FC Porto: tudo o que foi discutido com a UEFA
Pereira da Costa é o homem forte das finaças da SAD liderada por André Villas Boas

FC Porto: tudo o que foi discutido com a UEFA

NACIONAL03.07.202421:00

Reunião a 3 de junho definiu estratégia para dragões respeitarem os requisitos financeiros; foram encontradas soluções, mas ficaram alguns avisos; custos controlados e obrigatoriedade de fazer uma grande venda no verão

José Pereira da Costa, administrador com o pelouro financeiro da SAD, e José Luís Andrade, responsável pelas áreas Jurídica e de Relações Internacionais na comissão executiva da FC Porto, estiveram no passado dia 3 de junho na sede da UEFA, em Nyon, na Suíça, reunidos com Andrea Traverso, diretor de pesquisa e sustentabilidade financeira do organismo que superintende o futebol europeu. Objetivo: abrir uma frente de diálogo e colocar em cima da mesa os desafios e as dificuldades decorrentes de um quadro financeiro caótico e complexo herdado da anterior administração.

De lembrar que o Comité de Controlo Financeiro da UEFA decidiu excluir o FC Porto por uma época das competições europeias, exclusão que fica suspensa e só será efetivada caso o clube azul e branco não cumpra o ‘fair-play’ financeiro durante as épocas de 2025/26, 2026/27 e 2027 /28. Foi ainda aplicada ao FC Porto multa de €1,5 milhões de euros por «dívidas vencidas a outros clubes de futebol, funcionários e/ou autoridades sociais/fiscais».

No encontro, os dois dirigentes deram um claro sinal de que o FC Porto está comprometido a cumprir escrupulosamente as regras do ‘fair-play’ financeiro e do licenciamento para as provas europeias, escapando assim a uma eventual exclusão em 2025/26 que seria catastrófica para os dragões. A UEFA ficou a par das medidas já executadas para equilibrar as finanças, medidas essas que pedem tempo e paciência.

Andrea Traverso, defensor acérrimo do ‘fair-play’ financeiro da UEFA, ficou agradado com a via de diálogo aberta pela nova gestão do FC Porto. Contudo, não há margem para o FC Porto tropeçar nos próximos controlos. A UEFA já foi flexível no passado e terá mão pesada se alguma coisa falhar. Em resumo, não terá contemplações se o FC Porto não respeitar os pressupostos de sustentabilidade financeira.

TUDO REGULARIZADO

Que pressupostos são estes? No Regulamento de Licenciamento de Clubes e Sustentabilidade Financeira da UEFA há uma fronteira sagrada que não pode ser ultrapassada. O FC Porto não pode falhar nos ‘overdue payables’ – atrasos no pagamento dos salários, dívidas vencidas às autoridades fiscais, Segurança Social e a clubes.

Com esforço, diálogo, e necessariamente através de recursos financeiros, o FC Porto regularizou essas situações, pagando os encargos em atraso ou apresentando declarações provando haver acordos lavrados para pagar a dívida em tranches.

ENCAIXE OBRIGATÓRIO

O exercício da SAD de 2023/24 pode até apresentar um saldo negativo — o 1.º semestre fechou positivo em €35 milhões, mas o passivo é superior ao ativo corrente em €176 milhões e muita água correu debaixo da ponte —, mas a UEFA indicou a necessidade de o FC Porto fazer um controlo rigoroso dos custos e ser inteligente no mercado de transferências.

Simplificando: numa época de vigilância atenta às contas dos azuis e brancos, é imperioso e mesmo obrigatório o FC Porto fazer uma grande venda este verão. Villas-Boas falou sobre isso na Câmara Municipal do Porto - «Estamos obrigados a fazer algumas mais-valias por causa dos regulamentos da UEFA», situou. Ao mesmo tempo afastou a intenção de salvar as contas com a transferência de Diogo Costa, ainda que haja uma cláusula de €75 milhões que pode ser acionada por um grande clube, no futuro.

Uma grande venda pode também traduzir-se na soma de vários negócios (Francisco Conceição, David Carmo, Wendell, ou outros ativos valiosos do plantel), mas para a UEFA importa que a mais-valia seja significativa, de forma a que FC Porto tenha instrumentos financeiros para atacar a dívida de curto prazo e ganhar liquidez. Outra recomendação da UEFA aos portistas é ter uma rigorosa disciplina orçamental na compra de jogadores.

Negócios de €15 milhões, como aquele que o Barça sugeria ao FC Porto pelo central Faye, estão fora de questão. Os dragões terão de ser imaginativos, rentabilizar a sua formação e voltar a ser um clube que descobre talentos, compra barato e vende caro.