Fernando Santos e o inédito ‘penta’: «É um marco histórico difícil de repetir por outro clube»
Na evocação dos 25 anos de uma proeza inédita, o engenheiro do ‘penta’, como ficou para sempre conhecido, recordou a A BOLA os seus antecessores, a festa incrível nos Aliados e o privilégio que foi para ele trabalhar com muito talento e ter ao seu lado «grandes líderes» no balneário
Ficou para sempre conhecido por 'engenheiro do penta’. Fernando Santos fechou o ciclo iniciado por Bobby Robson e António Oliveira e conduziu o FC Porto à conquista do quinto campeonato consecutivo. Uma proeza inédita no futebol português. Foi há 25 anos. Pesava sobre os ombros de Fernando Santos muita responsabilidade, conforme lembra, em conversa com A BOLA.
«Para mim foi um marco importantíssimo na carreira, porque tinha saído do Estrela da Amadora para o FC Porto, com o antecedente de quatro títulos seguidos e ninguém queria perder esse ‘penta’, que foi alcançado com todo o mérito», recorda. «É um marco histórico difícil de repetir por outro clube. O FC Porto conseguiu isso num ciclo de cinco anos, um ‘penta’ que foi mérito de toda a gente que participou nas conquistas. Não foi obviamente mérito apenas meu, também dos meus antecessores, Robson e António Oliveira, e de todos os jogadores que participaram nos cinco campeonatos», sublinha.
O pentacampeonato foi confirmado em Alvalade, a 22 de maio de 1999, mas não por via do jogo contra o Sporting (1-1). O Boavista empatara com o Farense e ainda o clássico não tinha começado o FC Porto já era campeão pela quinta vez consecutiva. A primeira de muitas celebrações fez-se ali, na casa do leão, mas houve mais festa e uma receção apoteótica no Porto.
«De todas as festas, a que recordo mais foi a dos Aliados. Foi impressionante. Fomos campeões em Alvalade, estavam os jogadores em aquecimento quando, de repente, soubemos que éramos campeões. Chegámos tarde ao Porto, por volta das cinco da manhã, houve fogo de artifício nas pontes, uma grande receção no Estádio das Antas, algo inesquecível. Mas os Aliados, indiscutivelmente, é algo que ficará para sempre na memória de quem viveu esse momento, nunca ninguém vai esquecer esse dia», garante Fernando Santos.
Aloísio, Drulovic, Paulinho Santos, Rui Barros, Jorge Costa e Folha disputaram todas as temporadas dos cinco campeonatos consecutivos ganhos pelos dragões. Algo improvável nos dias de hoje. «Pois, infelizmente, é a realidade da indústria do futebol, atualmente. Na época a indústria não tinha essa envergadura. Eram jogadores de altíssima qualidade, nos tempos atuais teriam saído ou estariam noutros clubes», concorda. «Mas quero dizer que a equipa era, toda ela, muito forte, no sentido de ser muito unida, tinha muita qualidade, com bons e grandes líderes. Um deles, por exemplo, que nem jogava com muita regularidade, embora tivesse sido titular em alguns jogos, era o Rui Barros, de quem pouco se fala. Era uma figura importantíssima pela forma de estar», destaca, quase lhe custando individualizar uma proeza que foi obra de um coletivo que transbordava talento.
«Cada um era líder à sua maneira. Vítor Baía regressou para fazer a segunda volta, tinha o Deco, que chegou em março, o Secretário, o Zahovic, até fica mal falar de um ou dois. Todos, sem exceção, eram excecionais, mesmo os que entretanto foram emprestados. A liderança era muito forte e a cabina do FC Porto era impressionante. O mérito desta conquista reside também na organização e estrutura do FC Porto, começando pelo seu presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa, que foi o grande obreiro do sucesso, além dos técnicos que me antecederam. O Jardel, por exemplo, conquistou a Bola de Ouro mas sem os outros não ia conseguir. Era um balneário fantástico», remata o, para sempre, engenheiro do ‘penta’.