Entrevista A BOLA: «Esperava que Henrique Araújo e Paulo Bernardo já estivessem num nível diferente»

Benfica Entrevista A BOLA: «Esperava que Henrique Araújo e Paulo Bernardo já estivessem num nível diferente»

NACIONAL15.07.202319:51

Luís Castro, treinador que deixou a Luz no final da época, perdeu a final da Youth League de 2020 e venceu a de 2022. Passaram pelas mãos dele dezenas de jogadores talentosos, mas neste patamar só a qualidade não chega e há quem precise de mais tempo para confirmar o que se espera deles.
 

- Dos jogadores que faziam parte das equipas das quatro finais da Youth League só 8,9 por cento chegaram a jogar com regularidade na equipa principal. Isso é transmitido aos jogadores no processo de formação?
- Eles sabem que é difícil e não dá para todos, mas cada um individualmente acha que pode lá chegar, acredita que vai conseguir. Diria que entre 11 a 20 por cento é um bom número, porque quando sobem não vão estar a competir com a idade deles, mas com 15 idades diferentes. Veja o caso de Morato, Tomás Araújo e António Silva: estão separados por um ano cada um [2001, 2022 e 2003].

- A geração que venceu a Youth League parece ter uma taxa de retenção maior nas equipas acima (B e sub-23). Confirma?
- Sim.

- A que se deve?
- Porque ganhou. Trouxe os jogadores para outra montra. Na final que perdemos com o Real Madrid [2-3], por exemplo, jogámos muito bem, mas a vitória é uma vitrina diferente, até o clube olha de maneira diferente para os jogadores.

- Cher Ndour e Diego Moreira saíram para PSG e Chelsea. Ficou surpreendido?
- Não, porque são os melhores jogadores da Europa na idade deles. Cher Ndour é titular na seleção sub-19 com um ano a menos e Diego Moreira jogou no Europeu sub-21. Tinham muitos pretendentes e não tendo o Benfica conseguido segurá-los com antecedência tudo ficou mais difícil, aquilo que lhe ofereceram são valores muito altos para o Benfica. Se o Benfica não tivesse segurado António Silva podia ter acontecido o mesmo.

- Qual foi a geração mais forte?
- Aquela que teve Rúben Dias, Florentino, Gedson, João Félix [2016/2017]. A geração que ganhou a Youth League [2020/2021] também é muito forte em todas as posições e acredito que podem vir a ser todos profissionais. A geração de 2019/2020 perdeu aquela final num contexto difícil, de Covid. Tiago Gouveia lesionou-se, Nuno Tavares não pôde ir porque já estava em competição com a equipa A. Se tivessem ido, o desfecho poderia ter sido diferente.

- Dos jogadores pertencentes às gerações que foram às primeiras três finais e que hoje já têm idade de jogadores profissionais, apenas 35 por estiveram ou estão em equipas de primeiro escalão. Surpreende-o?
- Esperava mais, sinceramente. Mas isso reforça o que tinha dito anteriormente: estar numa grande equipa de formação não é um selo de garantia para todos. Dou outra vez o exemplo de António Silva: entre ele e centrais de 36 anos há 18 idades diferentes. É por isso que as percentagens baixam.

- Há jogadores que só adquirem a maturidade mais tarde?
- Concordo. Florentino é um desses casos. E depois há também a questão da oportunidade: se Morato não se tivesse lesionado e Lucas Veríssimo não estivesse parado provavelmente António Silva teria jogado na equipa B e hoje muita gente diria que ele ainda não estava preparado para jogar na equipa principal. Eu acreditava que ele e João Neves estariam preparados se surgisse uma oportunidade.

- Qual é a idade máxima para dar o ‘salto’?
- 23/24 anos. Se a explosão não se der até aí, dificilmente acontecerá. Claro que pode sempre haver casos como o de Taarabt, que só acordou aos 28 anos, mas é uma exceção.

- Quais são os jogadores que deveriam estar noutro patamar da carreira?
- Pensava que, nesta altura, Henrique Araújo e Paulo Bernardo já estivessem num nível diferente e mostrassem tudo o que vi neles. Henrique sofreu pelo facto de ser um ano mais novo que Gonçalo Ramos. Se Ramos sair, Henrique explode.

- O empréstimo ao Watford não lhe correu bem.
- Quando se trata de empréstimos ou vendas de jogadores jovens há que olhar muito para o contexto. O Henrique e o Benfica não estariam à espera que o treinador [do Watford] mudasse passado tão pouco tempo e isso não foi benéfico para ele. Considero que nestes casos o contexto nacional é sempre o mais favorável, porque os jogadores conhecem-no e as equipas também, não é só mais um que vai para lá jogar.

- Mas Paulo Bernardo foi cedido a uma equipa portuguesa, o Paços de Ferreira, e também não correu bem…
- Não correu do ponto de vista coletivo porque o clube desceu a houve trocas de treinadores, mas individualmente correu-lhe bem. Tirou mais proveito que Henrique Araújo.

- Tomás Araújo é que aproveitou o empréstimo. Acredita que é desta que ele fica no plantel do Benfica?
- Ele tem todas as condições para ser um central de topo: velocidade, qualidade técnica e capacidade de construção. Só precisa de ajustar a parte mental. Repare: durante a formação ele passou 90 por cento do tempo em posse quando tinha a bola e sempre em cima dos adversários. Quando chega à Liga, as coisas mudam e é preciso mais. Se ele crescer desse ponto de vista e focar-se sempre, não tenho a mínima dúvida de que ele tem qualidade para estar na equipa principal.

- Tomás Araújo precisa de ter a agressividade de Rúben Dias?
- Não é preciso tanto porque ele não tem as características de Rúben Dias, mas se tiver alguma dessa agressividade tornar-se-á um central de topo. Felizmente essas coisas podem ser melhoradas, se fosse ao contrário seria pior. Se ele tivesse duas tábuas nos pés e fosse lento, não havia grande hipótese.