Escócia: o guia
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EURO 2024 Escócia: o guia

INTERNACIONAL26.05.202412:00

Expectativas

Pode a Escócia chegar onde nunca chegou e passar a fase de grupos de um grande torneio?

Aquando da qualificação, num grupo que incluía Espanha e Noruega, as expectativas eram elevadas. Ainda assim, a equipa de Steve Clarke chegou aos amigáveis de preparação com um registo de sete jogos sem vencer. Derrotas frente a França, Inglaterra, Países Baixos e Espanha eram compreensíveis; mas com a Irlanda do Norte nem tanto. Pela primeira vez em muito tempo os escoceses pareciam pessimistas.

Mas essa redução na confiança pode não ser má. Escoceses arrogantes raramente prevalecem. É uma nação que partiu para o Mundial 1978 com pompa e circunstância, e que falhou aí. Clarke construiu uma equipa competente que acredita que pode terminar acima da Hungria e Suíça, mas ficar bem abaixo da estrela do grupo, Alemanha, em termos de habilidade coletiva.

A seleção é puco extravagante, jogando num esquema sólido e bem trabalhado. Clarke e o seu plantel devem ter aprendido com o último Euro, onde não conseguiram fazer justiça a si próprios. O flanco esquerdo é o ponto forte, com Andy Robertson e Kieran Tiernay a quebrar linhas. Scott McTominay, por vezes marginalizado no seu clube, tem a confiança de Clarke. A Escócia tem, na verdade, uma abundância de qualidade no meio-campo, o que precisa compensar a falta de um avançado de topo.

A lateral-direita é a área problemática. Aaron Hickey seria o dono da posição, não fosse uma lesão grave que deixou de fora o jogador do Brentford. Nathan Patterson, o plano B de Clarke, também foi forçado a ficar de fora. Esta situação trouxe uma oportunidade a Ross McCorie, do Bristol City, embora Anthony Ralston, do Celtic, tem, moderadamente, mais experiência internacional.

 A turma escocesa de 2024 é bem capaz de quebrar a sua maldição em fases finais, mas devem estar ao seu melhor nível para o fazer. Clarke saberá muito bem disto.

O selecionador

Steve Clarke no sorteio do Euro 2024 (Imago)

Steve Clarke e a Escócia provaram ter um casamento perfeito, depois de uma série de falhanços do país no palco internacional. Clarke, durante tanto tempo um adjunto, destacou-se por mérito próprio no West Brom e, mais tarde, no Kilmarnock. Ao guiar a seleção a europeus consecutivos distanciou-se dos seus antecessores e mudou drasticamente o ambiente que se vive na seleção. Clarke é pragmático e não atura qualquer um. Durante uma longa e celebrada carreira no Chelsea esteve frente-a-frente com alguns dos melhores jogadores da Europa. Foi mais tarde confiado como general do Chelsea por José Mourinho. O português elogiou Clarke como tendo «uma mente futebolística brilhante.»

O ícone

John McGinn IMAGO

John McGinn superou origens humildes em Clydebank para capitanear o Aston Villa na Premier League e tornar-se no jogador mais querido do Tartan Army. Talvez ajude que McGinn não tenha ligação profissional a nenhum dos rivais do Old Firm. É um menino de classe operária que singrou. O faro goleador de McGinn tem-se tornado extremamente importante para Steve Clarke, e o seu riso e entusiasmo contagiam os colegas. McGinn – apelidado de ‘almôndega’ desde a sua juventude, diz que a Escócia está a «viver o sonho» com nova qualificação para um torneio internacional. Muito do que poderá acontecer agora vai depender do seu momento de forma.

Para ter debaixo de olho

Billy Gilmour IMAGO

Parece inacreditável que Billy Gilmour tenha apenas 22 anos, e é fantástico pensar que ainda não temos noção do seu teto como profissional. Gilmour tornou-se peça regular do Brighton, na Premier League, mas a ideia que prevalece é que o médio ainda tem muito mais para dar. Gilmour esteve confinado num quarto de hotel no norte de Inglaterra ao contrair covid-19, pouco depois de alinhar pela Escócia em Wembley, no último Euro. Falhou o último jogo da fase de grupos frente à Croácia, o que acabou por ser uma grande desilusão para os anfitriões em Hampden Park. Gilmour viaja para a Alemanha com algo a provar. Fala-se de uma transferência porque, depois de uma passagem frustrante pelo Chelsea, tem-se provado num nível de elite. É funcional, mas essencial no coração da sala de máquinas de Steve Clarke.

Espírito rebelde

Lyndon Dykes é a opção possante de ataque da Escócia, recheado de tatuagens e originário da Gold Coast. Há apenas cinco anos jogava pelo Queen of the South, na segunda divisão escocesa. A sua ascensão obrigou-o a escolher entre a Escócia, a sua casa adotiva, ou a Austrália. Em criança, Dykes sonhava mais em fazer carreira no râguebi do que propriamente no futebol. Raramente fica sem palavras, incluindo para os centrais adversários. Admitiu uma vez que ficou «chateado» por ter ficado no banco num jogo frente à Ucrânia. No Euro deve partir dessa posição, mas é uma ferramenta interessante para a Escócia.

Lyndon Dykes IMAGO

A espinha dorsal

A decisão de Angus Gunn optar pela Escócia partiu do pressuposto de que seria o n.º 1. Essa posição tornou-se problemática após a retirada de Allan McGregor, e dada a veterania de Craig Gordon. Gunn e Tierney - que joga como central à esquerda numa linha a cinco - serão certamente titulares. McTominay e Callum McGregor - se estiver bem fisicamente - vão jogar no meio-campo. O lugar de McGinn também é garantido, numa posição mais avançada, atrás do ponta-de-lança. Steve Clarke vai ser pressionar para escolher o prolífico Lawrence Shankland para a frente de ataque. Contudo, os movimentos e inteligência de Che Adams farão dele o titular provável. 

Onze provável  

5x3x1x1: Gunn; Ralston, Hendry, McKenna, Tierney, Robertson; McGregor, McTominay, Gilmour; McGinn; Adams.

Adepto famoso

Rod Stewart – de Londres, vejam bem – foi persuadido a favor da Escócia pelo seu pai, e logo se juntou ao mar de gente a invadir Wembley enquanto a Escócia triunfava em 1977. Andy Murray tornou-se numa figura querida do Tartan Army ao admitir que apoia «quem quer que seja que jogue contra Inglaterra» no Mundial 2006. O comentário teve repercussões, o que é uma pena. Todos os cidadãos escoceses diriam o mesmo, e apenas parcialmente a brincar.

Rod Stewart - IMAGO

Petisco

Ao contrário da perceção popular, barras de Mars fritas não são a escolha gastronómica dos escoceses. Na verdade, teria de procurar bastante para encontrar o produto em questão. Haggis é apenas marginalmente mais popular. A tarte – recheada com carne picada – acompanhada com Bovril, é a iguaria futebolística predileta há décadas. As coisas evoluíram nos últimos tempos: carne de kebab pode ser encontrada em tartes, em certos estádios. O que os escoceses não podem fazer nos estádios é beber álcool; é esperado que aproveitem a tolerância alemã nesse departamento.

Texto de Ewan Murray, que escreve para o The Guardian, no âmbito da rede de troca de conteúdo para o Euro 2024 que A BOLA integra.