«Ferrari tem modo de condução defensiva»: a crónica do jogo da Luz
Di María determinante, Foto MIGUEL nUNES/ASF

BENFICA-BOAVISTA, 2-0 «Ferrari tem modo de condução defensiva»: a crónica do jogo da Luz

NACIONAL19.01.202423:19

Vitória segura dos campeões nacionais, que defenderam vantagem com linha defensiva formada por quatro centrais; axadrezados duros de roer e com razões de queixa no primeiro golo dos encarnados

O teimoso 0-0 escondeu, até ao minuto 60, um jogo bom e imprevisível entre Benfica e Boavista, inquietante q.b. para os campeões nacionais, que esgotavam dois terços do tempo disponível e continuavam empatados, não tão próximos na perseguição ao líder Sporting quanto gostariam.

A inquietação, todavia, começou antes mesmo de a partida ter início, nasceu assim que se soube a linha de Roger Schmidt: João Neves no banco. Estaria de saída? Estaria lesionado? Nem uma coisa, nem outra, apesar de ligeiramente condicionado fisicamente, mas já relevante o suficiente para deixar os benfiquistas desconfiados.

O Boavista, porém, também não deixou os benfiquistas descansados, em função da forma descontraída como assumiu a primeira meia hora, mesmo que o Benfica, com boa pressão logo à saída área axadrezada, muito condicionasse o adversário.

João Mário foi o primeiro a falhar uma oportunidade flagrante, logo ao minuto 12, boa defesa de João Gonçalves, Morato e Di María também tentavam a sorte, que não lhes sorriu. 

O Boavista não ameaçava Trubin, mas jogava, ou tentava jogar, sempre que possível no meio campo adversário. Irritava os benfiquistas, mas não tinha exclusividade. Também Gustavo Correia, com as suas decisões, ou falta delas, causava irritação. E neste caso dos dois lados. Deixava amarelos por mostrar a Dos Santos, a Salvador Agra, por duas vezes, a Arthur Cabral. Asneiras sucediam-se, mas o jogo não se prendia à arbitragem. Felizmente. O intervalo chegava e o futebol, sobretudo do Benfica, mais ambicioso, não perdia a cor. A pressão, todavia, sentia-se, só ainda não se falava dela. 

Di María estava com vontade de resolver o problema e rapidamente mostrou a sua disposição para os segundos 45 minutos: golo ao segundo minuto permitia à Luz respirar de alívio, mas rapidamente o alívio foi substituído por nova indisposição:  intervenção de VAR, Salvador Agra tocara a bola, João Mário intercetara-a com o braço estendido, falta, naturalmente.

O Boavista aproveitava para pôr mais lenha na fogueira e Bozeník assinava a primeira grande ocasião dos axadrezados. Já pressionado por Morato, atirou fraco, Trubin tocou na bola, mas esta teimou em seguir para a baliza, onde apareceu Morato. Evitou o 0-1.

Rafa estava irritado, mas não com os adversários, o 'mérito' pertencia a Gustavo Correia.

As previsões eram, pois, de tempestade, mas a calma tomou conta da Luz ao minuto 61. Morato ganha junto à linha, Kokçu desenvolve, Di María cruza na direção da área, da baliza, do golo. Ninguém tocou. Mas foi preciso um empurrãozinho: Morato afastou, em falta, Bruno Lourenço, Gustavo Correia, árbitro assistente e VAR não consideraram.

Laterais? Mas quem precisa deles?!

Adivinhava-se reação do Boavista e Roger Schmidt nem pensou duas vezes: Florentino, que passava um mau bocado no meio campo do Benfica, dava o lugar a Tomás Araújo, Aursnes subia para o lugar de Florentino, o central jogava como lateral-direito. E o campeão nacional cometia a proeza de jogar com linha de quatro defesas formada por quatro centrais: Tomás Araújo, António Silva, Otamendi e Morato. Não admira que tenham desistido de Pedro Malheiro, quem precisa de laterais, afinal?

Passe a ironia, o treinador do Benfica também olhava para a frente. Sabia, pois, que era preciso conduzir com segurança, em modo defensivo, mas com o mesmo carro rápido, agressivo e de linhas bonitas que permitira chegar ao 1-0. Arthur Cabral, com a cara possível, olhando para o ecrã gigante, deixava a partida, trocava com Marcos Leonardo, sentiria já o perigo, o lugar em risco. Só não saberia o quanto está em risco após novo golo do compatriota...

O Boavista tentava sobretudo contra-atacar, mas pertenceriam ao Benfica, bem sentado na sua posição de condução, tentando retirar algum frenesim à partida, as melhores ocasiões. João Neves andou perto do golo, mas foi Marcos Leonardo, agradecendo oferta de DiMaría, a sossegar os benfiquistas.