Hungria: o guia
Hungria (IMAGO)

EURO 2024 Hungria: o guia

INTERNACIONAL26.05.202412:00

Texto escrito por Tom Mortimer, no âmbito da Guardian Experts' Network, rede de troca de conteúdos liderada pelo jornal inglês The Guardian, e que A BOLA integra

Expectativas

É certo que a Hungria teve equipas célebres no passado, mas esta geração é a primeira desse tipo em muito tempo. Apresentando um 5x3x2 transicional, a seleção de Marco Rossi desenvolveu imenso o seu jogo desde o Europeu disputado em 2021, no qual ficaram no grupo com Portugal, França e Alemanha.

Nessa altura a Hungria sobrevivia, mas agora a equipa afirmou-se por direito próprio. Liderada pelo mestre Dominik Szoboszlai, melhorou muito ofensivamente, e agora o futebol fluente dá aos jogadores a liberdade para mostrar o seu músculo criativo.

Na teoria pode ainda não assustar muito, mas esta Hungria é muito mais do que a soma da suas partes e baseia-se na combinação entre táticas astutas e intensa determinação. No futebol internacional é uma combinação raramente visa.

Tudo isto vem do treinador, Rossi, que potencia toda a fibra desta equipa. O italiano transformou a Hungria desde que assumiu o cargo, em 2018, e tem desenvolvido uma seleção que, de acordo com alguns, pode surpreender neste torneio.

Isso pode ser visto como um exagero, num grupo que tem Alemanha, Suíça e Escócia, que não será fácil de navegar, mas quanto mais longe esta Hungria chegar, mais confiante e perigosa ficará.

Até arrancar a preparação para este Europeu a Hungria somava 18 jogos sem perder, o que é nada de se menosprezar, especialmente quando, nessa sequência, se incluem vitórias fora de casa frente a Alemanha e Inglaterra. Qualificaram-se invictos nos oito jogos realizados, e pela primeira vez venceram um grupo de qualificação para o Euro.

O selecionador

Marco Rossi (IMAGO)

Não há muitos treinadores estrangeiros a nível internacional como Marco Rossi. Desde o primeiro dia que o italiano tem adotado veementemente a cultura do país. «Sinto-me em casa aqui», disse após receber cidadania húngara em 2023. «Serei grato à Hungria para o resto da minha vida». Os adeptos estão gratos também a ele. Desde que Rossi assumiu o comando da seleção, em 2018, que a Hungria subiu a novos patamares: presenças consecutivas no Euro, promoção à Liga das Nações A e vitórias sobre Inglaterra e Alemanha. São dias saudáveis para o futebol húngaro e Marco Rossi merece muito crédito.

O ícone

Dominik Szoboszlai IMAGO

Nenhum futebolista húngaro nascido nos últimos 60 anos tem tanto talento quanto Dominik Szoboszlai. Na verdade, pode dizer-se que não há nenhum húngaro como ele desde Ferenc Puskas. Blasfémia? Talvez, mas os seus colegas estão a começar a compará-lo aos grandes. «Tens o mesmo sentimento sobre ele do que quando vês Messi no seu melhor», disse o guarda-redes da seleção, Denes Dibusz. Parece hiperbólico chamar-lhe o Messi da Hungria, pelo que talvez melhor comparação seria Gareth Bale húngaro. A tática é: dá a bola ao maestro tanto quanto possível. E funcionou, uma vez que a Hungria entrou num período de invencibilidade após ter sido nomeado capitão.

Para ter debaixo de olho

Milos Kerkez IMAGO

Já titular na Premier League, aos 20 anos, Milos Kerkez é um dos mais entusiasmantes laterais-esquerdos do mundo do futebol e oferece uma energia que faz lembrar um jovem Federico Dimarco. A mudança para o Bournemouth, em 2023, foi surpreendente, após ter sido ligado a clubes maiores, como o Benfica, mas tem-se afirmado junto de um grupo jovem e entusiasmante, sendo agora associado a uma possível transferência para o Manchester United ou Chelsea. Um Europeu impressionante pode assegurar esse passo em frente.

Espírito rebelde

Laszlo Kleinheisler IMAGO

Laszlo Kleinheisler é um dos jogadores mais enigmáticos do futebol internacional. No último Euro, Kleinheisler ganhou o prémio de Homem do Jogo no empate (1-1) frente à França, apesar de ter disputado uma batalha no meio-campo com Kanté, Pogba e Rabiot. Na seleção, o homem que muitos chamam de Paul Scholes húngaro é um fenómeno. Mas, longe dos palcos internacionais, já teve mais clubes que um baralho de cartas, e passou o final da época passada por empréstimo no Hadjuk Split da Croácia. Que não seja uma surpresa se o jogador de 30 anos brilhar no Euro, este verão, e depois desaparecer da face da Terra nos próximos quatro anos.

A espinha dorsal

A espinha dorsal é exclusivamente da Bundesliga. Desde que regressou de uma rotura de ligamentos, em fevereiro, Peter Gulacsi voltou ao seu melhor no RB Leipzig e é um dos melhores guarda-redes da Europa. Um grande líder, semelhante ao seu colega de equipa Willi Orban, que se afirma como o colosso defensivo da Hungria. Apesar de não falar húngaro, o defesa nascido na Alemanha tem sido um líder nato desde que obteve cidadania, em 2018, e ao lado do Szoboszlai é o jogador mais importante da seleção. O extraordinário esquematizador Rolland Sallai, do Friburgo, vai ligar o jogo e aterrorizar defesas. A sua energia e tenacidade emula tudo o que de bom tem a seleção húngara, além de que tem propensão para o incrível.

Onze provável:

5x3x2 - Gulacsi - Nego, Lang, Orban, Szalai, Kerkez - Nagy, Schafer, Szoboszlai - Sallai, Varga.

Adepto famoso

Viktor Orban (IMAGO)

Não há maior adepto do futebol húngaro do que Viktor Orban. O infame líder do governo nacionalista já gastou mais de 2 mim milhões de euros a rejuvenescer o futebol húngaro, desde 2010, e até construiu um estádio de classe mundial, possível de ver da sua casa de infância. Antigo futebolista de escalões inferiores, Orban não falha, aparentemente, uma final da Liga dos Campeões ou Mundial há mais de 25 anos, e certamente estará em todos os jogos da Hungria no Euro.

Petisco

Os húngaros não estão sozinhos no seu amor por sementes de girassol, mas, dito isto, não pode existir outro país que as come com a mesma ferocidade do adepto húngaro. Nos primórdios dos vídeos na internet, um clip viralizou, no qual pode ser apenas descrito como uma onda robótica de cerca de 200 adeptos húngaros a mexer os braços para pegar nas sementes, no seu colo, e comê-las. Tem de se sentir pena pela pessoa que vai limpar as cascas.