do coração, o Atlético Mineiro e, claro, o Sporting: «Hoje estou reformado, vida de reformado mesmo, moro em Nova Lima, aqui ao lado de Belo Horizonte, cidade tranquila, vida tranquila, só cuido das minhas coisas, no ramo imobiliário. De vez em quando sento-me a ver jogos na TV, agora tenho tempo para ver o Atlético, que ganhou ontem [anteontem] ao Cruzeiro pelo Brasileirão, para o rival entender que quem manda em Minas Gerais e naquele estádio é o galo. Para ver o Sporting, tenho acompanhado sempre que posso, aliás, me diga uma coisa, já é campeão matematicamente ou ainda falta um pouco?», questionou, a terminar.

«Hoje a velocidade é privilegiada»

As mudanças do futebol no setor defensivo e a entrada positiva de treinadores portugueses, com Abel Ferreira em destaque, no Brasil... Luisinho não hesita: a chegada de treinadores portugueses no Brasil foi benéfica para a evolução do futebol brasileiro. E explica as razões…

«O Abel abriu as portas e ainda bem, sabe, o treinador brasileiro estava muito acomodado, era muito comodista, sem estudar mais, sem se reciclar, sem entender que o futebol de hoje está a ficar cada vez mais em velocidade, resistência, os jogadores correm 18 quilómetros por jogo às vezes, aliás a velocidade substituiu a técnica, já não se veem tantos jogadores da minha posição técnicos», constatou o antigo defesa, recordando outros nomes marcantes na posição…

Luisinho num jogo contra o FC Porto, em Alvalade, em 1989 (A BOLA)

«Aqui no Brasil havia muitos e na Europa também, como o Koeman, que tinha habilidade com bola», afirma o craque da histórica seleção brasileira do Mundial de 1982, registando que «nessa seleção imperava a habilidade». «Além do meio-campo brilhante com Cerezo, Falcão, Sócrates ou Zico, eu e o Oscar na zaga também éramos jogadores de técnica, hoje a velocidade é privilegiada em detrimento da habilidade com bola.»