Foi há um ano: Villas-Boas oficializou candidatura e agitou bandeira da mudança no FC Porto

Sob o lema ‘Só há um Porto’, o antigo treinador juntou os apoiantes no edifício da Alfândega para oficializar, a 17 de janeiro de 2024, a entrada na corrida à liderança dos azuis e brancos; o que mudou, as promessas cumpridas, e os desafios que ainda tem pela frente

Sob o lema ‘Só há um Porto’, faz esta sexta-feira um ano que André Villas-Boas apresentou a sua candidatura às eleições do FC Porto, que acabaria por vencer reunindo mais de 80 por cento da votação, terminando com 42 anos de liderança de Pinto da Costa. Foi numa cerimónia na Alfândega do Porto, com muitos dos seus apoiantes, entre os quais Jorge Costa, atual diretor do futebol profissional, que Villas-Boas assumiu a missão de tornar  o FC Porto «mais forte, competitivo, vencedor, dos sócios e para os sócios.»

«A história não é benevolente com quem não conhece a sua evolução.» Foi com esta frase inspirada em José Maria Pedroto, com a viúva e o filho do mestre na plateia, que AVB se lançou na batalha eleitoral com aquele que para ele será sempre «o presidente dos presidentes do FC Porto.» Contudo, o mote era claro: «Estamos gratos, mas é tempo de mudança», anunciou.

«Porquê esta candidatura e porquê agora? Porque neste momento já não somos capazes de construir valor, crescer enquanto clube e organização, propagar a nossa cultura, construir equipas vencedoras e cimentar o associativismo que tanto nos orgulha. De repente, parecemos capturados por um conjunto de interesses alheios ao FC Porto, que ferem os valores fundamentais da nossa instituição», criticou.

Impacto tremendo

O impacto da sua entrada nas eleições foi esmagador no universo portista. Os apoiantes de Pinto da Costa perceberam que Villas-Boas era um concorrente capaz de reunir à sua volta não só o apoio de figuras importantes do clube, como de milhares de portistas que não se reviam na gestão do mais titulado presidente do mundo.

Após alguma resistência, as casas do FC Porto abriram-se a Villas-Boas e a onda de entusiasmo cresceu. 26.876 associados votaram no dia 27 de abril, naquele que foi o ato eleitoral mais concorrido da história dos azuis e brancos. Villas-Boas venceu nas 44 mesas de voto e seria aclamado 32.º presidente do FC Porto às 2h12 da madrugada de 28 de abril, quando a ata final foi lida e assinada pela mesa da Assembleia Geral e pelos representantes das quatro candidaturas.

Implacável: a outra promessa

Outro mote da sua campanha: «Serei implacável com quem tiver lesado o FC Porto.» Dito e feito. O Portal da Transparência foi um dos serviços disponibilizados aos sócios, mas foi a auditoria forense conduzida pela Deloitte, com um relato exaustivo das contas do FC Porto nos últimos 10 anos, que revelou, para espanto de muitos adeptos, os gastos excessivos, as comissões exorbitantes pagas a agentes, a vida principesca que os administradores levavam e as férias pagas a membros e familiares dos Super Dragões, mesmo numa altura em que os funcionários tinham salários em atraso.

Entre as promessas eleitorais já concretizadas, destaca-se a criação das equipas de futebol feminino e futsal de formação, a renegociação do contrato com a Ithaka, a otimização da rentabilidade do Dragão e o aumento do número de sócios, que se aproxima agora dos 150 mil. Pelo caminho ficou a Academia da Maia, idealizada por Pinto da Costa, mas travada por AVB, que tem um plano de erguer um Centro de Alto Rendimento (CAR) nas cercanias do Olival.

Estabilidade financeira

Estes primeiros quase nove meses desde que foi eleito refletem uma gestão focada na transparência, na modernização e na proximidade com os adeptos, enfrentando desafios financeiros e desportivos com determinação. Foram dados passos em matéria de estabilização das contas com a finalidade de respeitar as diretrizes da UEFA e manter o clube a salvo da suspensão das provas europeias.

Renegociar a dívida da SAD do FC Porto era outra das suas promessas. Nesse sentido, concretizou com a US Private Placement, através da JP Morgan e outros players do mercado internacional, uma emissão de obrigações no valor global de 115 M€, com 5,62% de taxa de juro e pagamento a 25 anos, o que permitiu enfrentar a dívida de curto prazo. O próximo desafio, porque se tratou de dívida contraída para pagar dívida, é melhorar significativamente os capitais próprios da Sociedade.

A política de proximidade com os adeptos tem sido um pilar fundamental da gestão, sendo exemplarmente representada pela iniciativa 'Lucky Fans', que promove experiências únicas e surpresas para os associados, fortalecendo ainda mais o vínculo com a comunidade portista.

Com uma Taça de Portugal ganha como presidente do clube, ainda com Pinto da Costa na liderança da SAD, e uma Supertaça já em pleno exercício de funções na Sociedade (foi empossado a 28 de maio de 2024), outro desafio é desportivo. Vítor Bruno começou bem a época ao ganhar a Supertaça, mas as eliminações do FC Porto da Taça de Portugal e Taça da Liga, nas meias-finais, as exibições flutuantes da equipa, tanto na Liga Europa como na Liga, plantaram a deceção nos adeptos e a contestação das alas mais radicais. É no fim que se fazem as contas e para todos os efeitos, o FC Porto está a um ponto do líder Sporting no campeonato e na Liga Europa ocupa o 18.º lugar que dá acesso ao 'play off.'

As promessa cumpridas por Villas-Boas

- Liquidação dos ordenados em atraso aos funcionários, ainda antes de tomar posse na SAD;
- Corte no vencimento fixo da administração de €2 milhões para €486 mil por época;
- Criação das equipas de futebol feminino e futsal de formação;
- Reformulação do protocolo com as claques;
- Alteração na política de bilhética, criando plataforma para a compra de ingressos e recompensado os sócios mais assíduos nos jogos da equipa;
- Lançamento gratuito do novo cartão físico e digital de sócio, com tecnologia de ponta;
- Renegociação do contrato com a Ithaka e otimização da rentabilidade do Estádio do Dragão;
- Reorganização de todo o futebol de formação;
- Gabinete de Alta Performance alargado a todas as modalidades;
- Criação do Portal da Transparência;
- Publicação da auditoria forense à SAD do FC Porto respeitante ao período entre 2014 e 2024;
- Aumento do número de sócios, que se aproxima agora dos 150 mil;
- Cumprimento das regras de ‘Fair Play’ financeiro em diálogo constante com a UEFA para evitar a exclusão do FC Porto das competições europeias;
- Empréstimo obrigacionista da SAD do FC Porto, que resultou num encaixe de €21 milhões;
- Renegociação da dívida com uma emissão de obrigações no valor global de €115 milhões, com 5.62% de taxa de juro, a ser devolvido num prazo de 25 anos;
- Reforço do compromisso com a sustentabilidade ambiental, social e económica.