Jorge Simão: «Volto ao Boavista porque sou louco. Louco por futebol!»
Jorge Simão e a equipa vão ter forte apoio no sábado, na receção ao Gil Vicente

Jorge Simão: «Volto ao Boavista porque sou louco. Louco por futebol!»

NACIONAL19.04.202413:41

Técnico diz que recuperou em Viseu a alegria e o entusiasmo que tinha perdido num percurso de altos e baixos; abre o coração e exalta a alma boavisteira como identidade singular do clube

Jorge Simão fez esta sexta-feira a antevisão do jogo contra o Estrela da Amadora, que se disputa sábado, às 18 horas, no Estádio do Bessa. Em estreia nos axadrezados, o técnico regressa a uma casa onde deixou boa imagem, sobretudo na época  2017/18, em que levou a equipa ao oitavo lugar da Liga.

A pergunta impunha-se na primeira intervenção pública desde que foi confirmado como sucessor de Ricardo Paiva. O que o fez aceitar o convite do Boavista numa fase tão delicada do clube? «Compreendo a questão. Acho que era expectável essa questão. Em jeito de preâmbulo à resposta, acho que é importante dizer isto que vou dizer. Agradeço ao Académico de Viseu. Foi o clube que representei até agora. Agradeço porque sempre fui bem tratado. Agradeço porque as gentes de Viseu são boas e porque o Académico me permitiu também voltar a sentir o entusiasmo que eu, em determinada fase da minha carreira, deixei de sentir pelo futebol. É uma questão pessoal. Vivi tempos onde estive um pouco, diria, desiludido, com pouco entusiasmo para voltar àquilo que sempre me apaixonou e pelo qual lutei tanto durante a minha carreira. Viseu foi para mim o renascer do entusiasmo pelo futebol. E daí o meu agradecimento às pessoas, ao clube, que acho que não poderia deixar de o fazer. Depois, eu estou aqui porque me convidaram. E porque sou louco! Porque sou louco pelo futebol! Renasceu em mim o entusiasmo por esta vida. E o apelo do Boavista para mim foi excitante», explicou o técnico.

Jorge Simão diz que, comparativamente à primeira passagem pelo Boavista, encontrou um clube mais bem estruturado. «As condições que encontro neste momento são melhores do que na minha altura. Temos um campo de treinos fantástico, um ginásio como deve ser, melhoramos a sala de refeições, portanto as condições estão melhores», apontou.

O Boavista tem cinco jogos para alcançar a permanência, com a curiosidade dos três compromissos em casa serem com adversários na luta pela sobrevivência na Liga: Estrela da Amadora, Gil Vicente e Vizela. O plano para atacar o que falta do campeonato começou a ser desenhado há apenas três dias: «Aquilo que trago neste momento não é uma varinha mágica para fazer truques de magia, é uma mala carregada de entusiasmo. É isto que trago. Não sei se o entusiasmo vai ser suficiente para ganhar jogos, provavelmente não. Há outras coisas que vão ser necessárias para ganhar jogos, que nós precisamos de ganhar até ao final da época. E isso é aquilo que diariamente vamos trabalhando com os jogadores. Para este primeiro jogo, pouco tempo. A questão é escolher prioritariamente o que é que é importante em três dias que aqui estou para entrarmos na luta pelos três pontos neste jogo.»

O carinho que recebeu dos adeptos boavisteiros não é de agora: «Sou de Lisboa, cresci em Lisboa, e desde que vim para o Boavista passei a ser do norte, do Porto. A minha família veio viver para cá naquela altura, ainda se mantém cá. O meu filho estuda cá no colégio, no Porto. Portanto, nós passámos a ser do Norte. A minha mulher já era do norte. Isto para dizer o quê? Eu sempre senti, no decurso destes tempos, em que eu andei por outros lados, esse carinho dos adeptos boavisteiros. Honestamente senti. Acho que não há o que esconder as coisas ou o que pintar um retrato: este é um clube que vive com dificuldades, tem vivido com dificuldades. Mas acho que é isso, esse conjunto de dificuldades que ao longo dos anos temos conseguido combatê-las para fazer renascer aquele Boavista que todos nós nos lembramos, toda essa fibra que é característica deste universo boavisteiro, que quase que se entranha em nós, esta alma boavisteira, que me entusiasma. Não estou aqui para dizer palavras bonitas, em jeito de brincadeira, acho que sou um pouco louco. Voltei a sentir aquela loucura que sentia no início da minha carreira, aquele entusiasmo. Acho que vamos ter uma boa casa amanhã [sábado]. É importante esse apoio, sem dúvida nenhuma, porque essa força passa para dentro do campo», disse.

O quadro classificativo é frágil, mas o técnico acredita que dentro do grupo há qualidade para tirar o Boavista da atual situação. «Quando há uma mudança de treinador, acontece por duas razões: ou porque as coisas estão extraordinariamente bem, ou porque as coisas não estão bem. Neste caso, acho que está evidente qual das duas situações é. Acho que o que estes rapazes precisam neste momento é de entusiasmo. Ninguém faz aquele arranque de campeonato como o Boavista fez se não houvesse aqui qualidade. Cinco jogos, quatro vitórias, uma delas contra o Benfica. Ninguém consegue fazer isto se não houver qualidade neste plantel. Por umas razões, por outras razões, os resultados negativos foram-se sucedendo e acontece uma mudança. Volto a dizer, acho que é preciso entusiasmo, acho que é preciso sentir outra vez a energia do universo boavisteiro. Por isso é que é tão importante ter boa casa. Acho que em três dias não vou conseguir que os jogadores joguem o jogo que eu gostava de jogar, mas agarro-me a duas, três ideias que para mim são mais importantes. Duas, três ideias e vamos agarrar-nos a elas com tudo o que temos para ir ao jogo. O Estrela é outra equipa que está numa situação difícil, tal como nós. Vai ser uma luta, não tenho dúvidas, vai ser uma grande luta.»