Jogou no SC Braga nos anos 50: «Víamos o Real Madrid muito longe. Nós na segunda e eles as ganhar Ligas dos Campeões com Di Stéfano, Puskas…»
A propósito do Real Madrid-SC Braga, um testemunho de Jorge Mendonça
Jorge Mendonça, 85 anos, representou o SC Braga por pouco mais de uma temporada, em 1956/57, depois de ter chegado para os juniores com 18 anos. O avançado nascido em Luanda faria depois carreira em Espanha, primeiro no Deportivo, mas depois sobretudo no Atlético Madrid e no Barcelona e falou com o jornal As a propósito da receção do Real Madrid aos bracarenses.
Como era o SC Braga de então? «Nada a ver com agora. O SC Braga estava na segunda divisão. Os equipamentos e os materiais eram muito modestos, as botas eram duras e quando chovia afastavas-te das bolas, ficavam tão pesadas que já sabias que ia doer. Jogávamos no 1.º de maio e o objetivo era subir à primeira divisão, o que conseguimos.»
Quem sabiam do Real Madrid? «O Braga via o Real Madrid muito longe… Nós na segunda [divisão] e eles as ganhar as Ligas dos Campeões com Di Stéfano, Gento, Kopa, Puskas…»
Jogou contra Pelé e Di Stéfano, viu jogar Cruyff, Maradona e Messi jogar. Quem é o melhor? Pelé. Definitivamente. Ele era o mais completo de todos. E depois Bobby Charlton, era excelente.»
O que acha do problema com Vinicius? É perseguido por ser negro? «Eu também sofri esses problemas. E mais graves. Também me chamavam negro, mas não fazia caso, faz parte do menu. O melhor é ignorar, mas ele confrontou o público e o que nunca se deve fazer é confrontar os adeptos, porque os coloca contra nós. Esse é o erro. Um jogador não pode enfrentar o público, tem que aguentar. Os insultos fazem parte.»
Também foi perseguido por motivos religiosos…«Sim. Tornei-me Testemunha de Jeová em Barcelona. Em 1968 chegou um novo presidente, Narcís de Carreras, amigo íntimo do bispo de la Seu de Urgell, que tinha muita influência em Barcelona. Proibiram o treinador, Artigas, de me colocar no onze se eu não renunciasse, mas nunca cedi à chantagem. Ser Testemunha de Jeová foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Depois acabei por sair para o Maiorca», conta, e foi aqui que chegou a ser detido e viu ser-lhe apontada uma arma quando entregava as mensagens das Testemunhas de casa em casa.