José Faria (Estrela): «Fazemos a diferença pela qualidade do trabalho, temos de trabalhar o dobro dos outros»
José Faria, diretor desportivo do Estrela da Amadora (à direita), conversa com Sérgio Vieira, treinador dos tricolores. Foto: Estrela da Amadora SAD.

José Faria (Estrela): «Fazemos a diferença pela qualidade do trabalho, temos de trabalhar o dobro dos outros»

NACIONAL15.01.202418:00

Em conversa com A BOLA, diretor desportivo dos tricolores aborda a temporada, com a meta cumprida após o final da primeira volta; salientou relação «exemplar» com Sérgio Vieira e Paulo Lopo

Na época de regresso à Liga, ao final da primeira volta da competição o Estrela da Amadora cumpre o objetivo a que se propôs, de se manter acima dos lugares de despromoção, apesar das dificuldades que se colocam. Uma das faces desse trabalho é José Faria, diretor desportivo dos tricolores, que em conversa com A BOLA frisa a harmonia com o presidente da SAD, Paulo Lopo, e do técnico, Sérgio Vieira, salientando a dificuldade da tarefa, que considera possível pela «qualidade do trabalho» que este trio executa na liderança do projeto.

É frequente, para quem acompanha o Estrela da Amadora, escutar com o nome José Faria a partir do mister Sérgio Vieira, quando se refere a decisões tomadas pelo clube. Isso reflete o que é o processo de liderança do próprio Estrela?

Efetivamente existe uma relação fantástica. No futebol, existe todo o tipo de treinadores, mas para mim é muito fácil trabalhar com o Sérgio, porque a fome de vencer, o querer, a vontade e a exigência que coloca, o facto de ser o primeiro a chegar e o último a sair faz com que goste disso, que partilhe essa visão, porque me identifico plenamente com isso, independentemente de muitas vezes não podermos ter as condições que muitas equipas poderão ter. Costumo dizer que claramente fazemos a diferença pela qualidade do trabalho, temos de trabalhar o dobro dos outros, o triplo por vezes, de maneira a conseguirmos os nossos objetivos. Na véspera de Natal e no Natal estivemos aqui e tem sido como o mister tem falado.

Foi anunciado formalmente no início da temporada como diretor desportivo do Estrela, após um ano no clube e vários outros a trabalhar com Paulo Lopo, atual presidente da SAD. Como tem sido a experiência?

Com o presidente já é uma relação que vem de trás, é uma relação de cumplicidade e uma pessoa que já acompanho há alguns anos, com uma visão muito próxima da minha. Muda o contexto, mas pela maneira como já trabalhava anteriormente, o que faço agora é apenas uma continuidade. Obviamente que estamos a falar de outro tipo de pessoas, de responsabilidade, um nível diferente e um upgrade, mas do ponto de vista da exigência, do querer, da vontade e do espírito de sacrifício continua lá tudo.

O mister Sérgio Vieira treina a equipa e gere toda a área técnica; eu estou na gestão do futebol profissional e sempre em sintonia com ele. Mais que diária, é momentânea: não há um dia em que nós não falemos

Sérgio Vieira (treinador), José Faria (diretor desportivo), Paulo Lopo (presidente da SAD) e Francisco Lopo (diretor geral da SAD), juntos no acompanhamento a um jogo da equipa do Estrela da Amadora. Foto: Estrela da Amadora SAD.

Há, por isso, uma harmonia absoluta entre as figuras de liderança?

Sim. Sei que o presidente trabalha afincadamente e de que maneira vai fazer as coisas, sem qualquer tipo de precipitação, e estamos cá para o ajudar nessas decisões. Não são só decisões técnicas que são partilhadas…é um orgulho para nós ele inclusivamente englobar-nos nessas tomadas de decisão e não só no ponto de vista da escolha dos jogadores.

Até que ponto é uma dificuldade acrescida propor o Estrela a ganhar com um orçamento inferior ao de outros concorrentes?

É uma situação que não é fácil, mas que é trabalhável. É o nosso primeiro ano na Liga e queremos definir muito bem o perfil do jogador a contratar, sabíamos das dificuldades que iríamos ter, até mesmo estruturais, mas também sabemos o projeto que temos, que temos de encontrar os jogadores certos para o projeto ideal, jogadores com fome, como costumamos dizer; que queiram mais, que não possam estar acomodados e lá está, partimos muita pedra, como se costuma dizer.

Analisando o atual plantel, vários dos atuais elementos foram contratados na época passada e não eram sequer protagonistas na Liga 2, época que resultou no regresso ao primeiro escalão. As contratações do Estrela não são feitas a pensar apenas no imediato? São a pensar mais à frente?

Sem dúvida. Não iríamos ser conscientes se contratássemos um jogador para o imediato, sabemos o que nos podem vir a dar. Não gosto muito de individualizar, mas falamos do caso do Hevertton, com formação de clube grande, veio depois de já termos contratado o Jean Felipe, um valor seguro na Liga 2, e percebemos que a seu tempo iria ter a sua oportunidade pois estamos a falar de um profissional de topo, o que neste caso é mais fácil.
Ou o Dida, que é diferente: contratámo-lo quando ele ainda estava na distrital, é um miúdo com uma parte humana fantástica, com um querer aprender constante, e uma enorme vontade de evoluir. Não nos deixamos agarrar aos contextos.

Toda a minha vida foi ligada ao futebol e soube desde cedo que iria trabalhar ligado ao futebol. Comecei a jogar ainda muito novo no Leixões, num clube e cidade que vivem de forma muito intensa

#Acredita Estrela foi ideia de Faria, conta Sérgio Vieira

É frequente ouvir nas conferências de imprensa, antes ou após as partidas, referências de Sérgio Vieira à harmonia no trabalho entre si, o presidente Paulo Lopo e José Faria, a quem apenas reserva elogios. «O José é determinante no dia-a-dia, na interligação com os jogadores, as diferentes estruturas do futebol profissional, também com a interligação com o presidente foi e é muito importante. Foi ele a pessoa que deu a ideia de criar um slogan que despertasse os nossos adeptos», revelou o técnico dos tricolores.
Foi assim, conta ainda Sérgio Vieira, que nasceu a hashtag #Acredita Estrela. «Foi um dos contributos muito grandes para que na mente dos nossos adeptos, apesar de não termos conseguido garantir um dos lugares de promoção durante o campeonato, como era até justo para nós, conseguíssemos também fazer os adeptos acreditarem novamente com esse slogan», recordou, agradecido pelo contributo dado pelo diretor desportivo para que a subida ao primeiro escalão fosse mesmo uma realidade.

Tem muito que ver com a paixão. Quem está no futebol sente o mesmo, a ficha não desliga! Dou por mim a jogar contra o Benfica ao sábado à noite e domingo à tarde estou em Tires, a ver jogar a equipa B

Paulo Lopo não tem dúvidas: «é ao José que devemos o título em sub-23»

O trabalho de José Faria é realizado em harmonia com o presidente da SAD, Paulo Lopo, com quem começou a trabalhar quando ambos ainda estavam no Leixões, onde nasceu uma relação profissional solidificada. «O José começou a carreira dele há poucos anos nesta área, no Leixões, e conseguiu fazer autênticos milagres. O Leixões foi vice-campeão na Liga Revelação, fez terceiro classificado no campeonato nacional de sub-19 e é a ele que devemos o título de sub-23 aqui no Estrela», transmitiu o líder da SAD dos tricolores.
Paulo Lopo considera totalmente merecido o bom momento que a carreira do seu diretor desportivo atravessa. «Veio de baixo com muito trabalho, foi muito injustiçado há uns dois anos e passou por um processo pelo qual eu não acho que fosse minimamente responsável, nem que refletia o que é a personalidade ou o caráter dele. Acho que o potencial do José é muito grande e tenho muita confiança no seu trabalho e caráter», assinalou.