Espanha-Alemanha: a final antecipada das melhores seleções em prova
Rodri e Kroos são duas das grandes figuras das suas seleções (IMAGO)

Antevisão Espanha-Alemanha: a final antecipada das melhores seleções em prova

Espanhóis e alemães têm vencido e convencido. Agora, podem os dois convencer, mas só um vai às meias-finais

É um clássico do futebol mundial. Um encontro que chama a atenção dos amantes de futebol, se não pelo nome, pelo futebol jogado. A anfitriã Alemanha defronta, em Estugarda, a Espanha.

Se este jogo já seria, pelo nome que carregam estes pesos pesados do mundo do futebol, uma final antecipada, esse sentimento ainda mais acentuado fica se tivermos em conta que são, quase indiscutivelmente, as equipas que melhor futebol praticam. Conjuntos carregados de irreverência, vontade atacante, cada um com as suas nuances mas que, em geral, jogam de forma atrativa.

Ao todo, já se disputaram 14 jogos entre castelhanos e germânicos, com resultados que dificilmente podiam ser mais equilibrados: cinco vitórias para espanhóis, quatro para alemães e outros cinco empates. Ambas as seleções partilharam grupo no Mundial 2022, torneio em que empataram a um golo. Nos últimos anos, o registo encontra-se mais favorável à Espanha: nos últimos oito duelos, a Alemanha só venceu um, em 2014, ao passo que la roja ganhou em três ocasiões, uma delas por expressivos 6-0.

O nível de maturidade da Espanha

A Espanha que se apresenta em campo neste Euro 2024 é, possivelmente, a sua melhor versão desde a conquista do Europeu 2012. O tiki-taka já não é bem o mesmo dessa altura - também já não há Iniesta, Xavi, Busquets, Xabi Alonso, Fàbregas, etc. - mas a vontade de ter a posse de bola não muda. Agora, o estilo é um pouco mais vertical, sobretudo quando se tem em conta a presença de Nico Williams e Lamine Yamal, que têm brilhado nas alas de la roja.

O meio-campo tem mostrado uma enorme complementaridade entre si. Fabián Ruiz tem pautado os ritmos com calma e precisão e Pedri adiciona a irreverência e um pouco mais de verticalidade, tanto no passe, como na progressão. Ainda à espreita está Dani Olmo que, sempre que foi chamado, brilhou com espetacular chama criativa. Resta saber se será escolhido para o onze titular, agora que está bem fisicamente. Atrás deles, está Rodri, que continua a ser, quase consensualmente, o melhor médio defensivo do Mundo. Além da estabilidade que dá aos colegas mais criativos, também tem armas que, com toda a simplicidade, são da maior eficácia - veja-se o seu golo frente à Geórgia.

Defensivamente, os pupilos de Luis de la Fuente mostram uma solidez, porventura, inesperada. Ainda só sofreram um golo em quatro jogos, frente a Itália, Croácia, Albânia e Geórgia, graças a autogolo de Le Normand. Quatro vitórias em quatro jogos e sem sofrer golos é sinal de confiança e solidez.

É no plano tático que mais se nota a maturidade espanhola. O jogo com a Albânia permitiu ver uma equipa que, mesmo nas segundas linhas, tem plenamente enraizada toda a ideia de jogo passada pelo treinador. Os jogadores sabem que espaços devem ocupar, quem entra está totalmente dentro do sistema e esta vibrante máquina espanhola funciona com a precisão de uma máquina... alemã.

Alemanha finalmente em ponto-rebuçado

O período pós-Joachim Low foi tudo menos tranquilo para a Alemanha. Os Mundiais de 2018 e 2022 foram desapontantes, com duas eliminações nas fases de grupos, e o Euro 2020 também não convenceu, com uma queda perante a Inglaterra nos oitavos de final. Hansi Flick não teve uma boa passagem ao comando da Mannschaft mas Julian Nagelsmann tem vindo, aos poucos, a pegar em todas as armas que tem para construir uma Alemanha que, não sendo demolidora como há 10 anos, está a chegar ao nível dominante a que tem habituado todos os amantes de futebol.

Se, no último jogo da fase de grupos, a anfitriã do torneio ia escorregando frente à Suíça, parece que, nos oitavos de final, frente à Dinamarca, voltámos a ver a melhor Alemanha: a primeira meia hora foi, porventura, só ultrapassada pela segunda parte em qualidade de jogo pela segunda parte em superioridade numérica frente à Escócia, na abertura do Euro 2024, e, apesar das questões que envolveram o VAR, a vitória por 2-0 foi justa para aquilo que decorreu em campo.

Se, por um lado, a Espanha é, em termos coletivos, a seleção que mostra mais capacidades, a Alemanha tem conseguido potenciar as qualidades individuais das suas grandes estrelas. Gundogan continua igual a si próprio, no que ao momento de pensar o jogo diz respeito: está sempre no sítio certo, decide bem e executa ainda melhor. Florian Wirtz e Sané são a grande dúvida para Nagelsmann. Mais atrás, Toni Kroos, que faz aquele que pode ser o seu último jogo enquanto futebolista (Joselu já disse que queria reformar o ex-colega do Real Madrid...) é o jogador com mais passes acertados na competição.

Se é na capacidade de potenciar o individual em prol do coletivo que está a grande virtude do trabalho de Julian Nagelsmann, ninguém representa isso melhor que Jamal Musiala. É, a par de Cody Gakpo, dos Países Baixos, um dos melhores marcadores ainda em prova, com três golos apontados, e não há ninguém na Alemanha - e, quiçá, na competição - que tenha as suas capacidades com bola em espaço curto. Tem toque de mágico, a irreverência dos seus 21 anos e uma capacidade de definição nos momentos-chave que nem jogadores com mais 10 anos de experiência conseguem ter.

Onzes prováveis:

Espanha - 4x3x3 - Unai Simón; Carvajal, Le Normand, Laporte e Cucurella; Rodri, Fabián Ruiz e Pedri; Nico Williams, Lamine Yamal e Morata

O onze provável de Espanha (IMAGO)

Alemanha - 4x2x3x1 - Neuer; Kimmich, Rudiger, Schlotterbeck e Mittelstadt; Andrich e Kroos; Musiala, Sané e Gundogan; Havertz.

O onze da Alemanha deverá ser assim, excepto na lateral-esquerda, que deve voltar a ser de Mittelstadt (IMAGO)

Luis de la Fuente: «Vai ser 50-50»

Luis de la Fuente, selecionador espanhol (IMAGO)

Acredito que é um jogo 50-50. Uma das forças da equipa é pensar que as coisas vão ser bem feitas. Não podemos cair no erro de achar que a Alemanha vai errar. Só um pode ganhar, vamos ver quem. Elogio-os para que não nos enganemos. A Alemanha é uma grande equipa, muito sólida e equilibrada. São rivais no Mundial ou no Europeu, mas também somos fortes.

Julian Nagelsmann: «Um dos jogos mais importantes da minha carreira»

Julian Nagelsmann, treinador da Alemanha (IMAGO)

É um dos jogos mais importantes da minha carreira. Se perdermos, vamos para casa. É melhor preparar jogos assim, está tudo pronto. É a melhor maneira de as coisas correrem bem. É mais fácil jogar contra uma equipa que quer ter posse se mantivermos nós a bola. Vai haver de tudo neste jogo. Podemos passar, mas também podemos ser eliminados. Se perguntarem a de la Fuente, ele vai dizer o mesmo. Vamos dar tudo.

Um grande jogo a que Portugal dará atenção: antes da Seleção Nacional entrar em campo, às 20 horas, frente à França, o vencedor deste jogo, que começa pelas 17 horas, será o adversário nas meias-finais - isto, claro, se Portugal vencer.