Leandro Andrade (Quarabag): «Fiquei contente com o interesse do Galatasaray»
Leandro Andrade

Leandro Andrade (Quarabag): «Fiquei contente com o interesse do Galatasaray»

INTERNACIONAL06.10.202312:00

Leandro Andrade, um algarvio em destaque no Azerbaijão; tem três golos apontados na Liga Europa; começou no Ginásio de Tavira e passou pelo Sporting, na formação

Leandro Andrade, natural de Tavira, é venerado no Qarabag. O médio ofensivo de 24 anos está desde janeiro de 2022 no Azerbaijão e esteve associado a clubes mais cotados, como o Galatasaray, campeão turco. Apesar de ser médio, nesta época já apontou três golos na Liga Europa (dois nas qualificações e um na fase de grupos) e um no campeonato.

- Como sénior, jogou pouco tempo em Portugal. Porquê?

«Subi a sénior no Olhanense, que na altura estava no Campeonato de Portugal, num período complicado. Até comecei bem, mas acabei a segunda metade da época a não jogar muito, e como era novo e precisava de jogar para aprender e crescer como jogador, optei por sair e fui para o Fátima que, curiosamente, também passava por um período difícil. Mas cresci muito lá, estava longe de casa e jogava numa série mais ‘agressiva’. Foi uma época muito positiva e foi por aí que chegou a possibilidade de sair para o estrangeiro. Na Bulgária [Cherno More] correu bem, tanto é que só lá estive meio ano e saltei logo para o Qarabag. No Cherno More o começo não foi fácil, não fui convocado nos três primeiros jogos, mas acreditei e continuei a trabalhar, e mais tarde consegui colher os frutos. Sempre tive pessoas muito boas comigo. Falo da minha família que não me deixou cair e sempre me ajudou.»

- A experiência tem corrido bem no Qarabag, é titular e está a marcar golos…

«Sim, sim. Mas, à semelhança da Bulgária, no início também não foi fácil. Não sei se tem a ver comigo, como jogador, mas costumo demorar um pouco a me adaptar. Mas quando as coisas começam a fluir, depois já não param. Agora tem estado a correr bem, é uma experiência diferente num clube diferente, porque focamos muito nas competições europeias e isso para mim é novo, porque nunca tinha jogado nessas competições. Está a ser um espetáculo, uma experiência brutal mesmo, e é o sonho de qualquer jogador. Até agora, estou a adorar.»

- O campeonato azeri tem qualidade? É muito diferente do português?

«O campeonato português é muito técnico, está cheio de jogadores de qualidade, enquanto que no Azerbaijão a competição é muito ‘agressiva’, os defesas dão pouco espaço e as equipas são muito intensas. Acho que é mais por aí as diferenças que eu vejo, até porque em Portugal nós formamos jogadores muito técnicos.»

- Mas financeiramente é mais aliciante…

«Podemos dizer que sim e agora estão a chegar muitos jogadores de Portugal, para a 1.ª e 2.ª liga, incluindo a nossa equipa. Já somos sete jogadores a falar português - e com passagem por Portugal -, desde brasileiros, um cabo-verdiano e um colombiano [Kevin Medina].»

-Neste verão, falou-se do interesse do Galatasaray. Foi verdade? 

«Foi, mas eu não estou bem dentro desse assunto. Pode ter havido conversa com os empresários… o que sei é que isso é sempre bom, não é? Fiquei contente com o interesse do Galatasaray e que o meu nome seja mencionado em clubes desse calibre.»

- Voltar a Portugal está nos seus planos?

«Gostava de me testar na nossa 1.ª liga, na elite do nosso futebol, que é tão atrativo e tem equipas tão boas. Claro que gostava!»

- Como é que é seu dia-a-dia no Azerbaijão?

«No clube, é condicionado à religião deles. São muçulmanos e têm as suas rezas, cinco vezes por dia, incluindo de madrugada, pelo que eles optam por descansar de manhã e a partir da hora de almoço começamos o nosso horário de trabalho e passamos a tarde inteira no centro de estágio. Almoçamos juntos e passamos lá a tarde inteira com treinos no ginásio, no campo e em reuniões. Ficamos lá até à hora do jantar.»  

- Como foi ultrapassada a barreira da linguagem?

«Sou uma pessoa curiosa e que gosta de aprender. E, por uma questão de respeito, tento adaptar-me, porque estou no país deles, a viver a cultura deles. Mas tive boas bases de inglês e quando não falo azeri, vai em inglês. No clube também temos um tradutor de português, o que facilita muito.»

 

No Sporting, com Rafael Leão e Daniel Bragança

Na formação, Leandro Andrade esteve duas épocas no Sporting, com Rafael Leão e Daniel Bragança. «No 1.º ano treinava no Algarve e ia lá aos fins-de-semana para jogar e no 2.º fui residente na Academia.», recorda, grato pela experiência: «Qual é o miúdo que não quer jogar no Sporting e viver na sua academia? Até porque, na altura, só se falava do Cristiano [Ronaldo], o produto da academia…». Apesar de «não jogar muito», serviu de «aprendizagem». «Era colega de quarto do Bragança. Ele é espetacular. E o Rafael Leão, se não foi o melhor, foi dos melhores com quem já joguei, e isso vê-se hoje, não é?», apontou. 

Irmão, campeão no boxe, numa família de futebolistas

Filho de Vavá Andrade e sobrinho de Livramento, antigos jogadores, o futebol surgiu com naturalidade: «Acompanhava-os nos jogos e às vezes nos treinos. Estava sempre a chutar uma bola e a correr e diziam que também iria ser jogador.». Numa família de futebolistas, o irmão [Ruben Andrade] é campeão no boxe. «Ele tentou jogar, foi guarda-redes, e campeão do Algarve pelo Ginásio Tavira. Mas foi só num ano, pelo que no futebol a carreira dele é 100% vitoriosa (risos). Mas não era a praia dele e no boxe já atingiu [em juniores -63 kg] o estatuto de n.º 1 de Portugal, o que é um orgulho para mim.».

IDEIAS

De Tavira, como João Neves

«Nunca nos cruzámos no futebol, até porque sou um bocadinho mais velho. Acompanho a carreira dele e é um orgulho ver um jogador da mesma cidade do que eu, elevar o seu nome a um nível bem alto. Fico muito contente e só desejo muito mais para ele.»

Rafa, o modelo

«Sou explosivo, gosto de ‘carregar’ a bola em velocidade, porque hoje o futebol é muito tático, já não há equipas a jogar e a pautar o jogo em ritmo lento. E temos que ter estas características. Gosto muito de assistir aos jogos do Benfica e revejo-me no Rafa

Seleção de Cabo Verde

«Fui contatado pela federação e perguntaram-me se eu tinha família cabo-verdiana. E tenho, da parte do meu pai. Mostraram vontade em que eu fizesse parte da seleção, senti-me desejado e é sempre um orgulho representar a família. Aceitei e tem sido um espetáculo.»

 

B.I.

Nome completo

- Leandro Livramento Andrade

Data de nascimento

- 24 de setembro de 1999 (24 anos)

Naturalidade – Tavira

Peso – 68 quilos

Altura – 1,76 metros

Posição – médio-ofensivo

Percurso – Ginásio de Tavira, AA Sporting Faro, EAS Faro, Sporting, Farense, Olhanense, Fátima, Cherno More e Qarabag