«Estamos a embelezar os capitais próprios de hoje para piorar os resultados no futuro»

«Estamos a embelezar os capitais próprios de hoje para piorar os resultados no futuro»

NACIONAL05.03.202418:39

Palavras de Pereira da Costa, CFO eleito por André Villas-Boas para dirigir a pasta das finanças do FC Porto

José Pedro Pereira da Costa analisou, esta terça-feira, o último relatório e contas apresentado pela SAD portista, na sede de campanha de André Villas-Boas, candidato à presidência dos dragões.

«Os objetivos da sessão de hoje são os seguintes: analisar as contas do 1.º semestre do exercício 2023/24; apresentar os caminhos propostos para a Viabilidade Financeira; e apresentar algumas considerações e preocupações sobre negócios estruturais em fase de conclusão», começou por dizer.

Análise ao primeiro semestre

«Relativamente às contas do primeiro semestre, irei concetrar-me nos 2 títulos principais que surgiram. O primeiro, o resultado líquido positivo de 35 milhões de euros, e o segundo foi o de capitais próprios próximos do zero. Quanto ao resultado liquido positivo, é visível que o primeiro semestre gera maiores receitas do que o segundo semestre. Temos tido receitas operacionais de cerca de 100 milhões de euros no 1.º semestre, e chegamos ao 2.º semestre com receitas de 50 ou 60 milhões. Porque é que isto acontece? Decorre essencialmente das receitas das competições europeias. Pela performance do FC Porto na Liga dos Campeões, nos últimos 3 anos, em 2, passámos a fase de grupos, mas mesmo assim, as receitas são muito inferiores ao 1.º semestre. A não ser que tenhamos uma performance extraordinária, como chegarmos à final ou ganharmos a Liga dos Campeões, teremos os resultados novamente no vermelho. Vamos ver como é que terminamos o exercício.»

Caminhos para a viabilidade financeira

«No primeiro semestre, tivemos um resultado positivo, pela venda do passe do Otávio. Foi o terceiro melhor resultado das últimas épocas. Temos uma dívida financeira na ordem dos 300 milhões de euros, e encargos entre os 20 e os 25 milhões. Procurando fazer um exercício daquilo que pode ser o final do ano, se tivermos um segundo semestre em linha com o que foi do ano passado, estaremos a caminhar para um resultado líquido próximo do zero ou até negativo. Fazendo uma avaliação, o segundo semestre é bastante mais desafiante para procurar obter resultados. A não ser que haja operações relevantes, estamos a caminho de ter um resultado líquido negativo.»

«A administração atual referiu a operação de reavaliação do negócio do Estádio do Dragão. Sobre esta operação e os respetivos impactos, gostávamos de destacar que infelizmente para a UEFA, esta reavaliação não vai contar. A UEFA determina que operações de reavaliações de ativos não relevam para a melhoria dos capitais próprios. Infelizmente, para este efeito, esta operação não vai servir. Gostávamos de saber o que é que está pensado para que possamos cumprir o prazo adicional, até 31 de março, para atingir a melhoria dos 10 por cento dos capitais próprios.»

«Trata-se de uma operação puramente contabilística, não altera em nada aquilo que foi a dívida acumulada. O passivo e a dívida vai ficar exatamente igual ao que era antes da operação.»

«Vamos ter um nível de amortizações muito maior. Se admitirmos que para o estádio temos uma vida adicional de 30 anos, estes 123 milhões vão ser amortizados nos próximos 30 anos. Estamos a embelezar os capitais próprios de hoje para piorar os resultados no futuro. É uma preocupação nossa. O estádio não é propriedade 100 por cento da SAD. Esta melhoria dos capitais próprios só se reflete em 47 por cento.»

«Quais são os caminhos para atingirmos a viabilidade financeira? Resultados operacionais equilibrados e positivos; geração de resultados por valorização de ativos; redução progressiva da dívida financeira e dos respetivos encargos; e um cumprimento rigoroso das regras UEFA FFP. É bastante importante reestruturar a dívida, a FC Porto SAD depende muito das receitas de factoring, ou antecipação de receitas, as quais têm um custo que não está discriminado, mas sabemos que é um custo pesado. Com esta candidatura, gostaríamos de procura captar dívida a médio-longo prazo, para aliviar o curto prazo»