Mauro Xavier deixa críticas profundas às duas entidades que mandam no futebol português; em causa Arbitragem, Disciplina e direitos televisivos; «Benfica tem de liderar», diz
— Vamos falar de direitos televisivos, no momento em que ainda se discute a centralização. O último contrato do Benfica foi de €400 milhões, quanto deve o Benfica encaixar no futuro, no seu entender?
— Os direitos televisivos têm sido tema a que tenho dedicado mais tempo, tentando encontrar uma solução. A Liga tem este assunto há 5 anos e há 5 anos que encontramos um vazio. O Benfica, no último ano, apresentou 195 milhões de euros de resultados operacionais na SAD e estes 195 milhões vêm de quatro grandes bolos de receitas: direitos televisivos, prémios da UEFA, bilhética e dia de jogo e aquilo que é o Benfica comercial, que tem a ver com merchandising e patrocínios. Estes 4 grandes bolos valerão, em média, entre 35, 40 milhões de euros e 55, 60 milhões de euros. Em 2010, as receitas operacionais valiam €100 M e em 2003 valiam €50 M, ou seja, o Benfica a cada 10 anos tem dobrado o valor das suas receitas operacionais, sem a venda de jogadores. Ninguém quer que seja esse o modelo de negócio. A pergunta que eu deixo é, então, como passar de [quase] €200 M para €400 M [em receitas operacionais]? E aqui discordo de Rui Costa, que diz que a posição do Benfica [nos direitos televisivos] é nunca receber menos. Eu não estou aí e é sobre isso que tenho estudado. Como é que o Benfica pode receber o dobro em direitos televisivos? Não sou contra a centralização, mas tem de ser uma centralização liderada por quem quer ganhar mais e não porque querem dividir menos por todos. E a Liga quer dividir menos por todos, este modelo não vai a lado nenhum. A minha grande preocupação é que o Benfica nos últimos três anos teve duas pessoas a tratar de direitos de televisão e vai ter uma terceira a pegar no dossiê. E qual é a minha preocupação? Se não renovarmos [o contrato de direitos televisivos] antes do último ano de contrato, vamos cometer o erro de estender o contrato que temos sem mais receitas.
Modelo de negócio atual do Benfica não agrada a Mauro Xavier, que tem o seu próprio modelo para proteger clube e jogadores da formação. Assinaria com Di María, porque o argentino «nunca será um problema», mas alerta que Roger Schmidt deveria rever sistema tático
— Falemos da relação do Benfica com a Federação Portuguesa de Futebol. Haverá eleições, em princípio, no início de 2025, qual deve ser a posição do clube?
— Há 12 anos fui candidato à Federação Portuguesa de Futebol, enquanto vice-presidente. A lista apoiada por Carlos Marta. Perdi. Acho que o primeiro mandato de Fernando Gomes foi um excelente mandato. E julgo que se tem de resumir muito a esse mandato. Acabámos de terminar um Europeu, sem uma palavra do presidente da Federação Portuguesa de Futebol. O treinador assobia para o lado, o ex-treinador tem problemas fiscais, ninguém fala. Todos a assobiar para o lado, ninguém fala. O mandato da Federação Portuguesa de Futebol já acabou. Acabou em julho. Hoje a Federação não tem mandato. Porquê esperar por janeiro? Essa é a primeira coisa que, enquanto presidente do Benfica, deveria exigir-se. E que houvesse eleições marcadas para ontem. Porque dentro da Federação estão duas coisas muito importantes: a Disciplina e a Arbitragem. E não há transparência em nenhuma delas. O VAR, na próxima época, continua a não ser automático. Continua a haver nomeação dos árbitros sem ser transparente. Continua a haver pontuação dos árbitros, sem ser transparente. Continua sem haver uma escola de formação para os nossos árbitros errarem menos. Continua a haver muitas coisas que não se percebem na Disciplina. Portanto, a Federação Portuguesa de Futebol é um tema crítico. Mas também o é a Liga, com os direitos de televisão, como também o é o Governo. Porque há bocado falámos da mudança da Lei da Concorrência, mas o Governo tem ainda para legislar aquilo que é o antigo peão, que mais modernamente se chama o safe standing. O Benfica tem 17 mil benfiquistas em lista de espera para poder comprar Red Pass. E o safe standing permitiria aumentar o Estádio da Luz para 80 mil lugares.
Mauro Xavier entende que não está a ser feito tudo o que poderia ser feito