GIL VICENTE-SC BRAGA, 0-0 Houve um galo a querer cantar sobre as cinzas dos guerreiros (crónica)
Desgaste europeu notou-se num SC Braga que quis resolver cedo, adivinhando o que aí vinga: 15 minutos altamente intensos, seguidos de enorme queda. O Gil acreditou e foi mais perigoso, mas não teve eficácia
Podem os guerreiros do Minho, enfim, entregar-se ao merecido descanso, concluído que está o terrível ciclo de 10 jogos (seis na Europa, quatro na Liga) em 35 dias. Um descanso que, decerto, agradeceriam ter tido uma horas antes de ele chegar. Sabiam disso jogadores e técnicos do SC Braga, sabiam que, depois do intenso duelo de Viena, no qual garantiram, por fim, a qualificação para a Liga Europa, o jogo de Barcelos seria de enorme sacrifício e as cinzas do desgaste europeu iriam, inevitavelmente, evidenciar-se na visita ao Gil Vicente.
Inevitável, por isso, o que se viu e que, seguramente, os gilistas já esperavam: 15 minutos de alta intensidade dos homens de Carlos Carvalhal, num ritmo galopante, com velocidade, intensão e alta tensão, na busca constante da explosão da estrela do momento, Gabri Martínez. O objetivo era claro: os guerreiros queriam resolver cedo o jogo, sabendo que a energia só chegava para aqueles instantes iniciais.
Não o conseguiram e aproveitaram-se disso os galos, pouco interessados em gestos de piedade ou de compreensão. O gás que o SC Braga rapidamente perdeu foi precisamente o mesmo gás que deu força e fé ao Gil Vicente que, de imediato, tratou de equilibrar as coisas, impondo maior pressão na saída de bola dos bracarenses, procurando, depois, passo a passo começar a criar os lances que poderiam dar a estocada final no grupo de guerreiros que, apesar de tudo terem dado até à derradeira gota de suor, estavam arrasados, incapazes de grandes reações, embora sempre ligados ao duelo.
Podiam cair, mas caíriam de pé. E, quiçá, até com glória, caso algum dos arranques faíscantes de Gabri Martínez na esquerda — algo que, na direita, Roger Fernandes raramente conseguiu — resultasse em golo. Não resultou.
Ao invés, o que, sim, resultou foi a forma como, unidos e solidários, os visitantes foram sustendo o crescente perigo que, desde o quarto de hora final da primeira parte, era criado pela equipa anfitriã.
Acreditava o Gil Vicente, com um futebol personalizado e que vai ganhando os traços estilísticos do seu novo treinador, Bruno Pinheiro, mas a fé não chegava. Era preciso acerto no instante decisivo, algo que, contas feitas, e, obviamente, à luz do 0-0 final, o Gil nunca teve. Nem mesmo tendo criado maior número de oportunidades e, também, as mais perigosas.
Tiveram os homens de Barcelos duas chances claras nos pés, daquelas em que o guarda-redes já está batido e a baliza fica à mercê, mas em ambas tiveram guerreiros que foram ao fundo da alma buscar forças para os travar: aconteceu aos 40 minutos, quando Tidjany Touré surge isolado e vê Paulo Oliveira protagonizar um grande corte quase em cima da linha; e sucedeu, de novo, aos 84', quando Maxime, de saída para o Brasileirão, chutou contra Matheus e, na recarga, Mboula, que entrou muito bem na partida, viu o corte in extremis de Yuri Ribeiro, que acabara de entrar em campo, estreando-se pelo SC Braga, ele que não jogava em Portugal desde o Benfica de Bruno Lage, em 2019...
O Gil estava confortável no jogo, como esteve desde o quarto de hora inicial. O galo quis cantar sobre as cinzas dos guerreiros, mas na hora de finalizar... teve galo.