EURO 2024 Eslováquia: o guia
Texto de Lukas Vrablik para o Guardian Experts’ Network, rede de troca de conteúdos do Euro 2024 promovida pelo jornal inglês 'The Guardian', que tem A BOLA como representante português
Expectativas
Os adeptos da Eslováquia são céticos por natureza, e têm o hábito de serem ruidosos quando a equipa está bem, mas desaparecem quando as coisas pioram. Nos últimos anos os adeptos não têm tido muito para festejar, com resultados especialmente desapontantes na Liga das Nações (terminaram o grupo em 3º lugar, tendo perdido com Cazaquistão e Azerbaijão, e empatado com a Bielorrússia).
Contudo, no que toca ao Euro, qualificaram-se para o seu terceiro torneio seguido, com a equipa a mudar o chip depois do despedimento do altamente criticado selecionador Stefan Tarkovic, após algumas exibições frustrantes e letárgicas no verão de 2022.
Pela primeira vez na história (não obstante o checo Pavel Hapal), a federação decidiu contratar um treinador estrangeiro. Para além disso, assinaram com alguém que nunca foi realmente um treinador principal. Contudo, Francesco Calzona não podia ter sido mais recomendado pela lenda da seleção, Marek Hamsik – que tem o recorde de 138 internacionalizações pelo país –, que trabalhou com o italiano no Nápoles, durante muitos anos.
Calzona foi adjunto de Maurizio Sarri, mas, naturalmente, a decisão surpreendeu alguns, especialmente antigos internacionais eslovacos. Calzona conseguiu, ainda assim, mudar a fortuna da seleção. A primeira coisa que fez foi dar aos jogadores um necessário incremento de confiança, especialmente no que toca ao sistema de jogo.
A Eslováquia começou a ganhar jogos – e a empatar – outra vez e acabou por se qualificar com apenas duas derrotas magras, frente a Portugal (1-0 em casa e 3-2 fora), que venceu o grupo. Superar Luxemburgo, Bósnia e Islândia para terminar em 2º lugar não foi um grande problema.
Calzona tem preferência por um tipo de 4x3x3 – que pode ser visto como um 4x1x4x1 - com pressão alta dos dois médios (normalmente Kucka e Duda). Tentou implementar um ritmo elevado com pressão alta em vez dum estilo defensivo, anteriormente visto em outros grandes torneios, e os laterais são encorajados a atacar.
Ainda há trabalho a ser feito para tentar convencer um público que nunca fica satisfeito. Independentemente do que acontecer no Euro, existe o consenso de que a Eslováquia precisa de se renovar após o torneio. A idade média do onze inicialmente durante a qualificação vai a caminho dos 30 anos, o que faz da Eslováquia a seleção mais velha das participantes.
O selecionador
Francesco Calzona foi um colaborador de longa data de Maurizio Sarri, e tentou implementar o Sarrismo na seleção. E essa tem sido a sua principal vantagem. Anteriormente perfilado como um «especialista defensivo», Calzona tem introduzido alguns novos padrões ofensivos à seleção, e chegar ao Euro foi uma resposta perfeita a todas as críticas. «Para um dito adjunto, ele não é assim tão mau», disse Stanislav Lobotka, na brincadeira. Na primavera, depois dos tumultos a acontecer em Nápoles, a federação eslovaca concordou que Calzona podia assumir o comando do clube italiano de forma interina, ao mesmo tempo que preparava a seleção para o Euro.
O ícone
Stanislav Lobotka foi outra pessoa que teve um trabalho difícil a ganhar o apoio dos adeptos (há aqui um padrão). Há três anos a sua inclusão no plantel para o Euro foi criticada, por não estar no seu melhor momento, mas agora o médio do Nápoles é um dos melhores da Serie A na sua posição. Em 22/23 teve um papel importante na conquista do segundo título da história do clube e é proficiente a recuperar a posse, criar oportunidades a e ajudar a Eslováquia a quebrar as linhas adversárias. Tem sido tão bom que tem sido associado a uma transferência para o Barcelona ou Real Madrid, com o seu estilo a gerar comparaões com o de Andrés Iniesta. «É bom ser comparado a ele, mas isso leva a que haja muitas expectativas e uma pressão maior em cima de mim», disse. «Acho que sou um jogador diferente».
Para ter debaixo de olho
Neste momento, o defesa de 26 anos, David Hancko, é o mais interessante jogador a observar. Está entre os melhores centrais da Eredivisie, na qual ajudou o Feyenoord de Arne Slot a vencer o campeonato em 2023. Curiosamente, pela seleção, é normalmente utilizado a ala esquerdo, tendo sido bastante influente ao nível da criação de oportunidades de golo. A sua versatilidade e capacidade defensiva e ofensiva levou ao interesse de clubes da Premier League. No passado falou-se da opção de rumar ao West Ham ou Aston Villa, mas agora o Liverpool parece ser a opção mais natural.
Espírito rebelde
Tomas Suslov foi criticado pela selecionador Francesco Calzonha no passado. Suslov é bem conhecido pela sua elevada autoestima, mas pode ter levado o feedback em consideração, à espreita de um lugar a titular na Alemanha, sobretudo após Robert Mak – outro espírito rebelde – ter ficado de fora. Suslov teve uma boa época no Hellas Verona, depois de uma saída turbulenta do Groningen, e a sua qualidade técnica e imprevisibilidade com a bola nos pés fazem dele uma escolha interessante para o ataque da Eslováquia. Suslov até começou a recuar e a ajudar defensivamente. É agora um jogador mais consistente e pode-se tornar em alguém com capacidade de brilhar nos grandes palcos. O jogo frente à Ucrânia será especial para ele, tendo lá família paterna.
A espinha dorsal
A Eslováquia tem um núcleo duro muito claro. Martin Dubravka é o guarda-redes indiscutível, sendo viável na seleção, mesmo que não seja opção regular no Newcastle. Milan Skriniar é o líder da defesa, como central e capitão, Juraj Kucka preenche a posição 8, ao lado de Lobotka, e é um médio área-a-área perfeito, com grande nível físico, mesmo para os seus 37 anos. Ondrej Duda tem as maiores responsabilidades como playmaker e é o sucessor natural de Marek Hamsik; mas a posição de avançado é o problema. Robert Bozenik parece ser a escolha mais provável.
Onze provável
4x3x3 – Dúbravka – Pekarík, Vavro, Škriniar, Hancko – Lobotka, Kucka, Duda – Haraslín, Boženík, Suslov.
Adepto famoso
É esperado que o rapper eslovaco Pil C acompanhe a seleção de perto este verão, já que é amigo do médio Ondrej Duda, e já escreveu versos sobre os famosos quatro golos de Robert Vittek no Mundial 2010 na África do Sul, a primeira presença da Eslováquia num grande torneio. «Estou em forma como Robo Vittek no Mundial», escreveu na faixa One Shot. A bem-sucedida esquiadora alpina Petra Vlhova também consta entre os adeptos.
Petisco
Quando os adeptos vão ao estádio ver um jogo, a opção comum é a klobasa (salsicha) com keptchup e mostarda, servida no pão, e uma cerveja. É também a refeição pós-jogo mais frequente dos jogadores nas divisões inferiores da Eslováquia.