André Martins «Jogo a repetir? Ath. Bilbao-Sporting, há uns lances estranhos do árbitro, ficou-me atravessado»

André Martins deixou de jogar futebol e agora é comentador na Sport TV. O médio formado no Sporting esteve à conversa com Tânia Vítor, depois de terem partilhado tempo em Israel, último destino do médio como futebolista. Com ele, esteve também a companheira, Matilde.

Em termos de balneário, onde é que tu te sentiste mais feliz?
Graças a Deus, acho que nunca apanhei um mau balneário. Apanhei balneários em que me sentia mais confortável, porque tinha mais pessoas com quem falar, no Legia éramos muitos portugueses, mesmo no Be’er Sheva o Miguel [Vítor], o Hélder [Lopes], o próprio Mariano, ou seja, são pessoas associáveis e que acabas por criar um bom ambiente. No Olympiakos também fiz bons amigos e tinha portugueses e brasileiros. Seja treinador, seja balneário, eu sempre apanhei bons treinadores e bons balneários, não há nenhum que consiga eleger, porque tive sempre a sorte de trabalhar com bons grupos.

O que é que de melhor o futebol te deu?
Não posso ser hipócrita, deu-me estabilidade financeira, isso é a primeira.

É disso que tens mais saudades agora, ou seja, desse salário no final do mês?
Claro que faria toda a diferença agora. A verdade é que eu tenho, e sou uma pessoa muito feliz com o que tenho, vivo bem com o que tenho, o futebol, graças a Deus, deu-me para já o suficiente para sermos felizes e para conseguirmos ter uma vida estável. E se calhar esse é outro dos motivos por eu não ter sofrido tanto com o deixar de jogar, porque estamos estáveis financeiramente, emocionalmente estou muito bem, tenho uma família linda e a crescer. Amigos, e acho que isso também é o que fica, saberes que tens pessoas com quem podes contar para o resto da vida, e não é fácil, e tu sabes num balneário fazer amigos, porque cada um olha para o seu umbigo e corre pelos seus objetivos, e que acaba por ser perfeitamente normal, apesar de o futebol ser um desporto coletivo que cada vez mais os jogadores olham para eles primeiro, antes de olharem para o grupo, e portanto essas duas coisas, a estabilidade financeira que me deu e as amizades que tenho.

Ao olhar para trás, e ao saberes o que sabes hoje, terias feito alguma coisa diferente na tua carreira?
Talvez, ser mais ambicioso, mas isso nem sei se só o ser mais ambicioso ia mudar alguma coisa ou não, portanto é estar a supor uma coisa e a pensar uma coisa que eu já não posso mudar, e eu não gosto muito de viver no passado, nem do passado, gosto de viver o presente, e a verdade é que orgulhoso por todos os clubes por onde passei, orgulhoso por aquilo que conquistei, e orgulhoso no fundo por aquilo que tenho e que o futebol me deu.

Trabalhaste com muitos treinadores de renome. Qual foi o treinador com quem aprendeste mais e qual era mais próximo dos jogadores?
Ui, o que aprendi mais, e atenção, foi talvez com quem eu joguei menos, mas Jorge Jesus, sem dúvida. Foi treinador com quem eu aprendi mais a nível técnico, tático, tudo o que é pormenor de jogo, e que eu agora sei ver um jogo de maneira diferente, muito devido a Jorge Jesus. Mais próximo tive muitos treinadores que eram muito próximos, Paulo Bento muito próximo, Marco Silva, Leonardo Jardim, mesmo o próprio Jorge Jesus tem uma maneira diferente, a verdade é essa, de comunicar e de tratar as pessoas, mas é um homem de facto com um grande coração e quando tu precisas ele está lá para ti. O professor Jesualdo Ferreira também me ajudou bastante numa época muito difícil para nós no Sporting, e portanto estes treinadores, mesmo os treinadores estrangeiros que tive, os treinadores polacos que tive, e foi no fundo aqueles que me fizeram também me sentir melhor como jogador, me ajudaram bastante, e portanto, como eu disse, e como já te disse, tive mesmo a felicidade de trabalhar com grandes treinadores.

Sempre gostaste muito de jogar Playstation, ainda há tempo com dois filhos pequeninos?
Não, está ali arrumada e é muito, muito, muito difícil. Eu tenho de pedir aqui desculpa a alguns dos meus amigos, porque já eram pais e eu criticava, “não, tu tens tempo”. “Claro que consegues, tu não queres é jogar”, ou mesmo a brincar, “a tua mulher não te deixa”. A verdade é que é completamente impossível eu ligar a Playstation, porque até posso ter tempo, mas quando tenho, prefiro fazer outras coisas. Também já tenho 34 anos, já não sou nenhum miúdo.

Tens ali uma coleção de camisolas, tens assim alguma mais especial, tua ou de algum colega teu?
Tenho as minhas, e gostava de moldurar. Tenho as minhas camisolas com que me estreei em todos os clubes por onde joguei, a camisola com que me estreei na seleção nacional, talvez essa seja uma das mais marcantes para mim, porque me estreei pela seleção nacional do meu país, e eu acho que é no fundo também o sonho de qualquer jogador profissional. Tenho ali jogadores bastante conhecidos e que de facto me trazem boas memórias, mas ainda faltam ali algumas.

Foi contra quem o jogo da seleção?
Eu estreei-me contra a Croácia, na Suíça.

Tiveste alguma praxe?
Tive. Fizemos estágio, se não estou em erro, durante uns dias antes aqui em Portugal, depois viajámos para a Suíça, e eu pensei, “se calhar esqueceram, se calhar passou, está tudo bem, o jogo é hoje”. Estava completamente enganado. Lembro-me do Beto Pimparel, que era o mais efusivo, reviraram-me o quarto todo, camas cheias de águas, espusmas de barbear, tudo e mais alguma coisa. Acabei por não conseguir dormir sesta antes do jogo, também era jovem, não me fez muita falta, mas eu acho que acabam por ser episódios bonitos e que te marcam, porque percebes que as pessoas têm um carinho especial por ti.

 

Terminamos sempre da mesma forma. Se tivesse oportunidade de voltar a jogar um jogo, qual é que escolhias?
Meia final da Liga Europa, Ath. Bilbao-Sporting, sem dúvida nenhuma. Primeiro foi um jogo que me ficou atravessado, porque eu acho que fomos muito melhores. Íamos enfrentar um Atl. Madrid na final, se passássemos. Muito forte, poderoso, na altura com Radamel Falcao ao mais alto nível, mas todas as pessoas que jogaram esse jogo sabem que nos ficou atravessado, fomos melhores. Há alguns lances estranhos por parte do árbitro, pelo menos há um golo deles que para mim, com VAR, ia ser invalidado, e portanto ficou atravessado, porque eu acho que poderia eu também ter essa hipótese de jogar uma final europeia.