Louca chegada ao destino escolhendo o pior caminho: a crónica do Toulouse-Benfica

Louca chegada ao destino escolhendo o pior caminho: a crónica do Toulouse-Benfica

INTERNACIONAL22.02.202421:23

Valeu ao Benfica a proteção de S. Cristóvão e de S. Trubin. Assim tão frágil e inseguro qualquer adversário se transforma num gigante

O Benfica chega aos oitavos de final da Liga Europa, mas a verdade é que escolheu uma estrada cheia de curvas apertadas e perigosas. Valeu-lhe S. Cristóvão, o santo padroeiro dos automobilistas, que o salvou da incrível atração pelo abismo.

Além da mão protetora do santo, muita sorte e Trubin evitaram o desastre que tantas vezes pareceu inevitável. E é, de facto, difícil perceber a razão pela qual esta equipa, por vezes, bloqueia as suas ações e congela o seu raciocínio normal, tornando-se tão insegura e tão frágil que transforma qualquer adversário menor num gigante assustador.

Olhando a realidade do jogo, surgem como evidentes dois factos aparentemente contraditórios. O primeiro é que o Benfica tem melhores jogadores do que o Toulouse; o segundo, é que o Toulouse mostrou em campo ter muito melhor equipa. Há razões que explicam a contradição. O Benfica, sob a pressão de um adversário corajoso e nada complexado com a diferença de qualidade, perdeu a coerência exibicional de uma equipa confiante em si própria. Por isso, durante os primeiros vinte minutos, procurou ter a bola o mais tempo possível nos pés, mas sem intenção de baliza. Teria a ideia de roubar o fogo francês, mas, na verdade, apenas se expôs à noção de que apenas o fazia apenas por receio e numa tentativa desesperada de defender a magra vantagem que levava de Lisboa, depois de um jogo onde também não se pode queixar da sorte.

PIOR FORAM AS EMENDAS

Mais rápido, mais forte, mais solidário e com mais estrutura global de equipa, o Toulouse podia e devia ter chegado ao intervalo em vantagem, mesmo considerando que Di Maria, aos 33 minutos, e António Silva, aos 45 +1, tambem poderiam ter chegado ao golo. Se tivesse acontecido, talvez o Benfica tivesse, enfim, conseguido a paz de espírito de que precisava para controlar o jogo e marcar a sua superioridade. Mas nem essas claras oportunidades de marcar apagaram o sofrimento psicológico de uma tripulação de um barco à beira do naufrágio.

Roger Schmidt percebeu que a eliminatória estava em sério risco e procurou mudar para a segunda parte. Tirou Morato, que não acertava com a velocidade e o desequilíbrio de homens na sua ala, e apostou em Carreras. E tirou Tengstedt, que tinha feito uma primeira parte esforçada, mas inócua, optando por Cabral, mais experiente e mais poderoso.

Não se pode dizer que tenha sido uma decisão despropositada. Fazia sentido, mas foi pior a emenda do que o soneto. Carreras começou a segunda parte com uma falha quase fatal e Arthur Cabral mostrar-se-ia lento e perdido na torrente avassaladora dos franceses.

UM SOFRIMENTO FELIZ

Com mais uma preocupante onda de erros individuais e de falta de organização coletiva, o Benfica foi sofrendo o abalo de ver sucessivas oportunidades de golo do adersário desbaratadas de uma forma que se tornava traumática. Umas vezes, o golo era falhado por imperícia dos jogadores do Toulouse, de outras por mérito de Trubin e ainda outras por uma constelação de estrelinhas da sorte.

Schmidt procurou salvar a situação, dando mais força e presença ao meio campo com a entrada de Aursnes (67 minutos) e depois de Kokçu (aos 84), abdicando de Neres e de Di María, ou seja, abdicando de tentar o tal golo que tudo poderia serenar. Mas não era, de facto, momento para ousadias. A ordem era defender a qualquer custo e sofrer até ao fim.