Ala argentino revela as vezes que o treinador lhe ligou para o convencer sobre o projeto do Sporting. O mesmo treinador que, mais tarde, haveria de lhe dizer que não contaria com ele
- Jorge Jesus foi um treinador que o marcou e o trouxe para Portugal. Boas recordações?
- De Jorge Jesus posso falar do que vivi. É um treinador que vive o futebol durante 24 horas. Sempre a pensar nos treinos, jogos, nos detalhes… Olha muito para os detalhes! Consegue extrair tudo o que tens. É como se fôssemos uma laranja! E nós temos de responder. Com a vida! Ficávamos horas e horas na Academia a ver vídeos e mais vídeos, estratégias, jogos, treinos individuais… era um treinador muito preparado. Aprendi muito com ele. Para mim, como disse, foi como um pai.
- Mas também foi o treinador que o acabou por dispensar…
- Fiquei mal porque dois anos depois disse-me que não contava mais comigo. Mas não tenho ressentimento ou mágoa porque o futebol é assim. Se um dia nos voltarmos a cruzar falaremos melhor sobre essa decisão. Sempre tive e terei palavras de agradecimento porque me deu tudo, tal como eu lhe dei a ele.
- Deduzo que a sua vontade era estar ainda no Sporting?
- Senti tristeza porque queria ficar. No primeiro ano joguei todos os jogos. No segundo ano também, com grandes jogos, assistências, faltou-me um golo. Fiz grandes anos, tive a possibilidade de jogar na seleção. Fiquei surpreendido porque tinham-me falado para a renovação, jogámos o último jogo em Alvalade e, quando volto para Lisboa, três dias depois, chamam-me e o treinador disse-me que não iria ficar. Tinha ainda um ano de contrato, precisava de encontrar um clube novo, não foi decisão minha, queria ficar. Mas se um treinador e dirigentes me dizem que não vão contar mais comigo… o que podia fazer? Ficar um ano sem jogar?
- Chegou a pensar nisso?
- Só fiquei triste porque queria continuar a fazer história no clube. Lembro-me que nas férias de 2017 não sabia o que fazer. Se ficar em Portugal sem jogar, se voltar a Itália…. Depois, três dias antes de fechar o mercado, ligaram-me para ir para o Brighton da Premier League. Mas sempre respeitei as decisões… apesar de querer ficar por muitos anos.
BÉRGAMO - Sporting e Atalanta foram dois clubes especiais na carreira do argentino que, aos 34 anos, ainda joga na 4.ª divisão em Itália. Em conversa com A BOLA abre o coração aos adeptos garantindo que a saída de Alvalade nunca partiu dele. A vontade seria ficar… até hoje. Histórias que ficaram por contar, sem qualquer tipo de ressentimento e ambição de um dia voltar a pisar Alvalade para ouvir os aplausos dos adeptos, que são «únicos no mundo»