A nova Arena Liga Portugal

Dia de eleições na Liga: quem sucede a Pedro Proença?

Realiza-se hoje a eleição para a presidência. Têm a palavra as SAD com assento na Liga Portugal, onde todas são iguais, mas umas são mais iguais que outras: as da I Liga têm dois votos, as da II Liga têm um

Hoje realizam-se, na sede da Liga Portugal, no Porto, entre as 10 h e as 13 h, as eleições intercalares para a presidência do organismo, depois da vacatura originada pela vitória de Pedro Proença no ato eleitoral da FPF. A disputa entre os candidatos Reinaldo Teixeira (lista A) e José Gomes Mendes (lista B) foi acesa e demasiadas vezes ultrapassou os domínios meramente desportivos. No terreno há mais tempo, Reinado Teixeira, presidente da AF Algarve, era o candidato que a comunidade do futebol dava como único, até, impulsionado por FC Porto e SC Braga, o antigo governante socialista José Gomes Mendes, atual presidente da MAG da Liga Portugal, ter decidido avançar e confrontar o líder do futebol algarvio, que também coordena dos delegados na Liga. Numa altura em que o futebol português tem andado pouco pacificado, especialmente a partir do momento em que Pedro Proença falhou a eleição para o Comité Executivo da UEFA, as eleições de hoje na Liga podem, e devem, indicar o rumo que as SAD que disputam as competições profissionais querem seguir, numa altura em que o tema da centralização, nada pacífico, irá dominar o debate até junho de 2026 e não se vislumbra vontade séria de mudar os quadros competitivos, num contexto em que, nos próximos dois anos, a Bélgica pode ameaçar seriamente o sétimo lugar que Portugal atualmente ocupa no ranking da UEFA. Mais do que escolher um presidente, o que está em causa é escolher uma via para sair de um marasmo em que a venda dos direitos televisivos não é feita de forma centralizada e a macrocefalia do nosso futebol continua a atrofiar aquela que devia ser a classe média da I Liga, que vai registando números de espetadores paupérrimos.

AS IDEIAS DOS CANDIDATOS

Durante a campanha eleitoral para a liderança da Liga Portugal, A BOLA entrevistou os dois candidatos e o que é apresentado a seguir traduz o pensamento de cada um, nas suas próprias palavras, sobre matérias relevantes para o futuro do futebol profissional em Portugal.

Reinaldo Teixeira (Lista A)

Reinaldo Teixeira foi entrevistado nas instalações de A BOLA (foto: Maycon Quiozini)
Reinaldo Teixeira foi entrevistado nas instalações de A BOLA (foto: Maycon Quiozini)

Reinaldo Teixeira, 61 anos, é um dos mais proeminentes empresários algarvios, nas áreas da habitação e do turismo, está na Liga, onde é atualmente o Coordenador dos Delegados, há quase 30 anos e é ainda presidente da Associação de Futebol do Algarve.

PORQUÊ

«Tenho uma história empresarial de 42 anos, os quase 30 anos em que estou na Liga, onde já assisti a mais de 1500 jogos, fazem com que perceba as Sociedades Desportivas (SAD), e entendi que, nesta fase tão importante do futebol profissional, poderia acrescentar valor. Fui incentivado e desafiado, e achei por bem, abrir essa porta».

MISSÃO

«Mas valerá a pena lembrar que o modelo de gestão da Liga dita que o Presidente e a sua Direção Executiva estudam, apreciam, propõem, e as SAD decidem. Compete-nos avaliar, ter indicadores de gestão, ter informação, sensibilizar para o caminho que achamos que é o melhor, e depois acatar a decisão das SAD».

VITÓRIA

«Entreguei, na quarta-feira passada, o dossier da candidatura com 17 subscritores, ou seja, metade das SAD com presença na Liga, que, como sabe, são 34. Mas, à parte disso, várias SAD garantiram-me o seu apoio, mesmo sem terem subscrito a candidatura. Tenho razões, pois, para estar muito confortável e confiante de que no dia 11 de abril sairei vencedor».

PARTIDOS

«No meu caso, posso dizer, com toda a sinceridade, que tive a honra de ser convidado por vários partidos, para vários cargos políticos. Nunca aceitei, nem sou filiado em qualquer partido. Essa circunstância dá-me liberdade para poder estar à vontade para negociar, já que alguns dossiers têm de ser muito articulados, entre Liga, Federação e Governo».

QUADROS COMPETITIVOS

«O grande foco está em conseguirmos que os nossos quadros competitivos sejam cada vez mais pujantes, mais capazes, para que as nossas equipas que estão nas competições europeias possam com lutar com as melhores até ao apuramento dos campeões. A centralização é o início, não o fim. E o caminho a ser feito passa por valorizar a competição e criar melhores infraestruturas».

ESPECTADORES

«Eu, como espectador, tenho de me sentir confortável para consumir o espetáculo. O jogador tem de contribuir para esse espetáculo. O treinador tem de incentivar para que as suas equipas tenham comportamentos que valorizem o espetáculo. A decisão dos árbitros tem de defender o tempo útil do jogo. O VAR não pode ter minutos para poder decidir. Acredito que a centralização vem ajudar e vem contribuir para a implementação de várias medidas, que, no fundo, vão ajudar a que isso aconteça. Trata-se de um compromisso em que devemos todos refletir».

CENTRALIZAÇÃO

«Sim, sou a favor. Somos pessoas de bem e há um decreto-lei para cumprir. E ou nós somos capazes de fazê-lo internamente, com os ajustes que temos de ter, ou alguém o faz por nós. Sei bem quanto, nesta fase inicial, é difícil o dossier da chave de distribuição do dinheiro. Tenho a noção clara do que é que me espera, das dificuldades que vou sentir e passar, mas também seria injusto se não dissesse que sinto nas SAD a consciência de que esse é o caminho. Compete-nos a nós a capacidade de sensibilizar, para que possa-se fechar o dossier que em junho de 2026 deve entregue à Autoridade da Concorrência».

José Gomes Mendes (Lista B)

José Gomes Mendes, candidato à presidência da Liga, entrevistado nas instalações de A BOLA (foto: Ivo Martins/A BOLA)
José Gomes Mendes, candidato à presidência da Liga, entrevistado nas instalações de A BOLA (foto: Ivo Martins/A BOLA)

José Gomes Mendes, 63 anos, professor universitário, ex-secretário de Estado na área do Ambiente nos Governos de António Costa, ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral do SC Braga, ocupa a presidência da mesa da Assembeia Geral da Liga Portugal.

PORQUÊ

«Houve uma motivação pessoal, que é a paixão pelo desporto, e neste caso pelo futebol profissional, onde estou envolvido já há bastantes anos. Depois, existiu uma motivação circunstancial, que tem a ver com o facto de entender que hoje, o futebol português, fruto das suas próprias circunstâncias, mas também dos desafios europeus que enfrentamos, está num momento charneira. Quer isto dizer que entendo que se tivermos o projeto errado e tomarmos as decisões erradas, agora, corremos o risco de ser uma Liga absolutamente periférica. Se tomarmos as decisões certas, e para isso fizemos o nosso diagnóstico, podemos fazer regressar a Liga portuguesa àquilo que eu entendo ser o seu lugar natural, que é estar a olhar para as cinco de cima ,e não a olhar para trás».

MISSÃO

«A minha tese é que temos que fortalecer a classe média, que é quase inexistente. E devemos fazê-lo sem fragilizar os clubes de topo, porque convém não esquecer, que a principal fonte de receita da nossa Liga são as receitas das competições europeias, e não podemos avariar a locomotiva do nosso futebol. O dinheiro que vem das competições europeias não é só para os clubes que nelas participam, é para o ecossistema todo, vai até à II Liga. O projeto tem de ser puxar pelos outros, sem fragilizar os maiores».

VITÓRIA

«Pela nossa última avaliação, estou em crer que já temos a maioria dos clubes alinhados com o nosso projeto».

PARTIDOS

«Devemos ser capazes de trabalhar para além da tutela apenas do Desporto. Somos uma indústria, um setor económico e como agentes económicos nós temos de falar com o Ministério da Economia e com o Ministério das Finanças, diretamente. Bom, eu aí, sem qualquer vaidade, com a experiência política que tenho, já o fiz com muitos setores».

QUADROS COMPETITIVOS

«Não podemos ter ideias pré-definidas, porque no fim são os clubes a decidir. Mas posso adiantar que o meu ponto de partida não é reduzir o número de clubes, nem é esse o meu ponto de chegada, e a haver redução teria de ser sempre na base de um consenso alargado».

ESPECTADORES

«Não consigo reescrever a história. Portanto, só tenho de olhar para a frente. Temos alguns défices substanciais, como referiu, por exemplo, em assistências. O que acontece é que, de facto, temos condições de contexto que não atraem pessoas. A experiência do adepto e as condições para a valorização audiovisual do produto, não podem ser boas quando a infraestrutura é má. E isto não se muda de hoje para amanhã».

CENTRALIZAÇÃO

«Uma coisa é haver centralização, outra é qual será o modelo. No que depender de mim, vai acontecer. Temos o modelo definido até 2026, e teremos a implementação a partir de 2028. E digo que vai acontecer porque está na lei, e porque é bom para todos. Agora, há dificuldades, e é preciso encontrar terreno de negociação, pois alguns clubes defendem a sua dama. É esse o papel deles, não é?»