França: o guia
França (IMAGO / ActionPictures)

EURO 2024 França: o guia

INTERNACIONAL26.05.202412:00

Texto de Luke Entwistle, que escreve para o 'Get French Football News', no âmbito da Guardian Experts' Network, rede de troca de conteúdos para o Euro 2024, promovida pelo jornal inglês 'The Guardian', e que tem A BOLA como representante português

Expectativas

A França aproxima-se da maioria dos torneios como favorita, nos dias de hoje, e a culpa é do sucesso recente. Este será o primeiro torneio sem Raphaël Varane ou Hugo Lloris, que juntos formaram parte da espinha dorsal francesa, mas há também muita continuidade nesta seleção; o meio-campo e ataque serão basicamente um copiar/colar do Mundial 2022. Com o chocante regresso de N’Golo Kanté, agora a jogar na Arábia Saudita, é uma França que denota uma certa familiaridade e tem a mescla certa entre juventude e experiência.

Les Bleus qualificaram-se serenamente, vencendo todos os jogos menos o último, frente à Grécia, no qual foram feitas várias experiências. Com apenas três golos sofridos durante a campanha, dois deles nesse último jogo, é claro que a França será difícil de quebrar, ainda que existam algumas dúvidas os indivíduos que irão compor a linha defensiva de Deschamps.

Desde a retirada internacional de Varane que o selecionador tem falhado em estabilizar uma dupla de centrais. O vasto leque de escolhas dificulta a sua decisão, mas o maior ponto de interrogação é a lateral direita. Deschamps tem – por vezes – criticado publicamente a falta de escolhas nesta posição, tendo pedido à federação para incrementar o desenvolvimento deste perfil de jogador. Jonathan Clauss foi convocado, ao contrário de 2022, mas é esperado que a opção seja mais defensiva, como Jules Koundé.

Uma pausa internacional turbulenta, fora do habitual, em março, deixou algumas questões sobre o atual nível de França, mas são imperiais assim que ligam o modo torneio. Todos os sinais sugerem que não terão problemas em fazê-lo novamente, com uma ida às meias-finais vista como o mínimo. 

O selecionador

Didier Deschamps (IMAGO / Nico Herbertz)

Há continuidade em campo e na área técnica. Após rumores de uma saída após o Mundial, Didier Deschamps ficou na sua posição, renovando, até, o contrato até 2026. Têm existido alguns pedidos de uma abordagem diferente por parte do treinador, mas a filosofia eficiente de Deschamps tem sido vista como a grande fonte do sucesso. Dado que o seu estilo é notoriamente copiado pelo selecionador inglês, Gareth Southgate, a sua abordagem tem mérito. Porquê desviar-se do modelo que a própria França adotou?

O ícone

Mbappé está na seleção francesa a preparar o Euro (Foto Imago)

Quando Kylian Mbappé foi autorizado a falhar o último jogo do PSG na Ligue 1, frente ao Metz, aproveitou para ir ao Festival de Cinema de Cannes. Lá era uma de muitas estrelas, mas em campo ninguém brilha tanto quanto ele, pelo menos na seleção de França. O menino dourado da Ligue, goleador máximo do PSG e capitão da seleção, Mbappé aproxima-se do Euro após uma época na qual venceu a Bota de Ouro da liga pela sexta vez consecutiva. Aproxima-se uma antecipada transferência no verão, mas vai primeiro em busca de glória pela seleção no seu primeiro torneio como capitão.

Para ter debaixo de olho

Por 45 milhões de euros, Bradley Barcola representou uma grande aposta para o PSG, por força de uma segunda metade da época 22/23 promissora pelo Lyon. Descrito de forma ríspida como «pequeno carneiro» por um comentador francês, após algumas exibições menos conseguidas, especialmente na Liga dos Campeões, Barcola cresceu em importância. Contudo, a sua omissão na convocatória de março parecia terminar o seu sonho do Euro, já que o selecionador não tem o hábito de chamar jogadores sem internacionalizações para grandes competições. Para se ter desviado dessa ‘política’, isso diz muito do talento do extremo do PSG.

Espírito rebelde

Pavard (Foto: IMAGO)

Não é que Benjamin Pavard não tenha conseguido ter impacto no Catar, há 18 meses, simplesmente não teve um impacto positivo. Deschamps disse que o defesa do Inter não estava «no melhor estado mental» para jogar num dos encontros de França e, de acordo com o selecionador, «não estava contente com a situação». A causa do seu mau humor nunca foi revelada, mas tendo conquistado o seu lugar novamente, quererá ter uma contribuição mais positiva no Euro.

A espinha dorsal

Mike Maignan herdou a camisola número 1 do jogador mais internacional de sempre pela França, Hugo Lloris. A lesão de Lucas Hernandez é um duro golpe, mas, na sua ausência, Dayot Upamecano é apresentado como o central mais bem estabelecido na equipa. Antoine Griezmann, agora a jogar numa posição mais recuada no meio-campo, nunca foi tão importante ao nível internacional, como mostrou a sua ausência nos jogos de março – terminando um registo de 84 presenças consecutivas pela seleção. No ataque não há ninguém tão influente quanto Kylian Mbappé, o vencedor da Bota de Ouro no Catar, que já se aproxima do registo de melhor marcador de sempre de França, recorde detido por Olivier Giroud.

Onze provável

4x3x3 - Mike Maignan - Jules Koundé, Ibrahima Konaté, Dayot Upamecano, Théo Hernandez - Antoine Griezmann, Aurélien Tchouaméni, Adrien Rabiot - Ousmane Dembélé, Olivier Giroud, Kylian Mbappé.

Adepto famoso

Há uma obrigação patriótica dos líderes de Estado em apoiar a seleção, mas poucos o fazem com tanto prazer como o adepto do Marselha, Emmanuel Macron. O presidente parecia estar na sombra de Mbappé no Catar e tem recentemente «exercido a máxima pressão» para o seu «futuro clube» libertar o avançado do para os Jogos Olímpicos. É esperado que Macron mostre todo o tipo de emoções nas bancadas do Euro.

Macron recebe os campeões (IMAGO)

Petisco 

A salsicha é a tradição para os adeptos em França. Há variações regionais, de forma mais icónica a Galette Saucisse, uma especialidade da Bretanha que consiste numa salsicha grelhada embrulhada numa panqueca, muito associada ao Rennes. Os adeptos do clube fizeram recentemente uma tentativa de exportar a iguaria local para lá da sua região, oferecendo-a aos adeptos do AC Milan durante a visita dos italianos, na Liga Europa. O tempo dirá se é uma iguaria adotada de forma tão famosa como outros pratos franceses.

Galette Saucisse (IMAGO)