ALLIANZ CUP Grandiosa mesmo sem grandes: a crónica da final da Taça da Liga
Emoção na decisão dos 11 metros, entrega única dos jogadores e colorido nas bancadas. Lotaria saiu aos bracarenses. O receio de errar
A final que ninguém esperava — apenas a segunda em 17 edições sem a participação de Benfica, Sporting ou FC Porto — terminou com o SC Braga a celebrar numa decisão da marca dos 11 metros de tirar o fôlego. Inesquecível febre de sábado à noite para os guerreiros, em Leiria, quatro dias após terem afastado o Sporting nas meias-finais, em contraste com a desilusão de um Estoril sem argumentos para repetir o brilharete que culminou com a eliminação do Benfica na quarta-feira.
Mesmo sem qualquer um dos três grandes em campo — a lamberem feridas, ainda em carne viva as dos clubes de Lisboa, mais antigas mas por sarar as dos dragões, eliminados na fase grupos pelos canarinhos — a final da Taça da Liga foi um jogo grandioso apesar de nem sempre ter sido um espetáculo de encher o olho. Grandioso pela emoção até ao derradeiro penálti, pela entrega de jogadores que normalmente não pisam palcos em que se decidem títulos, pelo colorido conferido por adeptos que costumam assistir a estes desafios sentados no sofá.
Se a ideia é internacionalizar a competição, algures nas Arábias ou noutro destino onde os clubes portugueses possam rechear os cofres, o duelo de ontem contribuiu para o objetivo. Pena que o finalista vencido, a partir da próxima temporada, esteja impossibilitado de participar, pois não é crível que os estorilistas acabem nos seis lugares de topo do campeonato — a essa meia dúzia juntam-se os dois primeiros da Liga 2 no novo formato que subtrai a fase de grupos e prevê quartos de final na antecâmara da final four.
Promessa cumprida
Antes da partida, os capitães, Ricardo Horta e Dani Figueira, prometeram espetáculo e fair play. Prometeram e cumpriram, desde cedo. Primeiro o Estoril, letal a aproveitar mau passe de Víctor Gómez em saída para o ataque, passo inicial para construir jogada que terminou com falta na área de José Fonte sobre Cassiano. Na marcação do penálti, assinalado com recurso ao VAR, o ponta de lança brasileiro rematou para a esquerda de Matheus, incapaz de chagar à bola apesar de ter adivinhado o lado.
Ao minuto seis o marcador ganhava cor, desvantagem que o SC Braga encarou sem dramas, sempre com João Moutinho a dirigir a orquestra sem que lhe conseguissem roubar a batuta. O volume da música bracarense aumentava e os decibéis na noite leiriense superaram em muito o nível permitido pela lei quando Ricardo Horta igualou. Um golaço! Canto na esquerda de Zalazar, bola com olhinhos para o pé direito do internacional português, imperial à entrada da grande área, disparo sensacional de pé direito — Dani Figueira, sem reação, apenas viu agitar as redes à sua direita.
Em relação às meias-finais, três alterações no onze do Estoril (Pedro Álvaro, Tiago Araújo e João Marques nos lugares de Volnei, Heriberto Tavares e Rodrigo Gomes, este ausente por estar cedido pelos guerreiros), uma no do SC Braga (Pizzi por Abel Ruiz). Mas a diferença mais expressiva residiu na forma como encaravam o adversário. Nem os canarinhos eram pressionantes como mostraram ser diante do Benfica, nem os bracarenses revelavam as cautelas evidenciadas frente ao Sporting. Notava-se, pois, que Vasco Seabra desejava que o intervalo chegasse depressa, enquanto Artur Jorge talvez preferisse continuar a jogar por estar na mó de cima.
O descanso serviu para os canarinhos afinarem o pio, mais fortes na segunda metade, sobretudo quando perdiam a bola e era necessário bater asas para recuperá-la. O pânico latente nas equipas só de imaginarem que um erro poderia matar o sonho de uma vida, em especial no caso do Estoril, nada habituado a estas andanças, transformou o encontro à medida que a areia caía pelo gargalo da ampulheta. Se antes ambos pensavam em ganhar, agora a única ideia era não perderem e aguardarem pelo desempate por penáltis na esperança de que não fossem castigos mas, sim, prazeres máximos.
Lotaria ou não, o prémio final saiu ao SC Braga, certeiro nos cinco pontapés, ao contrário do Estoril, exemplar até Tiago Araújo rematar para as nuvens.