Sporting-FC Porto, 2-0 Há um leão da Suécia capaz de azedar um Porto vintage (crónica)
Para que não restem dúvidas, foi um grande jogo de futebol, em que a excelente organização portista obrigou o campeão nacional a estar ao melhor nível para ficar com os três pontos
Alvalade, onde se sentiu, vinda das bancadas, uma energia positiva que acabou por funcionar como 12.º jogador dos leões, assistiu a um jogo de futebol de nível-Champions, de enorme riqueza tática, em que acabou por prevalecer a maior qualidade individual do Sporting, perante um FC Porto que nunca se deixou acantonar nas imediações de Diogo Costa e procurou fazer do coletivo o seu principal argumento. Durou mais de 70 minutos a dúvida quanto ao vencedor deste clássico, e não durou mais porque o Sporting tem um ponta-de-lança que é um caso sério no panorama internacional, e um fator diferenciador no que respeita ao futebol que se joga dentro de portas. A forma como se libertou de Otávio, no enésimo sprint que fez no jogo, deixando-o nas covas e levando-o a derrubá-lo já na área de rigor, está ao alcance de muito poucos e, provavelmente desde os melhores tempos de Hulk no FC Porto, que não se via por cá nada parecido. Conseguida a vantagem, para o Sporting o mais difícil estava feito, porque a seguir o FC Porto tinha de expor-se mais e com espaços estes leões são de facto reis dos ataque rápidos. Mas não saltemos já para o final da história e debrucemo-nos sobre a riqueza tática que Rúben Amorim e Vítor Bruno colocaram em campo. Nos donos da casa, que se apresentaram, embora não o assumissem na conferência de imprensa prévia, doridos pela derrota de Aveiro na Supertaça, a questão de se saber com quantos defesas jogava, cedo foi respondida: jogava com quantos fossem precisos, ora três, ora quatro, ora cinco. E conseguir este nível de mecanização pode parecer fácil, mas não é, porque implica rotinas não só com sobretudo Quaresma e Inácio, mas também com Morita e Hjulmand, para a equipa se manter sempre equilibrada. E do outro lado, como respondeu o FC Porto? Com o mesmo nível de sofisticação, apresentando-se com linhas de três, quatro, cinco ou seis homens fazendo descer Ivan Jaime e Pepê) em trabalho defensivo, consoante Quenda e Catamo subiam ou não no terreno, ou Pedro Gonçalves e Trincão de colocavam na mesma linha de Gyokeres, ou, em modelo de ataque, soltando sobretudo Galeno para posições mais adiantadas, juntando-se Pepê a Namaso e Nico na frente.
Foi um jogo entre equipas adultas em que a plasticidade foi imperatriz e se viu, por exem pelo, o FC Porto passar de 4x4x2 a 4x5x1 ou a 4x14x1 com a naturalidade de quem sabe que os espaços devem ser preenchidos consoante aquilo que o jogo estiver a pedir.
Mas também não faltou emoção em Alvalade, não obstante toda a filigrana tática usada pelos treinadores. O FC Porto entrou melhor em jogo, muito personalizado e a obrigar o Sporting, graças a uma pressão constante feita longe de Diogo Costa, a preocupar-se sobretudo em manter a baliza de Kovacevic a zero. Assim, aos 12 minutos Vasco Sousa teve um remate perigoso, desviado por Hjulmand para cannto, e aos 16 foi Martim a criar uma situação de pânico junto às redes leoninas. Mas no minuto seguinte, como se sentisse necessidade de sacudir a pressão, Gyokeres isolou Pedro Gonçalves que deu o golo a Trincão, que só não faturou por intervenção milagrosa de Zé Pedro. O jogo manteve-se a seguir.
No segundo tempo, repartido, até que Trincão e Pedro Gonçalves começaram a ganhar espaço entre linhas e por volta dos 35 minutos os leões comandavam as operações, mas não deixaram de apanhar um susto quando galeno (41) obrigou Kovacevic a uma boa defesa.
No segundo tempo, Varela tirou o pão da boca a Gyokeres aos 52 minutos e a pouco e pouco os leões foram ganhando, especialmente no aproveitamento de espaços nos corredores laterais, predominância, até que chegou o golo de Gyokeres. Vítor Bruno respondeu reforçando o meio-campo e o ataque; Rúben Amorim respondeu-lhe refrescando a defesa e o meio-campo, e quando os adeptos do Sporting tremiam mais do que por aquilo que o FC Porto podia fazer do que por aquilo que fazia em termos de perigo, uma triangulação entre Gyokeres, Pedro Gonçalves e Catamo terminou no 2-0 que soltou os foguetes em Alvalade.