«Fui para o Sporting, mas para ficar no FC Porto até disse que ia para o Benfica»

FUTEBOL04.11.202410:36

Wilson Eduardo, jogador do Alverca, é o convidado de A BOLA FORA

O nosso convidado desta A BOLA FORA é Wilson Eduardo, 34 anos, reforço da Alverca. O internacional angolano formou-se no Sporting e para além dos leões representou Real, de Massamá, Portimonense, Beira-Mar, Olhanense, Académica, SC Braga, Dínamo Zagreb Den Haag, SC Braga, Al Ain, Alanyaspor e Alverca.

O que estavas a fazer antes de chegar?
Estava a ver o treino. Como treinámos sempre de manhã, estava a ver o treino. Acabei de almoçar e vim para cá.

Decides regressar a Portugal, depois de alguns anos fora. Era o rumo que querias dar à tua carreira?
A verdade é que foi mais por questões familiares que vim para cá. Decidi, juntamente com a minha família, voltarmos para Portugal. Estávamos bem fora. Nos últimos anos estivemos em países fantásticos para se viver. Claro, com os seus problemas, mas que eram muito bons para nós. Mas por questões familiares, geralmente da minha filha, decidimos que era o melhor regressar a Portugal. Só houve essa possibilidade, surgiu e cá estamos nós, agora, em Portugal novamente.

Foste a contratação mais sonante do Alverca, és ali o nome de peso. Sentes essa responsabilidade?
Não, é normal eles [adeptos e administração] olharem para nós, até porque o nosso plantel é muito jovem, tirando dois ou três jogadores que estão acima dos 30 anos. Sou o segundo mais velho. Tudo o resto é abaixo dos 25. Olham para nós, não digo de maneira diferente, mas com um tipo de responsabilidade que acabam por não passar aos outros. Pela experiência que temos, por aquilo que já vivenciámos no futebol, pela carreira que já tivemos, jogar na Liga, jogar fora. Já passámos por muita coisa e é mais nesse aspeto que a administração olha para nós.

E no grupo?
Senti-me normal. Foi um grupo que me acolheu bem, já no final do mercado. Um grupo que já está junto há dois, três meses, mas que me acolheu bem, que me integrei rápido. Eles depois acabam por olhar, por perguntar, por tentar saber várias situações e nós, como mais velhos, vamos tentando ajudar de uma maneira ou de outra.

Como está a ser o regresso mesmo a casa, a Portugal, a esta casa?
Já tenho esta moradia há algum tempo, mas vivermos cá mesmo, nunca vivi, porque já tenho esta casa há algum tempo, mesmo antes de conhecer a minha mulher, mas nunca vivemos cá, porque sempre estive fora. Acabava por ser uma casa de férias. É a primeira vez que o estamos a fazer, também não vai ser por muito tempo, porque em breve iremos mudar-nos. É uma fase de adaptar a tudo, porque estando fora estamos habituados a estar numa cúpula, se assim puder se dizer, em que era só eu, a minha mulher e a minha filha na altura, agora temos mais um menino. Claro que tínhamos colegas fora, tínhamos portugueses que muitas das vezes estavam connosco, mas vivíamos num mundo só nosso, num mundo em que saímos para almoçar de vez em quando, era muita coisa a três, e agora tudo muda. Chegamos ao nosso país, onde temos as famílias, onde temos os amigos, e acaba sempre por ser aquela coisa de nos adaptarmos outra vez a convites, de estarmos com os amigos, de estarmos com a família. Era uma coisa que não tínhamos, mas que faz parte, e é uma das coisas que nos custa mais, porque estávamos habituados sempre a estar em casa, sair uma vez a outra e agora, semana após semana, temos sempre qualquer coisa para fazer, e que não estava no nosso momento, na nossa forma de viver, se assim posso dizer.

Começas a jogar mais a sério aos nove anos no FC Porto e tu fazes parte de uma geração que ganhou imensa coisa. Tinham uma equipa muito boa, também com o Josué. Recordas-te bem da carrinha que te levava para os campos da Constituição?
A verdade é que não, essa parte das carrinhas eu tive, mas era mais para jogos, porque para treinos tinha sempre o pai. Neste caso, pais de um colega meu que vivíamos na mesma cidade, na mesma zona, que acabava por nos levar depois da escola para o treino. Mas sim, era uma geração muito boa, nem toda a gente conseguiu singrar, a verdade é essa.

Além do Josué, há mais alguém que tenha conseguido ter uma carreira longa?
Daquela geração, penso que não fomos muitos, tive dois ou três colegas, se tanto, que chegaram a profissionais, terem jogado nos primeiros escalões de Portugal ou fora. Estive lá quatro anos, ganhámos muita coisa, muitos torneios, que era o que mais havia na altura, mas depois quando começou a ser mais a sério, não sei por um motivo ou outro, acabaram por não singrar.

Como é a tua mudança depois para o Lisboa e consecutivamente para o Sporting?
A minha mudança vem com a separação dos meus pais, a minha mãe tinha a família dela cá, e quando nos mudámos, eu e os meus irmãos viemos com ela para baixo. Na altura, foi com o meu pai que eu fui ao Sporting, mas eu não queria sair do Porto. Estava habituado ao FC Porto, tinha lá os meus amigos. O meu pai falou-me do Sporting, e eu, para ver se ficava no FC Porto ou se me deixava ficar no Porto, lembro-me de dizer que não queria o Sporting, que ia para o Benfica, que ele detestava o Benfica. Acabou por não acontecer, fui ao Sporting, treinei lá dois dias, se não estou em erro, e acabei por ficar, também porque eles já me conheciam de vários torneios.

Depois passaste a gostar?
A adaptação não foi fácil, estive até janeiro sem poder jogar, porque houve ali um problema entre clubes. Na altura era preciso a carta de um clube para o outro e o FC Porto não deu na altura com tanta facilidade, e a adaptação a Lisboa foi bastante complicada. Com o passar dos anos aprendi a gostar do Sporting, aprendi a gostar de estar cá em Lisboa, e as coisas acabaram por correr normalmente.