Elfsborg-SC Braga, 1-1 E tudo se foi perdendo no nevoeiro: primeiro a lucidez, depois o controlo (crónica)
Bracarenses, globalmente superiores, conseguiram a vantagem quando isso parecia o mais difícil e acabaram por deixar de ter 'mão' no jogo quando os suecos arriscaram tudo
Fresquinho, mas luzidio, com um relvado sintético a brilhar. Era assim o ambiente quando teve início este Elfsborg-SC Braga. Alguns minutos decorridos e começou a deitar-se sobre a Arena de Boras um nevoeiro bastante aborrecido para quem via o jogo de fora. Equipa de arbitragem e jogadores terão entendido que estavam reunidas as condições — e realmente pareciam, pela forma como todos foram cumprindo as suas funções — e a partida lá prosseguiu, obrigando a esforço redobrado para quem tentava analisar o que se ia passando dentro de campo.
O SC Braga também entrou fresco e luzidio, colecionando duas oportunidades nos primeiros minutos e demonstrando aquela que parece ser uma inequívoca superioridade estrutural sobre os suecos. Com as duas equipas mais ou menos bem encaixadas nos seus modelos de 3x4x3, os portugueses foram quase sempre mais fortes durante a primeira parte, embora não especialmente assertivos. Tinham bola, trocavam-na, chegavam várias vezes perto da área sueca mas demonstravam alguma falta de agressividade ofensiva na hora das decisões. Ainda assim, saiu-se para intervalo com a nítida sensação de que o jogo estava ao alcance do SC Braga.
Carlos Carvalhal trocou de avançado-centro ao intervalo. Mais pela rotatividade que, está visto, gosta de promover nas equipas do que propriamente por subrendimento de Roberto Fernández, foi a jogo El Ouazzini. Gabri Martínez continuou a ser o bracarense mais atrevido, mais capaz de mexer com o jogo, e lá atrás João Ferreira assumia o patronato de uma defesa que foi, gradualmente, sendo sujeita a mais trabalho. A segunda parte transformava-se, entre as brumas, num jogo mais dividido, com o Elfsborg a aproximar-se muito mais vezes da zona de perigo do que fizera na primeira metade.
O Braga foi perdendo gradualmente lucidez na forma como ainda tentava dominar a partida e Carvalhal percebeu isso, injetando o sangue quente de Bruma por troca com Gharbi, corria o minuto 61. Logo a seguir surgiu a primeira grande oportunidade sueca, com um cruzamento-remate de Ouma quase, quase a ser emendado por um colega para a baliza de Hornicek.
Cinco minutos mais tarde, Bruma brilhou entre o nevoeiro: em lance de laboratório, Roger bateu um livre rasteiro para o meio, Bruma deixou a bola passar entre as pernas e Ricardo Horta rematou para golo. E rematou mesmo para golo! É certo que houve uma carambola em Ouma, mas nada, aparentemente, que justifique a atribuição de autogolo ao médio queniano do Elfsborg. Repetem-se, diríamos que semanalmente, lances como este — em que um jogador atacante remata na direção da baliza e a bola embate em alguém antes de entrar — sem que os louros do registo estatístico sejam retirados ao rematador. Assim não entendeu a UEFA, e convenhamos que, perante a perspetiva de vencer o segundo jogo nesta fase da Liga Europa, também não seria essa a maior preocupação bracarense.
Estavam duas substituições a ser preparadas no banco minhoto antes do golo e elas avançaram mesmo: o meio-campo de contenção e ligação, protagonizado por João Moutinho e Vítor Carvalho, foi renovado com André Horta e Gorby. Poderá ter residido aqui, e também na sequência da renovação completa do ataque sueco, a perda de controlo bracarense sobre o jogo. Nem sempre os golos trazem tranquilidade, e digamos que ontem, em Boras, o de Horta (ou Ouma, pronto!) trouxe, isso sim, uma forte motivação ao Elfsborg. Os donos da casa foram em busca da felicidade e tiveram-na, parcialmente. E naqueles minutos finais chegou a temer-se o pior para a equipa portuguesa...