«Direitos TV? A liga vale 180 milhões, 300 milhões, não diria surreal, mas parece-me muito difícil»
Nuno Lobo, presidente da AF Lisboa (Sérgio Miguel Santos/A BOLA)

«Direitos TV? A liga vale 180 milhões, 300 milhões, não diria surreal, mas parece-me muito difícil»

NACIONAL07.07.202409:47

Entrevista A BOLA ao presidente da Associação de Futebol de Lisboa, Nuno Lobo - parte 4

Aos 46 anos, e a terminar o último mandato à frente da AF Lisboa, Nuno Lobo está a preparar o anúncio da candidatura à presidência da FPF, de onde Fernando Gomes vai sair. Num depoimento desassombrado, assume que, como vê em Pedro Proença um homem de honra e palavra, não acredita que seja seu adversário na corrida à Cidade do Futebol, uma vez que se comprometeu com os clubes há menos de um ano…

— Um dos problemas mais complicados no futebol profissional é a diferença de competitividade que existe entre os principais clubes portugueses e aqueles que são os médios e os pequenos. Acha que pode intervir de alguma forma no sentido de aumentar os níveis de competitividade e diminuir estas distâncias?

— Tentei fazer isso, salvaguardando as proporções, em Lisboa. Creio que é necessário melhorar as infraestruturas — em Lisboa foram criados apoios permanentes, umas vezes só da responsabilidade da AFL, outras com a FPF. Por exemplo, não tenho conhecimento que haja uma linha de crédito de auxílio constante aos clubes, não só para apoiar as infraestruturas, mas também a sua atividade corrente. E como se sabe, nos dias de hoje, o recurso à banca, para os clubes, está proibitivo.

 — Uma das coisas que lhe queria perguntar, na sequência deste tema, é se está também a contar com a possibilidade da venda centralizada dos direitos televisivos poder contribuir para a diminuição dessas diferenças entre grandes e pequenos?

— É fundamental que isso aconteça. E aqui vou ter de retornar a uma eventual candidatura de Pedro Proença à FPF. Sendo a centralização um dos temas centrais da sua recandidatura à Liga de Clubes irá fugir daquele que é o seu principal desígnio para entrar noutra via?

— Acredita que até 2028 seja possível atingir os número a que a Liga se propõe obter através da venda centralizada?

— Aquilo que nós conhecemos é um conjunto de estudos e de análises de mercado, que neste momento não têm qualquer especificidade. Não sabemos quanto é que efetivamente vale a Liga Portugal e a Liga Sabseg.  Nos últimos tempos, dos três players que se diz poderem ir a jogo, temos um que está muito calado, mas temos dois que têm tecido comentários muito ferozes àquilo que é o valor que está em cima da mesa. A nossa Liga, os nossos audiovisuais valem hoje cerca de 180 milhões de euros. Parece-me um bocadinho, não diria que surreal, mas pelo menos difícil, chegar aos valores de que hoje se fala, de 300 milhões. Julgo que este é um dos temas que já devia estar resolvido, apesar de a lei dizer que será daqui a três ou quatro anos.

— Sendo a centralização uma das linhas mestras da presidência de Pedro Proença na Liga, como veria se ele abandonasse a Liga antes dessa questão estar concretizada?

— A minha posição deriva daquilo que fui lendo do compromisso que ele fez aos clubes. Ele disse que sairia da Liga em 2028, quando tivesse um conjunto de projetos feitos, mas sobretudo a centralização. Portanto, é por isso que eu intrinsecamente julgo que ele não abandonará, porque foi uma das promessas, aliás foi a principal promessa, que ele fez para se candidatar a um terceiro e último mandato. Não consigo é compreender, repito, como é que ainda temos uma mão cheia de nada naquele que é o projeto estruturante. E mais: hoje temos dados muito objetivos que dizem que a nossa Liga é a décima no ranking europeu. Estamos atrás da Turquia. Pergunto, pois, se os valores que estão em cima da mesa [300 milhões] serão ou não possíveis. Porque podemos ter todas as promessas, todos os projetos, todo aquele show-off mediático que temos visto por aí. Agora, é algo que é inequívoco. Nos últimos 9, 10 anos, o nosso futebol perdeu competitividade, as nossas Ligas profissionais perderam competitividade. Onde é que estávamos em 2015? Onde é que estamos hoje? Em 2015 estávamos internacionalmente melhor do que hoje. Hoje, a nossa Liga passa em 20 e tal países, na altura passava em 40. Os nossos clubes em 2015 não estavam bem, mas hoje estão pior financeiramente e estruturalmente. Assim, acho que a centralização é fundamental.

Obviamente que, se eu decidir avançar e ganhar as eleições, para que fique muito claro, conto com Pedro Proença como o meu vice-presidente, enquanto presidente da Liga, que tem lugar por inerência na Direção da FPF.