Inglaterra-Brasil: a amostra perfeita de ciclos e renovações
Neymar e Walker jogaram no último Inglaterra-Brasil, disputado em 2017 (IMAGO)
Foto: IMAGO

Antevisão Inglaterra-Brasil: a amostra perfeita de ciclos e renovações

Antes do jogo entre os históricos conjuntos, olhamos para as fases dos plantéis de parte a parte

Inglaterra e Brasil defrontam-se, este sábado, num particular no Estádio Wembley. Um confronto de titãs que, certamente, não passará despercebido, nem agora, nem em qualquer momento da história do futebol. Afinal de contas, falamos de duas convocatórias que, de parte a parte, têm elementos vários que seriam titulares em qualquer equipa: do lado inglês, há Bellingham, Kane, Foden, Rice ou Stones, por exemplo, e do lado brasileiro há Vinícius Jr. e... será o único?

Esta é, naturalmente, uma comparação redutora e injusta para o lado do Brasil. É preciso recordar que jogadores como Alisson, Ederson, Éder Militão, Neymar ou Marquinhos estão de fora por lesão. Ainda assim, e mesmo pensando nesses elementos, é também verídico que a canarinha atravessa a pior qualificação para um torneio na sua história, com três derrotas em seis jogos. Por seu turno, depois de muito tempo afastados das decisões, os Três Leões levam três torneios consecutivos a chegar, pelo menos, aos quartos de final, sendo, atualmente, vice-campeões da Europa.

Este é, então, um duelo que permite mostrar que, de parte a parte, há ciclos de renovação. O Brasil, cujo técnico, Dorival Júnior, se prepara para a estreia no banco do Escrete, parece estar a entrar no seu período mais baixo. A Inglaterra quererá aproveitar uma das suas melhores gerações.

Os valores das estrelas

Da última vez que estas duas seleções se enfrentaram, em 2017, Gareth Southgate (que já é, há mais de sete anos, treinador de Inglaterra) tinha convocado Pickford, Maguire, Stones, Joe Gomez, Rashford e Kyle Walker. Estes jogadores estão, sete anos passados, na convocatória da seleção novamente. A eles, juntam-se outros como Phil Foden, Bukayo Saka e, provavelmente a maior estrela da companhia, Jude Bellingham.

O número 5 do Real Madrid, que tem jogado a falso 9, merece nota 20 nesta temporada. É, atualmente, o jogador mais valioso do planeta, de acordo com a plataforma Transfermarkt, com um valor avaliado em 180 milhões de euros, com Saka e Foden (130 milhões) e Harry Kane e Rice (110 milhões) logo a seguir.

Do lado brasileiro, apenas Vini Jr., avaliado em 150 milhões de euros, quebra a barreira dos 100 milhões, onde se encontra Rodrygo. Para explicar esta ausência das grandes estrelas, olhar para a convocatória é essencial: além dos lesionados mencionados anteriormente, apenas um jogador desse Inglaterra-Brasil de 2017 se mantém: o defesa ex-FC Porto Danilo. Uma diferença clara de parte a parte, e os números totais mostram isso: a convocatória inglesa vale 1,41 mil milhões de euros, quase mais 500 (!) milhões que a canarinha. Ainda assim, Danilo não tem dúvidas: «com todo o respeito à seleção de Inglaterra, acredito muito nos meus colegas e no nosso trabalho», disse, na antevisão à partida.

Bellingham e Vini Jr., colegas no Real Madrid, são os jogadores mais valiosos das suas respetivas seleções (IMAGO)

Os cinco mais valiosos de cada seleção (em milhões de euros)

Inglaterra

Brasil

Jude Bellingham - 180

Vinícius Jr. - 150

Bukayo Saka* - 130

Rodrygo - 100

Phil Foden - 130

Bruno Guimarães - 85

Declan Rice - 110

Douglas Luiz - 70

Harry Kane* - 110

Lucas Paquetá - 65

*convocados, mas fora deste jogo devido a lesão

O inverso também aconteceu...

Este jogo representa aquilo que, ao fim e ao cabo, tem vindo a acontecer com todas as seleções do mundo, incluindo a própria Inglaterra. Antes do quarto lugar no Mundial-2018, a seleção inglesa não vencia uma partida a eliminar de uma competição desde o Campeonato do Mundo de 2006 - chegou aos quartos de final, ronda na qual acabou por cair frente a Portugal. São 12 anos sem vencer um jogo depois da fase de grupos, com uma seleção que vivia a ressaca dos anos fracassados de uma equipa que muito prometia, com jogadores como Scholes, Lampard, Gerrard, Beckham, Ferdinand, Owen...

E o que fazia o Brasil durante todo esse tempo? Apesar de só ter vencido uma Copa América nesse período - venceu outra no ano após o Mundial, em 2019 - certo é que falamos de uma seleção recheada que, um pouco à semelhança da Inglaterra, prometeu mais que venceu. Ainda assim, há a registar, neste espaço, uma meia-final em campeonatos do Mundo, bem como duas Taças das Confederações. Um registo bem mais positivo que o inglês, de uma seleção que, neste longo espaço de tempo, ainda contou com estrelas como Kaká, Ronaldinho ou Neymar no ataque, e Marcelo, Thiago Silva ou Dani Alves mais atrás.

Neymar foi o melhor jogador da Taça das Confederações de 2013 (IMAGO)

Como se vê, estes são ciclos de renovação que afetam qualquer país. Numa altura em que estrelas como Neymar, Thiago Silva, Marcelo estão a alcançar o ocaso da sua carreira, a chegada de «sangue novo» - não só já com o seu nome bem formado, como Vini Jr. ou Rodrygo, mas também atletas como Endrick, Vítor Roque ou Lucas Beraldo, por exemplo - permite prever que os anos de glória do Brasil podem voltar. Até lá, cabe a quem dirige, neste caso, é Dorival Júnior, potenciar esse talento, com uma mistura de experiência e juventude. Do outro lado, a Inglaterra parece estar a colher os frutos dessa «travessia no deserto», com o seu futebol a ter cada vez mais qualidade. Entre duas seleções com muitas mais-valias, a equipa que já é do presente enfrenta o conjunto que se prepara, sobretudo, para o futuro.

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