André Martins «Estávamos a jantar, passou um rocket, foi o último, para a despedida»

André Martins deixou de jogar futebol e agora é comentador na Sport TV. O médio formado no Sporting esteve à conversa com Tânia Vítor, depois de terem partilhado tempo em Israel, último destino do médio como futebolista. Com ele, esteve também a companheira, Matilde.

Olá, sejam bem-vindos a mais um episódio de A Bola Fora, desta vez com André Martins, ex-jogador de Sporting, Olympiakos, Legia e Hapoel Be'er Sheva e agora comentador.

Antes de chegar, o que é que estavas a fazer?
Tínhamos acabado de ir buscar a nossa filhota, a Pilar, à creche. A verdade é que hoje tivemos um dia muito corrido, mas conseguimos estar dentro do tempo. E no fundo apanhámos a Pilar e viemos a voar para conseguir estar aqui a tempo.

Esta é a tua primeira entrevista como ex-jogador de futebol. Como é que está a correr a experiência na Sport TV?
Sinceramente, acho que foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. A verdade é que eu não tive sequer muito tempo para pensar no fim de carreira. Eu ainda não anunciei sequer o final de carreira, porque não tive muito tempo para fazer aquele chamado luto de final de carreira. A Sport TV convidou-me, no fundo, para fazer uma experiência durante o Europeu. A verdade é que gostei, eles gostaram também e estou num sítio que gosto, em que as pessoas gostam de mim e estou a fazer também uma coisa que gosto, que é falar de futebol.

 Já não jogas há pouco mais de um ano. Já sentes saudades e, se sim, de quê?
Muitas, muitas. O que me dá mais saudades é o balneário, a convivência com os meus colegas, os episódios que muitas vezes acontecem em off, nos treinos e que pouca gente vê, mas nós vivenciamos de uma maneira muito, muito, muito efusiva e, portanto, sinto mais falta disto do que do jogo propriamente. Custa-me sempre mais, a verdade é essa, quando tenho de ir fazer um jogo ou quando tenho de assistir a um jogo num estádio. Aquele cheiro da relva molhada que acho que todos os futebolistas e as futebolistas sabem aquilo que estou a dizer. Portanto, são esses os períodos em que me custa mais esta falta de jogar e de treinar.

 Vejo que tu estás muito forte no padel. É para manter a forma ou surgiu uma nova paixão?
Surgiu uma nova paixão. Não é fácil conciliar, rouba-me algum tempo. É um desporto e no fundo de aperfeiçoar as coisas, treinar como em todos os outros, mas a verdade é que tenho agora uma vida diferente, com dois filhos e nem sempre é fácil. Tenho conseguido porque tenho uma pessoa ao meu lado que me permite e que me dá liberdade e abertura para eu fazer as coisas que mais gosto. Sou um felizardo por isso. Mas é uma paixão que surgiu e também me ajudou neste final de carreira.

 A tua última experiência foi em Israel, ao serviço do Hapoel Be'er Sheva. Como foi essa experiência, esse ano e meio em que lá estiveste?
Gosto de retirar sempre o positivo. Acabou por ser uma experiência positiva para nós. Nasceu a nossa primeira filha em Israel, as coisas correram lindamente. Profissionalmente, claro que eu, nós em família, estávamos à espera de mais. Se calhar aqui faço uma mea culpa neste aspeto. As coisas poderiam ter sido diferentes, mas fui feliz. Uma Supertaça, uma Taça. São as coisas que marcam e que ficam. Fizemos amigos para a vida, vocês (Tânia Vítor é casada com Miguel Vítor, jogador do Hapoel Be'er Sheva), o Hélder (Lopes), trazemos sempre o melhor de cada experiência que vivemos.

Matilde, estavas no final da gravidez, na reta final de poder viajar ou não. Querem partilhar como é que foi essa experiência de gravidíssima chegares a Israel, um sítio tão diferente, sem médico, na altura, e de conseguires conciliar isso tudo?
Matilde: Sinceramente, vivemos com bastante ansiedade. Na altura ajudou-me a falar contigo, não é? Tinhas acabado de ter a Luísa em Israel. Tínhamos tudo preparado: a médica, o hospital, o quarto do bebé. E, de repente, tivemos de viajar. Tive de ir com a autorização da médica para poder andar de avião. Ou seja, se chegasse a Israel e me arrependesse, já não podia voltar para trás. Na altura, falei contigo e passaste-me logo o contacto do médico e da parteira, falaste-me das tuas experiências e foi a nossa intuição, achámos que fazia sentido ir e fomos e foi uma experiência incrível.

E o país surpreendeu-vos?
Não conhecia muito Israel, sou sincero. Nem era um campeonato em que, de facto, eu seguia muito. Porque, infelizmente, e depois de lá estar, não é um campeonato que passa, se calhar, na nossa televisão. Vemos as equipas israelitas, Liga Europa, Liga dos Campeões e é o que conseguimos seguir. Surpreendeu-me muito pela positiva. Tem sítios maravilhosos, vive-se bem. Percebo todo este burburinho que há, com o conflito. Nós nunca sentimos, apanhámos um ou outro susto, mas que acaba por ser normal para quem lá vive há muito tempo.

O último susto que vocês apanharam, acho que até foi em conjunto. Estávamos a jantar na vossa casa e entretanto vimos qualquer coisa lá em cima, certo?
Matilde -
Foi no nosso jantar de despedida, precisamente. Um ou dois dias antes de virmos embora, estávamos a jantar. Naquela altura estavam as sirenes a tocar em várias zonas do país, mas não em Be'er Sheva. E nós passámos o jantar para a nossa casa. Vimos um míssil, um rocket rebentar no céu. Acho que foi assim o último para a despedida.

Tinham tido alguns antes, com a tua mãe, num restaurante, certo?
Matilde: Tivemos só duas ou três situações de alguma tensão, nada de especial.Houve uma vez que numa dessas alturas de conflito, estávamos a almoçar com a minha mãe numa esplanada e de repente tocaram as sirenes. Ficámos super assustados, largámos tudo, fomos a correr. Levaram-nos para um armazém que não era bem um bunker, era assim uma coisa esquisita.As pessoas levaram os pratos, continuaram a comer e a continuar a conversa que estavam a ter ao almoço, com toda a naturalidade do mundo e nós a tremer dos pés à cabeça. São realidades diferentes e é difícil às vezes explicar porque a vida lá continua e as pessoas adaptam-se de uma forma diferente.