Forte dragão deitou fogo a uma águia feita de palha: a crónica da 'manita' no Clássico

FC Porto-Benfica, 5-0 Forte dragão deitou fogo a uma águia feita de palha: a crónica da 'manita' no Clássico

NACIONAL03.03.202423:57

Difícil é explicar como é que este Benfica ainda está seis pontos à frente deste FC Porto. Depois da expulsão de Otamendi o jogo tornou-se penoso

Difícil não é explicar o jogo e a goleada do FC Porto ao Benfica. Difícil, muito difícil, mesmo, é explicar por que razão o Benfica, depois do que ontem se viu, ainda está seis pontos à frente do FC Porto no campeonato. Mas comecemos por explicar o jogo.

Não se pode dizer que tenha sido um FC Porto estratosférico. Foi, apenas, um FC Porto forte, intenso, convicto, com caráter. Nada de novo, portanto. É assim que se reconhece, normalmente, o FC Porto de Sérgio Conceição. Uma equipa que se torna superlativa e que se transcende nos momentos de maior pressão. Aí, não há tempo para angústias existenciais, para a racionalização dos perigos, para fantasmas de derrota. E foi só isso que aconteceu, a somar à qualidade dos seus jogadores, sobretudo quando lhes é permitido ter a bola e impor ao jogo uma tendência ofensiva, de um só sentido.

E também não se poderá dizer que o Benfica tenha sido uma imensa surpresa. Não foi, porque este Benfica de Schmidt tem sido, ao longo da época, uma equipa descafeinada. Joga o que o que adversário deixa jogar, não tem agressividade competitiva e, ao contrário do FC Porto, reage muito mal à pressão, sentindo-se condicionado e, não raras vezes, tão assustado que deixa facilmente desabar as suas frágeis estruturas. Foi, de facto, um dragão forte, aquele que ontem deitou fogo a uma águia feita de palha. E tão colossal foi a diferença entre as duas equipas que depois da expulsão de Otamendi, aos 52 minutos, o jogo chegou a ser penoso.

António Silva impotente para parar o golo de Galeno

O ERRO CLÁSSICO DE SCHMIDT

Fará pouco sentido a ideia de que Roger Schmidt admitia travar o avassalador caudal ofensivo do FC Porto mudando, apenas, Kockçu para a ala esquerda, deixando Morato a lateral esquerdo e recuando João Mário para o lado de João Neves. Schmidt cometia, assim, o erro clássico de não perceber muito bem como joga o adversário e, por isso, desde o princípio,o Benfica ficou perdido no jogo e, intimamente, os seus jogadores perceberam que sofrer golos seria, apenas, uma questão de tempo.

Sem ter de enfrentar um adversário capaz de correr tanto e de lutar o mesmo, o FC Porto ganhou, desde logo, uma superioridade total. Pepê como organizador maior no meio, desequilíbrios constantes provocados por João Mário e Francisco Conceição na ala direita, ameaças constantes criadas por Wendell e por Galeno na ala esquerda. Na grande área, criando espaços, Evanilson.

O Benfica opôs a tudo isto uma marcação displicente e uma atitude de veludo. Hesitante na saída de bola, perante a pressão do adversário, disparatado na vã ideia de tentar fazer pressão na área do FC Porto adiantado três homens sem qualquer convicção e que deixavam trinta metros de deserto atrás das suas costas, porque todos os outros companheiros esperavam dramaticamente nas trincheiras recuadas.

UMA MÃO CHEIA DE GOLOS

Para o comum adepto portista, o jogo foi um festim, celebrado nos cinco golos ao grande rival. Enfim, uma luz na esperança de ainda poder ver a sua equipa chegar ao título. E uma imensa alegria por ver o dragão devorar a águia com penas e tudo. Foi avassalador. E a questão legítima que se coloca é a de tentar perceber os efeitos deste tsunami na equipa do Benfica e as consequências positivas desta tremenda conquista no resto da vida do FC Porto para esta época.

Seja como for, parece evidente que Sérgio Conceição está no caminho certo e que Roger Schmidt está no caminho errado.