ENTREVISTA A BOLA Filipe Çelikkaya: «Sporting vai continuar a ter sucesso»
Passou por Almada, Benfica, Al Ahli (Emirados Árabes Unido) e Sporting na formação, foi adjunto de Luís Castro no Chaves, V. Guimarães e Shaktar Donetsk, e nos últimas quatro épocas foi treinador do Sporting B. O pai é turco, daí o apelido, e a mãe portuguesa; trabalhou diretamente com Rúben Amorim e Hugo Viana no Sporting e dá-nos a sua visão de como será o seu futuro e o do clube.
— O que perspetiva para o seu futuro? Tem algum patamar mínimo no qual pretenda trabalhar?
— Este patamar é culminar da minha carreira desde o início, que foi de grande trabalho, muitas vezes de grandes dificuldades, passando por várias funções, até ter tido a hipótese e oportunidade de treinar o Sporting B e estar na criação dessa equipa. Foi um trabalho muito profundo, porque essa equipa não existia, e foi um trabalho de equipa técnica e administração. Tínhamos um plano muito bem desenvolvido na nossa mente, que era o desenvolvimento de jovens jogadores para a equipa principal, com a conquista de troféus, naturalmente, e quando esses jovens jogadores não tinham espaço, integrarem quadros competitivos de alto nível através de vendas ou empréstimos para fazerem valer o nosso nome internacionalmente. Essa foi a minha função durante estes quatro anos e penso que foi cumprida na íntegra, o que me dá esperança e objetividade para o que quero para o meu percurso de treinador, num projeto que vá ao encontro das minhas expectativas e ao encontro às expectativas das administrações desses clubes e que se possa fazer um trabalho de grande nível, de grande sucesso, que se traduza em vitórias.
— Acha que já provou o seu valor?
— Sim, sabe que o valor de um treinador é provado todos os dias. No seu comportamento diário, como comunica internamente e externamente, na forma como lida com os jogadores e com a sua equipa técnica e com todos os departamentos envolvidos. Por isso, penso que os treinadores, especialmente o meu caso, têm de provar todos os dias que têm qualidade para estar ao serviço dessa mesma equipa. E, portanto, eu vejo isso com muita naturalidade. Estamos num espaço muito competitivo, onde existem poucos clubes, mas é bom o treinador ter liberdade para escolher, e às vezes não tem. Portanto, eu gostava, e tenho tido a oportunidade de ter liberdade para escolher esse mesmo projeto. É por aí que eu vou lutar para ingressar numa nova etapa da minha carreira profissional.
— Houve alguns convites neste interlúdio desde que deixou o Sporting, até agora?
— No início, curiosamente, após duas semanas de ter assinado pelo Sporting, em 2020, tive um convite de uma equipa das ligas profissionais. Durante estes quatro anos tive vários convites, todos eles com o conhecimento do Hugo Viana e do Rúben Amorim, porque eram essas pessoas a quem reportava diariamente. Tudo aquilo que se passava dentro do clube, na minha área, tinha a necessidade de o fazer. E quando surgiam convites desta natureza, seja equipas de primeira liga ou de segunda liga, nacional e internacional, eu fazia questão, do ponto de vista ético, de comunicar essas mesmas propostas. Acabei por nunca sair, porque não era o meu desejo nessa altura. Acreditava que aquilo que eu estava a fazer, via isso como um espírito de missão, porque já era a minha segunda passagem pelo clube, e de facto queria olhar para trás quando saísse do clube e não a meio, e que ficasse muito orgulhoso daquilo que fiz e que fizemos durante aquele percurso. Foi um trabalho de grande nível. Parti muita pedra, com muita gente. E de facto, tudo aquilo que se fez, está à vista. Ou seja, os jovens jogadores a serem aproveitados na equipa A, outros a irem por outros caminhos e a voltarem, vendas dos jogadores...
— Alguns estão no Chelsea, como Renato Veiga agora, por exemplo?
— Sim, no Chelsea, Southampton, Leicester City, e outros que não passaram por mim, caso do Porro que está no Tottenham, Matheus Nunes está no City, portanto, foi um trabalho muito complexo. E só vivendo aqueles quatro anos, como nós vivemos com a felicidade das vitórias, com a tristeza das derrotas, e com as dificuldades de ser um clube grande, só assim é que, com muita resiliência e com muita dedicação, como uma causa, e sendo profissionais, como é óbvio, conseguiríamos atingir o sucesso.
— Então antevê sucesso para o Sporting no futuro?
— Sim, espero que sim, até porque espero que o paradigma de apostar na formação, de mostrar o talento português ao mundo, da forma como nós fizemos, continue a ser feito ao longo do tempo, até porque nós sabemos da dificuldade que os clubes portugueses têm em angariar as suas receitas, e cada vez mais estas questões da formação, da transição, e da parte profissional têm o seu peso, porque são investimentos muito grandes por parte de uma administração, que tem que ter os seus dividendos, as suas receitas, e como tal, penso que sim, penso que se vão manter, naturalmente no futuro, possivelmente com pessoas diferentes, mas isso faz parte da longevidade dos clubes, não têm sempre as mesmas pessoas, mas é importante as pessoas que lá estão, saibam exatamente qual é o ADN do clube, qual é a visão e a missão que têm para ele, e só assim o clube poderá crescer em patamares que há quatro anos não estava, e que neste momento está mais sólido, e é bom saber isso, como é óbvio, porque fiz parte de um projeto dessa dimensão.