Liga dos Campeões: embates ibéricos e certezas em perspetiva
Jogos arrancam esta terça-feira, com destaque para as receções de Benfica e Braga a Real Sociedad e Real Madrid, respetivamente. Começa a haver cada vez menos margem para erro, sobretudo para quem ainda precisa (muito) de pontuar.
A terceira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões arranca esta terça-feira, com os encontros dos grupos A, B, C e D.
Nesta dia de jogo, fica o destaque para a participação de duas das três equipas portuguesas em prova: o Benfica e o SC Braga.
Benfica e Real Sociedad enfrentam-se no Estádio da Luz, com a plena noção de que a partida será jogada com ângulos diferentes pelos dois clubes. Se, por um lado, uma vitória dos bascos significa a liderança do grupo, isolada ou em igualdade pontual com o Inter, os encarnados lutam para se manterem na conversa do apuramento. Uma derrota é sinónima de zero pontos em três jogos e, apesar de não ser necessariamente um fator decisivo, complicará muito as contas dos do grupo.
A forma local dos dois clubes é diferente à europeia. O Benfica conta com 21 pontos conquistados em 24 possíveis no campeonato e está a apenas um do líder Sporting. A Real Sociedad, por seu turno, está em quinto lugar após a décima jornada da La Liga. É, porém, importante ressalvar que os três empates cedidos pela turma de Imanol Alguacil foram nas três primeiras jornadas. Nos sete jogos seguintes, a equipa apenas perdeu pontos frente a Real Madrid e Atlético de Madrid.
As águias, que têm mantido um estilo muito constante com Roger Schmidt ao leme, poderão contar com Di María, recentemente recuperado de lesão, para a partida. O técnico alemão disse em conferência de imprensa que «não quer apressar nada, mas é um jogo importante».
Do lado dos espanhóis, Takefusa Kubo tem-se destacado. O extremo japonês de 22 anos é conhecido pela sua velocidade com bola e capacidade de decisão. Já conta com cinco golos e duas assistências esta temporada e, inclusivamente, foi distinguido como melhor jogador da liga espanhola em setembro. André Silva, português que atua na equipa de San Sebastián, está lesionado e não vai a jogo.
Inter e Salzburgo enfrentam-se no outro jogo do grupo D. Apenas um ponto os separa, mas a diferença entre ambas as formações é evidente. Para além das questões históricas que separam os clubes, podemos usar os jogos de ambos contra o Benfica como comparação: se, por um lado, a vitória do Salzburgo na Luz aconteceu de forma algo sofrida, com o guardião Schlager a ser crucial para os três pontos conquistados contra uma equipa benfiquista com menos um desde os 13 minutos, por outro, o Inter, que venceu por 1-0 (e quase cedeu o empate no final), dominou a partida, que contou com uma grande exibição de Trubin, guarda-redes encarnado, e com uma exibição muito perdulária de Lautaro Martínez.
O Inter é favorito e tem todas as armas para poder somar os três pontos, com destaque para Lautaro Martínez, que leva 12 golos em 11 partidas. O Salzburgo tem a seu favor a irreverência e juventude: no onze frente à Real Sociedad, apenas constaram cinco jogadores com mais de 21 anos.
O Sporting de Braga recebe o Real Madrid, numa altura em que já mostrou que não está na competição «para ver jogar». A vitória dramática dos arsenalistas frente ao Union Berlim e o jogo frente ao Nápoles que, apesar da derrota, mostrou capacidade por parte da equipa de Artur Jorge, que já garantiu que a postura da equipa será «comedida», mas «com ambição».
A equipa bracarense tem-se demonstrado muito forte ofensivamente. No campeonato português, o Braga é a equipa com mais golos marcados, 20 em oito jogos. A postura de jogo positiva tem sido uma marca de identidade de Artur Jorge, que tem tido Bruma, Simon Banza, Ricardo Horta ou Álvaro Djaló em grande plano, sobretudo no que toca a golos marcados.
Por outro lado, a falta de solidez defensiva tem sido o principal caso de preocupação do conjunto. Apesar de serem o melhor ataque da liga portuguesa, os 14 golos sofridos são a quinta pior marca. A única derrota do Braga na competição, frente ao Farense, espelhou o quão caros se pagam os erros, sobretudo, no que toca a bolas colocadas nas costas da linha defensiva, como são disso exemplo os dois golos do Union Berlim na passada jornada da «prova milionária». Victor Gómez está lesionado e é baixa confirmada.
O Real Madrid continua a ser o favorito deste jogo e do grupo. A profundidade de plantel dos merengues, sobretudo na zona do meio-campo, permite a Carlo Ancelotti ter várias opções para várias situações. Jude Bellingham é, indiscutivelmente, a grande figura dos madrilenos até agora. 10 golos em 11 jogos para o inglês, que incluem golos, por exemplo, no último minuto frente ao Union Berlim para garantir os três pontos, são uma marca inesperada, para um jogador que é o exemplo perfeito de chegar, ver e vencer.
Posto isto, o Real Madrid não é infalível. Os problemas de lesões na zona defensiva têm vindo a acumular-se e isso espelha-se nas rotinas da linha mais recuada. Disso exemplo são as lesões prolongadas de Courtois e Éder Militão, sendo que David Alaba regressou recentemente à competição. Também Arda Guler, prodígio turco, está a contas com um problema físico e não foi convocado.
O Nápoles, com três pontos, os mesmos que o Sporting de Braga, visita os alemães, estreantes na prova, que não têm sido capazes de pontuar, sobretudo, nos momentos finais dos seus jogos.
Em ambas as partidas, o conjunto da casa foi derrotado com golos já na compensação da segunda parte. Jude Bellingham, pelo Real Madrid, e André Castro, pelo Braga, selaram as duas derrotas do conjunto onde atua Diogo Leite. Este jogo, que pode ser decisivo devido aos zero pontos somados pelo coletivo de Urs Fischer, vem num dos piores momentos possíveis, uma vez que a equipa de Berlim está numa série de oito derrotas consecutivas. Ainda assim, é um conjunto que tem as suas valências. O central Leonardo Bonucci conta com uma enorme experiência nesta competição e, na frente, o avançado Sheraldo Becker, que se destaca pela sua velocidade, podem ser essenciais, quer na solidez defensiva, quer em possíveis contra-ataques.
O Nápoles, que tem vivido vários momentos de tensão, quer por causa do goleador Osimhen, quer pela contestação ao técnico Rudi García, tem estado a um bom nível, ainda que sem o mesmo ímpeto que tinha por esta altura no ano passado. Está a apenas 5 pontos da liderança do campeonato e é o segundo melhor ataque da prova. O avançado nigeriano ainda não marcou nesta edição da Liga dos Campeões, mas é o segundo melhor marcador do campeonato e nunca deixa de ser uma grande ameaça para os adversários. A outra figura maior do título passado, Khvicha Kvaratskhelia, parece ter voltado a encontrar a forma, com três golos e quatro assistências em nos últimos sete jogos.
O Galatasaray recebe o Bayern Munique num dos jogos do grupo A, com ambas as equipas num grande momento de forma.
Os turcos ainda não perderam esta época e estão a dois pontos da liderança do campeonato, liderado pelo Fenerbahçe, que ainda só venceu. O conjunto parece mostrar sinais que já não demonstrava há mais de dez anos, quando Drogba e Sneijder faziam parte dos seus quadros. A aposta em jogadores experientes de grandes ligas, como Zaha, Ndombelé, Tetê ou Angeliño, tem permitido à equipa turca praticar um futebol de ataque.
É, no entanto, impossível falar deste momento de forma sem mencionar Mauro Icardi. O avançado parece ter encontrado uma nova vida na Turquia. Já leva 14 golos em 15 jogos esta temporada, incluíndo o remate que deu a reviravolta na última jornada, frente ao Manchester United.
Contudo, o favoritismo pertence, como é previsível, ao Bayern Munique. O conjunto alemão não perde há 36 (!) jogos para a fase de grupos da Liga dos Campeões e vai numa série de 15 vitórias consecutivas nesta fase. Ainda assim, por muito espantosa que seja a forma do clube, que, desde a derrota para a Supertaça Alemã, empatou dois jogos e venceu os restantes nove, nota-se que, sobretudo na Liga dos Campeões, tem vivido momentos de maior tensão, como se viu nas vitórias tangenciais frente a Manchester United (4-3) ou Copenhaga (2-1).
Este fator não retira o favoritismo ao Bayern Munique, que conta com a boa forma de jogadores como Harry Kane, Musiala, Sané ou ainda Mathys Tel, que tem sido uma enorme mais-valia a partir do banco.
O Manchester United recebe o Copenhaga como uma das equipas que ainda não pontuou nesta Liga dos Campeões. Se, por um lado, a derrota em Munique pode até ser vista como expectável, e a reação à desvantagem foi um ponto positivo, não há justificação possível para o desaire em casa contra o Galatasaray.
A última jornada da competição foi, de resto, o espelho visível da equipa de Erik ten Hag nos últimos tempos. Os red devils mostram-se uma equipa muito pouco consistente, compacta e coletiva, que recorre muito a individualidades para fazerem a diferença. Para quem vê de fora, não parece haver qualquer tranquilidade, quer a perder, quer a ganhar. Este último foi o caso contra o Galatasaray: o Manchester United esteve a ganhar, perdeu a concentração em momentos-chave, ficou com menos um e acabou por perder o jogo (e Icardi ainda falhou um penálti).
Apesar disso, Old Trafford continua a ser um grande campo europeu. Rasmus Hojlund é o melhor marcador da prova, com três golos, os mesmos de Julián Álvarez, e jogadores como os portugueses Bruno Fernandes e Diogo Dalot têm sido dos que mais têm feito a diferença (note-se, por exemplo, que Dalot marcou e Bruno Fernandes assistiu na vitória por 2-1 frente ao Sheffield United). As lesões contínuas também não têm ajudado à criação de ligações entre os jogadores dentro de campo. Lisandro Martínez, Luke Shaw e Casemiro estão atualmente a lidar com questões físicas, sendo que o médio brasileiro está, também, de castigo para o próximo jogo.
Por seu turno, o Copenhaga tem mostrado que é uma equipa a ter em conta. Contra o Galatasaray, ainda liderou por dois golos, antes do ímpeto final da equipa da casa, e contra o Bayern de Munique quase surpreendeu, mas deu espaço à reviravolta alemã. Há, para lá dos resultados, mérito na postura do coletivo onde atua Diogo Gonçalves, que joga as partidas sem medo, de olhos nos olhos contra adversários teoricamente favoritos, mantendo o equilíbrio entre solidez defensiva e irreverência atacante. O Manchester United é favorito, mas, tendo em conta a postura de ambas as equipas em campo, não espantaria ver os dinamarqueses a pontuar no Teatro dos Sonhos.
O Sevilha recebe o Arsenal para o grupo B. Ambos os clubes estão em momentos de forma diferentes. Se, por um lado, os espanhóis ainda só venceram dois dos nove jogos para o campeonato, os londrinos estão empatados no segundo lugar, apenas a um ponto do líder Tottenham.
O Sevilha, 13º classificado da La Liga, continua a má fase que mostrou na época passada. Apesar disso, demonstrou, na Liga Europa, que é uma equipa que consegue ultrapassar as dificuldades quando interessa mais, com a conquista da competição. A equipa sevilhana dá-se bem contra equipas que têm a iniciativa de jogo, como é prova disso o empate contra o Real Madrid na última jornada ou as boas exibições nas derrotas frente a Manchester City ou Barcelona. En-Nesyri é o melhor marcador da equipa e tem capacidade para ser letal num jogo que se adivinha muito físico e com particular foco dos sevilhanos nos contra-ataques e cruzamentos.
O Arsenal, por seu turno, ainda não perdeu no campeonato e é, a par do Tottenham, a única equipa invicta da Premier League. Os gunners têm uma grande capacidade de posse de bola e, de certa maneira, uma postura algo contrária à equipa da casa. Bukayo Saka tem estado tocado e tem sido, jornada a jornada, uma dúvida até à última hora, mas compreende-se a decisão de Arteta em continuar a colocá-lo em campo: esta época, marcou ou assistiu em todos os jogos que disputou pelo Arsenal menos contra o Crystal Palace. O extremo é, de resto, o jogador mais decisivo dos ingleses, que, certamente, vão dominar a posse de bola no Ramón Sánchez-Pizjuán, e a derrota contra o Lens na última jornada servirá de aprendizagem: 67% de posse de bola não é suficiente sem golos.
O Lens e o PSV enfrentam-se num duelo entre o primeiro e o último classificado do grupo, que só estão separados por três pontos.
A equipa francesa está a atravessar uma fase que se mostra contrária ao segundo lugar da época passada: se, no ano transato, ficou um ponto abaixo do primeiro lugar, neste momento, encontra-se um ponto acima dos lugares de descida. Ainda assim, há que destacar a vitória frente ao Arsenal, o que demonstra a capacidade do emblema de ultrapassar as dificuldades. O momento de forma também é relevante: apesar de não ter ganho nenhum dos cinco primeiros jogos da época, o Lens não perdeu nenhum dos últimos seis.
Por seu turno, o PSV atravessa um momento totalmente diferente ao dos franceses. A equipa de Eindhoven lidera a Eredivisie só com vitórias, mas ainda não conseguiu vencer na Liga dos Campeões. O PSV assume-se como uma equipa que marca muitos golos, com a virtude de não sofrer muitos. Os números demonstram isso mesmo: é o segundo melhor ataque e a melhor defesa do campeonato. O conjunto de Peter Bosz ainda não conseguiu demonstrar estas qualidades na prova milionária, mas a forma caseira será, certamente, um impulso para tentar fazer algo diferente na Europa. Destaca-se Luuk de Jong, que, aos 33 anos, já leva 13 golos em 16 jogos e é, portanto, o melhor marcador da equipa.
Desenha-se assim o primeiro dia do fim da primeira volta desta fase de grupos da Liga dos Campeões. Depois desta jornada, as equipas já enfrentaram todos os seus oponentes, o que significa que já haverá passado recente e, portanto, uma experiência diferente de como abordar os confrontos. Começa a desenhar-se o mapa dos oitavos-de-final, e esta jornada tem, tradicionalmente, muita importância, não só pelos pontos conquistados, mas também pelo ímpeto que dá às equipas para a segunda volta.