João Rafael Koehler: «Conseguimos resolver a situação financeira do FC Porto em dois, três anos»
João Rafael Koehler em entrevista a A BOLA. Foto GRAFISLAB

ENTREVISTA A BOLA João Rafael Koehler: «Conseguimos resolver a situação financeira do FC Porto em dois, três anos»

FUTEBOL20.03.202411:05

Grande entrevista ao homem forte das finanças na candidatura de Pinto da Costa para um 16.º mandato à frente dos destinos do FC Porto

Antigo crítico da gestão de Pinto da Costa, o empresário é hoje o rosto forte da lista do presidente do FC Porto. Nesta entrevista apresenta soluções para driblar as dificuldades de tesouraria da SAD e aponta a mira à candidatura de André Villas-Boas, atacando a forma como o antigo treinador propõe rasgar acordos e negócios em curso. «Nesse aspeto é parecido com Vale e Azevedo», atira, considerando que só há uma solução para o clube ganhar: a continuidade.

EM 2020, quando decidiu não se candidatar às eleições no FC Porto, lançou uma plataforma chamada «FC Porto com Futuro», que é a cópia perfeita das linhas de orientação da candidatura de Pinto da Costa ao 16.º mandato em pelo menos cinco dos oito pontos propostos. Isso significa que as suas ideias foram acolhidas pelo atual líder do clube?

— É o senhor que está a dizer e parece-me que sim, que é verdade, que foram acolhidas e bem.

— Algumas das ideias: rigor e transparência na gestão; renegociação de toda a dívida com um fundo internacional para diminuir o serviço da dívida e libertar a caixa e permitir mais agilidade na contratação de jogadores, entre outras. Isso consegue-se como? Com o financiamento de €250 milhões de que vem falando?

— O FC Porto não tem propriamente um problema financeiro muito grande, tem um problema de tesouraria. Ou seja, o facto de nós termos €500 milhões de dívida, que é exatamente a mesma dívida que tínhamos há quatro anos, é um problema se não formos capazes de atrair mais receitas. O que é que acho que o nosso programa entende ser necessário? Trabalhar do lado da despesa e trabalhar do lado da receita. Nestes 500 milhões, temos cerca de 285 milhões de dívida que podemos tratar, a maior parte dela colateralizada, a chamada dívida financeira. Mas temos um problema, que é a dívida altamente vinculativa. O que é que isto significa? A dívida altamente vinculativa é dívida muito diferente daquela que o Sporting teve, que tinha os VMOC com o Banco Espírito Santo ou com outro banco e que não pagou e não houve nenhum outro problema.

— Pereira da Costa, CFO de André Villas-Boas, afirmou que esses €250 milhões coincidiam com um fundo que irá ser criado pela Quadrantis, da qual João Koehler é sócio, afirmando que a vossa candidatura é apoiada por um fundo. A Quadrantis está também na corrida aos direitos centralizados de transmissão televisiva com a Liga. Não há aqui um conflito de interesses?

— Eu acho isso... Tentando explicar, todos nós temos uma atividade profissional. Agora, imaginem o que é, como se chama o CFO, não sei o nome?

— Pereira da Costa. Não conhece?

— Não conheço, será sócio do FC Porto. Com o devido respeito, é uma palermice, porque o FC Porto tem estatutos que são absolutamente claros. Quem faz parte dos órgãos sociais, não pode fazer negócios com o clube. Por outro lado, e digo isto com alguma experiência, coisa que eles não terão neste tipo de negócios, não me parece que exista qualquer tipo de fundo em Portugal que tenha interesse em fazer um investimento de €250 milhões no FC Porto. Eu não o faria. Porquê? Porque o nosso tipo de negócio não é exclusivamente o futebol. Já temos a nossa exposição ao risco ao futebol, e fizemo-lo em condições de mercado, em condições normais, e porque o financiador habitual do FC Porto, que é o banco IBB, não quis fazer operação. Isto está claro, está documentado, em condições de mercado que até eu diria um pouco abaixo das condições de mercado, e portanto o que nós fizemos foi prestar um serviço ao FC Porto. Isto é confundir os sócios. Mais uma vez, é querer fazer passar as pessoas por tontas.

— Quanto ao negócio dos direitos televisivos?

— O negócio dos direitos de transmissão em Portugal está avaliado anualmente em cerca de €175 milhões. Isto é o que vale o bolo dos direitos de transmissão. Fomos uma das entidades a fazer uma proposta que avalia a Liga Portuguesa não em 175 milhões, mas em 250 milhões. Com uma injeção de 500 milhões. Ou seja, aquilo que nós propomos é muito mais do que aquilo que existe. Uma coisa que acho inaceitável é o FC Porto, o Benfica ou o Sporting jogarem contra equipas que têm ordenados em atraso e orçamentos baixíssimos que afetam a competitividade do futebol. Hoje o FC Porto recebe 45 milhões de euros por ano e quando vejo uma pessoa que ofereceu 30 milhões e mesmo assim quis processar o FC Porto porque decidiu fechar o negócio por 45 milhões…

— Está a falar do Joaquim Oliveira, dono da Sport TV?

— Como é evidente. Acho absolutamente patético. O que é que os clubes de futebol precisam? O FC Porto, o Sporting, o Arouca? Mais receitas, querem ser mais recompensados pelo espetáculo que oferecem. Se ficam desagradados porque o FC Porto vai receber mais dinheiro e queriam que recebesse, não os €45 milhões, mas €30 milhões, não estou a ver onde é que está o grau de portismo deste tipo de gente.

— Pereira da Costa diz que a reavaliação do Estádio do Dragão foi cosmética contabilística que a UEFA não terá em conta na avaliação dos capitais próprios. Merece-lhe algum comentário?

— Não vou comentar essa afirmação só porque são eleições. Tínhamos capitais próprios negativos e o clube era altamente criticado, passa para capitais próprios positivos e iniciamos um novo round de críticas. Não vou comentar acho que esse tipo de comentários sempre a denegrir o clube, a baixar o rating do clube, a prejudicar o clube, a baixar a autoestima dos sócios. É tão mau que não quero comentar.

— Mas é ou não uma operação de cosmética?

— Sabe, é muito fácil trabalhar em grandes empresas que têm sempre fundo de caixa no banco e não há preocupações com o dia a dia. Agora, gerir o clube como o presidente Pinto da Costa gere, com a complexidade que tem… Não quero ser indelicado com ninguém, é um grau de complexidade que a outra candidatura nem sequer consegue apreciar, na muito remota hipótese de ganhar as eleições… Acho que é um cenário de absoluta catástrofe a partir do momento em que dizem que precisam de 12 anos para resolver a situação financeira do clube quando estamos a discutir um mandato de quatro anos. Nós conseguimos resolver a situação financeira do clube em dois, três anos de forma categórica e eles precisam de 12?