Albânia: o guia
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EURO 2024 Albânia: o guia

INTERNACIONAL28.05.202412:00

Textos de Ermal Kuka, que escreve para o 'Panorama', publicados no âmbito da Guardian Experts' Network, a rede de troca de conteúdos para o Euro 2024, liderada pelo jornal inglês 'The Guardian', e que tem A BOLA como representante português

Expectativas

A Albânia realizou uma campanha inacreditável durante a qualificação, ainda mais surpreendente porque vinha de um dos piores períodos da sua história, com uma vitória apenas em 11 partidas em 2022. A sorte mudou imediatamente após a contratação de Sylvinho em janeiro de 2023. A equipa arrancou para a vitória no Grupo E depois uma série de oito jogos sem perder, que incluíram triunfos diante de Polónia e Chéquia, e qualificou-se para a segunda presença num EURO em toda a sua história.

Jogadores como Armando Broja, Marash Kumbulla e Rey Manaj deveriam ter sido os principais protagonistas do sucesso, mas encontravam-se afastados por lesão. O técnico brasileiro teve a audácia de apostar em nomes como Jasir Asani, Mario Mitaj, Mirlind Daku ou Arbnor Muja, que antes nunca tinham jogado futebol internacional, e todos se mostraram decisivos, embora as exibições não tenham sido, por vezes, particularmente brilhantes.

O ritmo de vários jogadores será uma preocupação durante o EURO, com vários elementos importantes a chegar com falta de minutos nesta época. Isto inclui os dois guarda-redes, Etrit Berisha do Empoli e Thomas Strakosha do Brentford, e o decisivo goleador de longa distância, Asani, que só jogou 8 minutos pelo seu clube este ano depois de disputas contratuais com os sul-coreanos do Gwangju.

Outro motivo de preocupação passa pelas escolhas de Sylvinho no grupo para o EURO, ao deixar subitamente de fora opções habituais regulares como Sokol Cikalleshi, Myrto Uzuni ou Keidi Bare. As explicações dadas foram inconscientes, como a de a lista não ter sido elaborada «a pensar no que aconteceu na qualificação», e surpreendeu ainda a revelação de ter alterado a mesma três dias antes da sua divulgação. A convocatória colocou pressão no brasileiro, uma que não existia antes, e agora precisa de provar a toda a gente que tem razão. Cikalleshi retirou-se imediatamente da seleção depois de ter ficado de fora.

O selecionador gosta do 4-3-3 e sabe que precisa do grupo na máxima força. «Os jogadores que não correrem não se irão juntar a nós», foi a rápida resposta que deu em março após duas exibições menos bem-conseguidas: uma derrota por 3-0 frente ao Chile e outra por 1-0 diante da Suécia. O sistema com o duplo-pivot no meio-campo necessita que jogadores de caráter mais ofensivo estejam diretamente envolvidos em tarefas defensivas.

Isso certamente será o caso num grupo que envolve jogos frente a Itália, Croácia e Espanha, em que a defesa deverá ser testada ao limite. O contra-ataque é arma que a Albânia já usou por inúmeras vezes, confiando na velocidade e capacidades técnicas sobretudo dos extremos. A estratégia não irá mudar contra adversários deste calibre.

O selecionador

Havia muito ceticismo sobre a contração de Sylvinho em janeiro de 2023. O antigo jogador de Arsenal e Barcelona tinha começado mal a carreira na curta estadia como treinador do Lyon e não esteve muito melhor no seu antigo clube, o Corinthians, tendo resistido apenas 9 meses. Porém, internacionalmente, foi adjunto de Tite no Brasil e, desde a primeira sessão de treino, em março do ano passado, foi sempre claro nas ideias e no que pretendia da equipa. «Somos o suor, o coração, a alma», é uma frase que usa frequentemente nas conferências de imprensa para descrever o que a equipa tem de dar, mais do que táticas. «Posso mudar o sistema do 4-3-3 para o que quiser, mas sem o compromisso de todos não seremos uma equipa», acrescentou.

O ícone

Apesar de ter tido dificuldades para jogar com o antigo selecionador, Edy Reja, Kristjan Asllani tornou-se um habitual titular às ordens de Sylvinho, que lhe deu o espaço necessário para expressar a habilidade. Tudo passa pelo médio de 22 anos, que trabalhou a servir às mesas em part-time na cidade onde cresceu, antes de se afirmar no Empoli. O seu progresso tem sido enorme, exponenciado pelo facto de se ter tornado num suplente viável a Hakan Calhanoglu no Inter, o novo campeão italiano. «Cresceu muito e deu-nos respostas importantes, sobretudo em jogos igualmente importantes», reconheceu Simone Inzaghi, técnico dos nerazzurri.

Para ter debaixo de olho

A rápida evolução de Mario Mitaj parece tê-lo colocado à beira de uma transferência num futuro próximo. O lateral-esquerdo tem impressionado pela seleção e pelo Lokomotiv de Moscovo, clube pelo qual também joga como médio defensivo. Como resultado, muitos clubes têm-se mostrado atentos ao seu percurso e uma mudança para um campeonato europeu mais competitivo parece o plano para o verão, com boas exibições no EURO a poderem, portanto, ajudar.

Espírito rebelde

Há sempre a sensação de que Rey Manaj vai fazer algo inesperado quando está ao serviço da seleção. Jogador controverso quando era mais novo pela forma como comunicava com os treinadores, sempre se comportou bem com a camisola da Albânia. Mas ter tantos cartões amarelos como golos pelo seu clube, o Sivasspor, é um problema que Manaj terá de resolver mais cedo ou mais tarde, podendo-se tornar num problema para a equipa de Sylvinho.

A espinha dorsal

Sylvinho criou uma espinha dorsal sólida na Albânia e a experiência dos mais veteranos rapidamente ajudou os mais jovens a adaptar-se. Donos de vasta experiência, Etrit Berisha e Berat Djimsiti acrescentam à equipa a serenidade que necessita em terrenos mais perto da sua baliza. Depois, tudo passa por Kristjan Asllani, um criador de jogo mais recuado, que monta todas as peças do puzzle. No ataque, deixando Sokol Cikalleshi de fora, significa que Armando Broja está pronto para ser titular e ajudar a seleção a ligar o jogo, abrindo espaço para os extremos.

Onze provável (4-2-1-3)

Berisha; Hysaj, Ismajli, Djimsiti e Mitaj; Asllani e Ramadani; Bajrami; Asani, Broja e Seferi

Adepto famoso

As personalidades do país viajarão todas para a Alemanha para assistir ao EURO, mas há uma que muitos adeptos não vão querer ver, especialmente no estádio: o primeiro-ministro do país, Edi Rama. Isto deve-se à maldição futebolística que o persegue. Rama aparece frequentemente em eventos e campanhas eleitorais usando camisolas de futebol e, estranhamente, isso frequentemente é precedido por uma calamidade para a equipa em causa. Se perguntarem a um albanês, a derrota nos penáltis do Manchester City frente ao Real Madrid na Liga dos Campeões, em abril, foi causada por Rama, que apresentou, no mesmo dia, a nova academia dos ingleses em Tirana.

Petisco

Se batatas fritas, queijo e salame acompanhados com álcool podem ser o prato favorito dos albaneses durante os jogos, muitos não irão trair o seu amor por byrek. A tradicional tarte albanesa vem em diferentes sabores, seja vegetariana, com queijo, iogurte ou carne picada. Perguntem se não vale mesmo a pena a Hans-Peter Briegel, o técnico alemão que frequentemente encomendava esta iguaria durante a sua estadia na Albânia, onde foi selecionador de 2002 a 2006.